O silêncio parecia lhe pressionar os ouvidos enquanto suas mãos se apertavam em um esforço para conter sua energia. Lá fora, soldados faziam uma busca pela floresta, ele podia senti-los.
Levou minutos para que eles se distanciassem o bastante para não representar algum risco e ele enfim relaxar.
Olhando em volta percebeu como a velha forja de seu pai agora parecia abandonada, quando criança e adolescente, passara muitas horas ali, aquela seria a sua vida se a guerra não o tivesse arrastado após a morte de seu pai.
Na morte de seu pai, aquela fora a última vez que esteve ali, um forte construído no subsolo de uma velha floresta que circundava a grande Cidade Matriz, a capital dos Nocdie no planeta Darthia, o lar da quarta raça, seres criados no quarto dia, a partir da energia escura e da luz, seres matrizes com a habilidade de converter a energia luminosa nas trevas, ou as trevas na luz.
_ Aqui estou eu novamente. - Sua fala era pesada, mas de alguma forma solene, sem transmitir sentimentos. - Preciso esconder a lança. - Olhando em volta, fitou o baú negro que trouxe consigo e olhando em volta sentiu uma ideia aflorando em sua cabeça, o que o fez coçar a rala barba escura que emoldurava o seu rosto de mesmo tom, cobrindo parte dos símbolos que corriam em sua face e desciam por todo o corpo, runas de poder.
Procurando em volta, começou a encontrar peças que logo foram encaixadas em uma espécie de forno. Com um pouco de seu poder, fez brotar uma energia branca de suas mãos, como se sugada, a energia correu em direção a algumas pedras que emolduravam o forno, como uma segunda panela. Assim que o faixo de energia atingiu as primeiras pedras, seu brilho foi atirado para o lado, impulsionado por um campo de energia que o mineral das pedras formava em contato com a luz, gerando uma espécie de orbita para a energia que girava em extensa velocidade aquecendo a panela interna do forno. Logo todo o metal rescindiu como se prestes a derreter.
Vendo que o forno estava pronto, o jovem Nocdie se apressou por uma das despensas da forja e após muita busca voltou com um barril pouco menor que a panela do forno, totalmente preenchido por metal élfico, uma das ligas mais resistentes já descoberta entre os mundos. Rapidamente ele se apressou em retirar a peça de metal do barril e introduzi-la no forno. Só após algumas horas o metal começou a se desfazer como uma poça de liquido prateado.
_ Se funcionar. A energia que as duas armas poderiam canalizar como uma unica. E o melhor, as trevas jamais poderiam tocá-la. - Correndo pelos degraus que levavam ao nível acima, o Nocdie atravessou alguns corredores até alcançar a principal sala do velho forte. Ali, correu os olhos pelas paredes até encontrar o que buscava. Pendurada sobre a lareira, uma espada de lâmina branca e empunhadura dourada, como ouro liquido, parecia rescindir como se possuísse sua própria fonte de luz.
Se aproximando da arma, ficou a fitá-la por um momento, logo percebeu seu reflexo, sua face demonstrava fascínio, mas também medo, curiosidade.
_ Você era a espada de um anjo. - Como se aguardasse alguma resposta, o Nocdie esperou em silêncio por um instante. - Se eu acertar o ponto, talvez com o metal élfico eu possa derrete-la. Se funcionar, poderia usá-la para revestir a lança. A energia que ambas poderiam gerar, uma arma como essa poderia mudar os rumos da guerra.
Retirando a espada de seu suporte, levou-a consigo para a forja. Por um momento, tocou na lâmina e como se falasse com ela novamente, pediu a sua permissão.
Após isso, mergulhou a lâmina branca no metal liquido que começava a incandescer com uma luz prateada. Por três voltas de seu planeta, o Nocdie se manteve firme injetando sua própria energia para manter o campo de força que aquecia o forno, três longas voltas em que se viu esgueirando pela cidade buscando alimento e aumentando ainda mais o seu propósito. Lá fora já não existia nada para ele, mas ali, naquela forja ele via esperança.

VOCÊ ESTÁ LENDO
PRINCIPIUM
Ficción GeneralAs bombas caiam de forma sincronizada. Para aqueles distantes das grandes cidades, foi uma bela visão, uma daquelas que sempre nos arranca o fôlego ao lembrar. Para aqueles que ardiam em chamas, o Inferno se tornava real. Os gritos vinham de todos...