Capítulo 17

36 2 0
                                        

O silêncio parecia lhe pressionar os ouvidos enquanto suas mãos se apertavam em um esforço para conter sua energia. Lá fora, soldados faziam uma busca pela floresta, ele podia senti-los.

Levou minutos para que eles se distanciassem o bastante para não representar algum risco e ele enfim relaxar.

Olhando em volta percebeu como a velha forja de seu pai agora parecia abandonada, quando criança e adolescente, passara muitas horas ali, aquela seria a sua vida se a guerra não o tivesse arrastado após a morte de seu pai. 

Na morte de seu pai, aquela fora a última vez que esteve ali, um forte construído no subsolo de uma velha floresta que circundava a grande Cidade Matriz, a capital dos Nocdie no planeta Darthia, o lar da quarta raça, seres criados no quarto dia, a partir da energia escura e da luz, seres matrizes com a habilidade de converter a energia luminosa nas trevas, ou as trevas na luz.

_ Aqui estou eu novamente. - Sua fala era pesada, mas de alguma forma solene, sem transmitir sentimentos. - Preciso esconder a lança. - Olhando em volta, fitou o baú negro que trouxe consigo e olhando em volta sentiu uma ideia aflorando em sua cabeça, o que o fez coçar a rala barba escura que emoldurava o seu rosto de mesmo tom, cobrindo parte dos símbolos que corriam em sua face e desciam por todo o corpo, runas de poder.

Procurando em volta, começou a encontrar peças que logo foram encaixadas em uma espécie de forno. Com um pouco de seu poder, fez brotar uma energia branca de suas mãos, como se sugada, a energia correu em direção a algumas pedras que emolduravam o forno, como uma segunda panela. Assim que o faixo de energia atingiu as primeiras pedras, seu brilho foi atirado para o lado, impulsionado por um campo de energia que o mineral das pedras formava em contato com a luz, gerando uma espécie de orbita para a energia que girava em extensa velocidade aquecendo a panela interna do forno. Logo todo o metal rescindiu como se prestes a derreter.

Vendo que o forno estava pronto, o jovem Nocdie se apressou por uma das despensas da forja e após muita busca voltou com um barril pouco menor que a panela do forno, totalmente preenchido por metal élfico, uma das ligas mais resistentes já descoberta entre os mundos. Rapidamente ele se apressou em retirar a peça de metal do barril e introduzi-la no forno. Só após algumas horas o metal começou a se desfazer como uma poça de liquido prateado.

_ Se funcionar. A energia que as duas armas poderiam canalizar como uma unica. E o melhor, as trevas jamais poderiam tocá-la. - Correndo pelos degraus que levavam ao nível acima, o Nocdie atravessou alguns corredores até alcançar a principal sala do velho forte. Ali, correu os olhos pelas paredes até encontrar o que buscava. Pendurada sobre a lareira, uma espada de lâmina branca e empunhadura dourada, como ouro liquido, parecia rescindir como se possuísse sua própria fonte de luz. 

Se aproximando da arma, ficou a fitá-la por um momento, logo percebeu seu reflexo, sua face demonstrava fascínio, mas também medo, curiosidade. 

_ Você era a espada de um anjo. - Como se aguardasse alguma resposta, o Nocdie esperou em silêncio por um instante. - Se eu acertar o ponto, talvez com o metal élfico eu possa derrete-la. Se funcionar, poderia usá-la para revestir a lança. A energia que ambas poderiam gerar, uma arma como essa poderia mudar os rumos da guerra.

Retirando a espada de seu suporte, levou-a consigo para a forja. Por um momento, tocou na lâmina e como se falasse com ela novamente, pediu a sua permissão.

Após isso, mergulhou a lâmina branca no metal liquido que começava a incandescer com uma luz prateada. Por três voltas de seu planeta, o Nocdie se manteve firme injetando sua própria energia para manter o campo de força que aquecia o forno, três longas voltas em que se viu esgueirando pela cidade buscando alimento e aumentando ainda mais o seu propósito.  Lá fora já não existia nada para ele, mas ali, naquela forja ele via esperança.

PRINCIPIUMOnde histórias criam vida. Descubra agora