Capítulo 5

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O farfalhar do vento trazia o doce aroma de terra molhada, o bater das folhas entre si rufava como tambores em seus ouvidos. Ao longe, ouviu a queda da cachoeira que ficava a uns mil metros de distância, na sequência veio o barulho das corujas que emitiam seu eco para a lua que chegará em seu ápice, ouviu também, mais adiante, o barulho de um lobo solitário pisando nas folhas.

Sentiu o contínuo movimento de rotação da terra e sem abrir os olhos, percebeu os raios de luz noturna que refletidos pela lua cruzavam a copa das árvores e atingiam seus braços.

E então as sensações passaram. Teve certeza de que conseguira.

Abrindo os olhos, contemplou o total silêncio e se levantou. Virando para onde antes estava sentado em estado de concentração, observou seu corpo carnal, seu cabelo negro jogado para frente em um corte no estilo dos humanos, a pele pálida como a de um humano. Por um instante se lembrou do passado, se viu em sua real forma, seu luminoso mostrando ao fundo uma grande e brilhante nebulosa, que ao observar atentamente se podia enxergar a gigantesca forma de dois anjos em sua verdadeira forma, com imensas asas de nuvens de gás presas as costas.

Ainda pensando no passado, observou os imensos carvalhos que o cercava, sorriu ao se ver pequeno entre eles e se lembrar de como se sentia pequeno ao lado de seu povo.

Virando novamente, sentiu o chamado e abandonando seu corpo carnal afastou os pensamentos e seguiu em frente.

Ao caminhar alguns metros, sentiu sua energia perpassando para fora de si, aos poucos sentiu o mundo astral se revelando a sua volta, ali pode enxergar as incontáveis formas que andavam livres pela mata, sem que elas pudessem vê-lo, prosseguiu.

Ao chegar em uma clareira, marcada pelos vestígios de um antigo templo visível somente pelo mundo astral, dirigiu-se ao seu centro e esperou.

Após o que se pareceram horas, sentiu a vibração e a sua frente viu surgir do que pareceu um rasgo entre o vazio o seu velho mestre, Iohanan.

_ Eu o encontrei. - Se adiantando, soltou as palavras e esperou que o velho demonstrasse alguma emoção. Vendo que ele não iria reagir, continuou. - Eu posso trazê-lo, hoje mesmo, agora que as barreiras caíram não teremos escolha.

_ Não, ele deve permanecer neutro, longe de tudo, até que chegue o momento e ele realize a sua escolha.

_ Mas, eles podem encontrá-lo agora. Ele está desprotegido.

_ Ele está seguro, enquanto permanecermos distante ele não será afetado, não podemos intervir.

_ Mas...

_ Suas proteções estão além de barreiras energéticas. Ele está seguro e até que ele desperte e aceite o seu caminho, nada podemos fazer. Ele merece a chance de escolha.

Se virando impassível, passou a contemplar o vazio enquanto seu velho mestre o observava.

Após um novo momento de silêncio sentiu seu peito arder e voltou a falar.

_ Não consigo vê-lo longe, esperei por todo este tempo e agora que tudo está desmoronando, precisamos dele, eu sei o que pensa, mas, não posso acreditar que ele se entregou ao vazio só para ser um deles, porque ele desistiria. Eu sei que ele era bom, não posso acreditar que de alguma forma, ele se viu diferente, eu o conheço

_ De toda a criação você deveria ser o último a dizer isso. Curioso não acha?

_ Essa é a resposta que tem para mim? Então por isso me chamou, achou que eu iria quebrar os selos. Achou que eu seria capaz disso.

_ Eu diria que um Requiem não faria isso. Não preciso impedi-lo, confio que você dará a ele a chance de escolher estar nessa guerra ou não, de qualquer forma, a decisão sempre foi sua, curioso não acha? De alguma maneira, esses selos podem ser abertos especificamente por sua raça. Não, não foi por isso que o chamei, eu sinto Attom, mas trago dor, algo que sei que diferente dos demais Requiens você pode sentir. E são eles o motivo de eu estar aqui.

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