Os Humanos

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Lá fora, um dia ensolarado e quente acima do normal fazia com que todos buscassem a sombra mais próxima para se esconder. Enquanto adentrava o café, o velho com uma roupa preta surrada observou cada um dos ocupantes que se perdiam em suas conversas e celulares sem que notassem a sua entrada. Alguns jovens no canto tinham uma aura colorida, ao fitá-los sentiu repulsa, limpos demais, de alguma forma conectados a energia da vida que corria pelo Cosmos. Ao lado, uma família com uma criança tomava o que parecia sorvete, a criança, rescindindo luz parecia se divertir, atrás dela, refletido pela energia que saia de seu pequeno corpo, era possível perceber os contornos de um anjo, seu guardião. Seus pais, envoltos em uma energia escura pareciam ocupados demais em seus aparelhos celulares para se darem conta do que estava por vir.

Ao fundo ouviu uma voz e ao se virar viu uma garçonete com uma energia tão escura que se sentiu tentado a pular sobre ela ali mesmo. Se aproximando, notou que ela lhe indicava uma mesa do outro lado dos demais.

_ Gostaria de ficar um pouco mais próximo à entrada, se não se importa. - A voz do velho soou rouca e arrastada em um sotaque do qual a garçonete não reconhecera.

Além disso, algo na estranha figura lhe causava repulsa, talvez seu cheiro, doce demais, ou suas feições profundas, como se não se alimentasse e descansasse a dias.

_ Claro, pode se sentar ao lado da família. Já levo o seu cardápio, quer um café por enquanto? - Tentando soar simpática indicou ao estranho uma mesa vazia próxima ao casal.

O velho sorriu revelando dentes amarelos, novamente sua fala veio causando novos arrepios na garota. Seus olhos negros pareceram vazios naquele momento, e seu sorriso nada humano, existia algo mais ainda, era como se o entorno dele estivesse envolto em algo que tornava o ar a sua volta escuro, quase sem o brilho da luminosidade que vinha das janelas.

_ Ah querida, sem café. Detesto o calor, como vê la fora o clima não está nada agradável. Talvez algo gelado, fresco, algo forte. Ah sim. Você poderia me servir. Vou me sentar.

Se virando, o velho deixou a garota ainda mais assustada, mas ao chegar à mesa permaneceu a fitando. Constrangida a garota se afastou pelos fundos e momentos depois retornou com um cardápio velho em mãos. Estendendo o ao velho permaneceu parada enquanto ele o observava.

Em um televisor ali próximo, homens discutiam como se fossem especialistas em guerra. Algo parecia ter mudado, alguma nova notícia dentre as tantas que agora surgiam a cada segundo. Por um momento a camera cortou para uma jornalista que mantinha uma expressão tão carregada de terror, que fez com que todos ali dentro se voltassem para o aparelho. 

Enquanto a jornalista começava a falar algo sobre um vírus, alguma interferência pareceu chegar até o sinal do aparelho e tanto o seu audio quanto a sua imagem se perderam em meio a chuviscos.

Assustados, todos se viram despertos ao ouvir a voz do velho os chamando a realidade.

_ Esses aparelhos de hoje em dia, tão frágeis. Alguns dizem que o sinal tem se perdido devido as explosões solares, que lindo não acham.

Sem que o respondessem, todos desviaram os olhos e se voltaram para suas mesas. A garçonete fez menção de deixa-lo, mas então sua voz se elevou para ela.

_ Ah que pena, não encontrei nada fresco em seu cardápio, nada que me abrisse o apetite. Sabe, passei tantas eras la embaixo, acho que nem me lembro como me alimentar. Não temos comida por lá, é tudo tão sem graça, escuro, agradável, tão mais profundo, reconfortante. Que tal me servir essa podridão que carrega? Ah, seu sangue vai ser agradável a meus lábios. - Abrindo a boca, uma lingua negra, como de cobra correu pelos lábios do velho.

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⏰ Última atualização: Oct 15 ⏰

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