O Certo.

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30 DE JULHO DE 2024.
08h46.
PARIS, FRANÇA.

  As batidas fortes e incessantes na porta do quarto foram o único alarme capaz de arrancar Kei do sono pesado em que estava mergulhado. Acordou com a cabeça latejando, o corpo pesado como chumbo, enquanto a luz do sol invadia o quarto em listras severas, agredindo seus olhos inchados. Aos poucos, os fragmentos da noite passada foram se recompondo em sua mente: a bebida que queimava a garganta, as palavras soltas no calor do momento, os olhares, os gestos... cada lembrança o fazia se afundar mais na sensação de arrependimento. Kei tentava cambalear, mas suas pernas trêmulas ameaçavam ceder a qualquer momento, como se o peso do próprio corpo fosse insuportável.

   Com passos pesados e hesitantes, ele arrastou-se até a porta, os músculos tensos a cada movimento. Quando finalmente girou a maçaneta e a abriu, quase como num ato automático, voltou-se rapidamente para a cama, ignorando quem quer que fosse a presença do outro lado. O som de passos firmes invadiu o ambiente, preenchendo o quarto com uma tensão palpável. Antes que Tsukishima pudesse fechar os olhos, tentando se agarrar ao conforto do sono, uma voz familiar – uma que conhecia melhor que sua própria – ressoou no ar, cortante e inconfundível.

— Tsukishima, que porra está acontecendo contigo? Cara, vai dar nove horas! Você tem um jogo de dez horas da manhã, era pra você estar treinando há 3 horas atrás! — Yamaguchi bradou irritado, chacoalhando o loiro na cama. — O Iwaizumi me ligou PUTO! Eu nem sei como ele tem meu número!

  Tsukishima soltou um grunhido, desconsiderando completamente o que o amigo dissera. Virou o rosto para o outro lado, ajustando-se no travesseiro com uma expressão de desdém, determinado a voltar a dormir. Tadashi, porém, ficou estupefato diante daquela atitude. Sua boca se abriu em um gesto involuntário de choque, os olhos arregalados refletindo a indignação. Ele lançou um olhar incrédulo em direção à esposa, que observava tudo a poucos passos de distância, parecendo tão surpresa quanto ele.

— TSUKISHIMA KEI — Yamaguchi bradou novamente, puxando o loiro da cama.

   Tsukishima caiu no chão frio do quarto, e só então pareceu despertar para a realidade que o cercava. Piscou algumas vezes, ainda atordoado, uma mistura de confusão e indignação dominando suas feições. Com movimentos hesitantes, estendeu a mão para a cômoda, procurando os óculos, e os colocou no rosto, embora a luz ainda agredisse seus olhos, forçando-o a semicerrar as pálpebras. Tadashi, ao lado, estava com o rosto tomado de um rubor intenso, claramente transbordando de raiva, enquanto Hitoka o observava. Seu olhar refletia uma estranha combinação de pena e irritação, como se a situação despertasse nela um misto de raiva e desapontamento.

— Você ouviu o que eu disse?! São quase nove horas da manhã! Chega dessa depressão porque você não está mais namorando o cara que você mesmo deu um pé na bunda! Tsukishima, ninguém mais tá te reconhecendo! — Tadashi disparou irritado, enquanto Kei procurava seu celular.

   Uma parte de sua tristeza vinha, sem dúvida, da separação de Kuroo, o amor de sua vida — isso era evidente. No entanto, o principal motivo permanecia desconhecido por todos: sua doença. Tsukishima respirou fundo, esforçando-se para manter a calma e não deixar que suas palavras traíssem o segredo sobre sua condição.

— Se eu tivesse tão atrasado assim, eu tenho certeza que o Iwaizumi teria me ligado. Você tá exagerando — Tsukishima retrucou, finalmente encontrando o celular e ligando ele. Haviam quarenta e sete chamadas perdidas de Iwaizumi, ele engoliu em seco. — Merda… Eu preciso me arrumar.

— Tsukishima, o Tadashi tem razão. Você não sai desse quarto pra nada. Seus filhos passam mais tempo construindo memórias em um país estrangeiro pela primeira vez do que você! E pior do que isso, eles estão construindo memórias com todos, menos com o próprio pai! — Hitoka esbravejou, caminhando em direção ao loiro.

𝐅𝐎𝐑𝐄𝐕𝐄𝐑 & 𝐀𝐋𝐖𝐀𝐘𝐒 • KuroTsukiOnde histórias criam vida. Descubra agora