Capítulo 9

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Uma fria brisa corria entre os galhos das frondosas arvores que cresciam em direção aos céus cobrindo uma área que se perdia no horizonte. Alguns raios de luz ainda podiam ser vistos na copa de algumas árvores, a segunda das duas estrelas que cercavam o planeta Darthia se punha no horizonte além da imensidão de árvores e breve, apenas um céu carregado por uma densa e escura nuvem que se formava na longa noite que aquele lado do planeta agora mergulhava.

No interior da floresta, tomada pela escuridão e por seres que fariam os mais corajosos gelarem a espinha, um vulto envolto em uma capa negra deslizava furtivamente sem que fosse visto por estes seres. Sua estatura mediana, pouco menor que a de um humano comum facilitava a passagem em meio aos galhos.

Por um caminho invisível, o vulto seguiu nas sombras sem nenhuma perturbação pelo que pareceram dias até que avistou ao longe, depois de alguns troncos, um pálido brilho de chamas. Apertando o passo chegou à clareira, ali estava, envolta e protegida pela tenebrosa floresta que crescia para todos os lados, a pequena cidade escondia alguns dos últimos rebeldes de seu povo. Guerreiros que lutaram na guerra civil que tomou o planeta por milênios, até a total queda das forças rebeldes.

Nascendo envolta por grandes árvores, a cidade se dava impercebível para todos que a procuravam pelo horizonte, um perfeito esconderijo. Dali onde estava era possível perceber as casas de madeira antiga que se amontoavam com suas chaminés ecoando fumaça negra. Estava frio e agora que a noite parecia estar atingindo o seu ápice, à temperatura parecia querer despencar ainda mais.

Puxando seu capuz o vulto se revelou como uma Nocdie de pele negra como o céu noturno sem estrelas, com cabelos e olhos tão brancos quanto a neve, marcada por símbolos de mesmo tom que corriam por sua pele contrastando ainda mais com a sua beleza. Brevemente ela voltou a cobrir seus braços com o manto escondendo os símbolos e se protegendo da rajada de vento que a atingiu. Enquanto observava as casas pesou em sua mente o porquê de estar ali e novamente como já fizera outras vezes girou o corpo na direção da floresta. Foi quando se adiantou para fugir entre as árvores que um grito chegou em seus ouvidos e a arrancou de seu torpor. Ela já perdera a conta do tempo em que aquela voz surgira em sua mente, exatamente igual, como se o que ouvia era uma manipulação de sua consciência. Sem que sentisse seu corpo se voltou na direção das casas e seus pés avançaram.

Seguindo o sentido de onde a voz viera, entrou na cidade sem se importar com os vultos que surgiram nas janelas ou com os rostos que a encararam entre as sombras das casas, como se avaliassem uma presa. O ar era pesado, carregado com uma sensação de pavor, e as sombras das casas, projetadas por candeeiros entalhados em pedras em algumas das ruas, pareciam dançar e se projetar como se tivessem vida. A frente algumas crianças correram em sua direção com gritos e sorrisos que gelaram sua espinha a retirando do torpor, todas com uma pele parda como a dos humanos, os adultos já se destacavam com tons de pele albinos ou escuros como a noite. Passando por ela, as crianças pareceram ignorá-la, logo viraram em uma rua lateral e o barulho cessou. Foi então que novamente o grito veio, mais próximo dessa vez. Atravessando mais algumas ruas viu adiante uma grande fogueira no que parecia ser o centro da cidade, a frente do fogo, dois seres pareciam se engolfar um contra o outro em combate, enquanto uma multidão levantava os braços em frenesi. O menor deles, um Nocdie de pele tão clara quanto a neve, parecia se tornar trevas em determinados momentos e se lançar em ataque contra um Humano que estava de costas para ela. Mesmo sem poder ver sua face, soube quem ele era, pele parda, quase como das crianças, cabelos aparados, e o mesmo brilho dourado das runas que também brilhavam em seu antebraço, o mesmo Humano que por tantas vezes a confrontá-la em seu exílio. Girando para o lado e desviando dos avanços do Nocdie que se materializa e desmaterializava como sombras, rapidamente ele forjou em suas mãos um tênue brilho de luz branca que começava a incandescer na direção de seu oponente que rapidamente forjou um tipo de escudo feito pela mesma energia escura que o contornava ao se materializar. Quando ambas as energias se chocaram, um clarão irrompeu revelando o rosto do humano com perfeição. Um corte parecia descer em sua bochecha, mas fora isso e todas as roupas esfarrapadas, ele estava exatamente como na última vez que a buscara ao que agora pareciam eras. Sua mente pesou enquanto vários sentimentos a atingiam. Novamente a ideia de fugir veio em sua mente e assim ela começou a fazer, se distanciando da cena e entrando em uma outra rua, até que algo pareceu chama-la, voltando a atenção para o seu entorno, pareceu sentir o sussurro de uma velha voz da sua memória. Junto a voz, uma espécie de energia irradiava no ar, como se direcionada para ela. Naquele momento teve um vislumbre de algo, seu passado. Ela compreendia agora, por eras esteve se preparando sem que soubesse para aquele momento.

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