PRINCIPIUM

Capítulo 15

Por milênios, toda a criação esteve contida em uma única dimensão, isso foi no princípio, quando toda a energia da criação ocupava espaços vazios pelo cosmos recém criado. Este foi o primeiro tempo, quando seres de pura energia foram moldados a partir de reflexos de uma Luz Ancestral em berços cósmicos, os denominados Anjos, a primeira dentre as raças.

E então sobreveio a divisão, tudo fora preenchido e agora separado sob camadas, todos os planos e mundos tão distantes uns dos outros quanto as pontas do universo, mas próximos o bastante para que com apenas um toque pudéssemos acessá-los. Assim nasceram as dimensões e junto delas os Conciliuns, a segunda raça.

Oito dimensões foram criadas em particular, e perpendicular a elas, dobras, como bolhas de ár. Em um desses bolsões que um anjo envolto em energia escarlate acabara de cruzar. Aquela fora uma dimensão vazia a princípio, mas outrora quando o mundo era verde, Anjos a tomaram para si. Se alimentando da fé que a alma humana depositava sobre eles, o moldaram criando seus próprios Edens, por eras, estes alimentaram o conhecimento humano com os segredos do cosmo, da energia e da criação, grandes foram as civilizações que nasceram a partir deles, mas o que a princípio fora uma forma de instruir a sexta raça, com o tempo se mostrou um incrível amplificador de energia. A alma humana é poderosa, e quando age em conjunto, como um único pensamento, é capaz de feitos que nem mesmo os Arcanjos alcançariam.

O poder sempre corrompeu, do mais forte ao mais pequeno. Muitos foram os Anjos que abandonando os Céus se viram como deuses, com a adoração humana, se tornaram fortes e arrogantes, logo já não bastava ensinar, junto ao poder que a alma de seus adoradores lhes proporcionava, vieram os sentimentos e assim se sentiram tentados a tocar a carne humana. A primeira das variantes, uma nova raça de seres meio humanos e meio anjos nasceu.

Foram tempos sombrios, como se um novo lado fosse posto sob um jogo de xadrez. Guerras nasciam em todos os lados, e a raça humana começava o seu declínio ao fracasso. Por fim, todas as gerações foram corrompidas pela magia proporcionada pelos antigos Anjos que agora se intitulavam deuses. Um único lugar na terra ficara livre daquela subversão uma ilha habitada por Anjos que se mantiveram fieis ao Criador e por humanos que comungavam uma preciosa ligação com a luz, a ponto de desabrocharem em si com o toque de um Anjo, uma variação da Luz. Estes foram os tempos que anteciparam a grande inundação, os tempos em que uma verdadeira guerra santa atingira o seu auge, abrindo um rombo que permitiu a passagem dos Caídos do Inferno para a terra. O que fez com que O Criador lavasse toda a terra e a purificasse com água.

A mesma água que tomou o lar da sexta raça, varreu os remanescentes deuses que ainda habitavam a terra para a dimensão que um dia tomaram para si os aprisionando junto a todos os anjos que como eles desceram para a terra a fim de guiar os humanos como guardiões, mas que se corromperam e em sua luxúria e se disseram deuses. 

Enquanto toda essa limpeza chegava ao fim e a sexta raça se vira prestes a ser extinta, algo foi acendido No Criador pelos últimos Homens fazendo com que ele se decidisse por eles. Ali se iniciou a maior batalha que o Cosmos veria até o irromper da última guerra. Uma batalha que arrancou o próprio Lucifer de seu palácio no núcleo do Inferno para a luta. E foi enquanto essa guerra ocorrera que O Criador teceu um véu e o estendeu sobre o plano que existe sobre todo o Cosmos, o deixando mais pesado, abreviando a vida da sexta raça e fechando para eles a conexão com a alma e seus olhos para todo o seu gigantesco passado. 

Nesse momento que os antigos Anjos presos naquela dimensão perceberam que as adorações humanas já não podiam alcança-los, por eras tentaram o contato com a sexta raça, mas vendo que o poder proporcionado por eles já não viria, se fecharam de vez em seu mundo.

Agora viviam sob as sombras de suas próprias prisões de mármore, longe de todos os mundos e do poder que um dia tiveram, abandonados sem que pudessem voltar a terra como antes ou aos Céus. Aquele se tornara um mundo amaldiçoado, e era nele que Fertylla surgira.