Capítulo 4

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O sussurro da chuva que batia nas janelas do Hotel Leblans vinha cessando junto as nuvens que já se dissipavam dando lugar a um céu estrelado iluminado por uma enorme lua cheia.

Na entrada, um homem de estatura mediana chamava a atenção ao chegar em um carro sporting junto a um enorme cachorro que mais se assemelhava a uma raposa-polar do que um cão em si. Usando uma capa que parecia cobrir algum tipo de couraça de couro, o estranho permaneceu despercebido frente a presença do animal que avançou pelo saguão despertando ainda mais a atenção e o medo de todos frente ao seu tamanho. Diante da cena, um segurança que os observava fez menção de se aproximar, mas bastou o imenso animal virar o focinho para que ele recuasse.

Sem ser notado, o homem entregou as chaves do veículo a um funcionário do hotel que se aproximou tentando absorver o momento e seguiu para a recepção onde pigarreou por atenção.

_ Com licença, creio que tenha uma hóspede me esperando. Gostaria de ser anunciado senhores.

Desviando os olhos do animal, um dos atendentes o olhou de cima abaixo, sua fala soou tensa enquanto tentava se recompor da cena.

_ Ah, senhor, seu animal. Ele. É?

_ Não entendi, pensei que o hotel permitisse, cachorros?

_ SIM, Sim, mas, ele é um cachorro?

_ Ah, é um bobão, não precisa ter medo. - Virando o rosto, o homem olhou nos olhos do animal que pareceu retribuir o olhar e rapidamente se aproximou recostando em seus pés como se aguardasse. - Agora vamos, meu tempo é curto. Preciso que me anuncie, é na cobertura.

_ Como? Desculpe senhor, mas o hóspede da cobertura não deseja ser incomodado.

_ Sim, imagino que isto seja ordens da senhorita Namelles, agora por favor faça.

Com um olhar relutante, o atendente olhou para um companheiro ao seu lado que brevemente fez um gesto e se voltou ao estranho.

_ E como deveria anunciá-lo?

_ Ars Kariel.

_ Desculpe, o que?

_ Hmm, talvez já não ouça muitos nomes como esse, vejamos é Kariel.

_ Não, não mesmo. É, eu vou, vou anunciá-lo, só um momento.

Voltando ao seu lugar, o atendente discou três números em um telefone e aguardou.

_ Boa noite senhorita, há um... - olhando de volta ao estranho homem e seu cachorro, colocou o telefone em seu lugar e se voltou a eles - pode subir senhor, ela está esperando.

_ Obrigado, não se preocupe, eu sei o caminho.

Deixando o atendente que ainda dizia algo, o homem avançou para um corredor seguido pelo cachorro e entrou em um elevador vazio que parecia aguarda-lo.

Assim que chegou à cobertura, Kariel sentiu a mudança do ambiente, a magia que por anos embaçou seus sentidos impedindo que localizasse sua protegida enfim se desfizera. Saindo do elevador, se guiou por alguns corredores usando a energia que ele agora sentia até dar em uma porta aberta na qual se dirigiu. Lá dentro, encontrou um quarto iluminado pela luz que vinha de uma janela aberta e que caia contra uma poltrona ao canto onde uma mulher de face serena, cabelos prateados como a lua e intensos olhos de mesmo tom o observava. Se erguendo, a mulher viu o animal avançar para ela e rapidamente o segurou pelas patas da frente que a embalaram como se em um abraço. Ambos logo se soltaram e fixaram a olhar como se revivessem algo. 

_ Pensei que não fosse mais vê-la, minha senhora. - A voz rouca do animal soou profunda e foi recebida por um largo sorriso da mulher.

_ Eu temi por isso Hack, há quanto tempo velho amigo.

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