Capítulo 23

113 14 1
                                    

O vórtice se abriu com um estalo e tão rápido surgiu, também desapareceu. Em seu lugar um garoto e uma jovem mulher surgiram, por um momento apenas observaram o ambiente em volta. Um caminho de terra branca com pequenas pedras em meio a um vale coberto por pinheiros, uma pequena represa a direita dos dois e além do vale, montanhas com picos cobertos por neve os fechando como em uma bacia. 

Bem a frente, a maior delas arrancou o folego do garoto e uma vibração que dela parecia rescindir o fez tremer. Seus olhos se fixaram imediatamente e suas pernas pareceram ganhar vida propria. Uma mão em seu ombro o despertou enquanto avançava da direção da imponente montanha de rocha.

_ Está bem, Kille?

Se virando, observou Lyra, sua mãe, ou sua protetora, naquele momento já não sabia como identificá-la. Sua doce voz voltou a questioná-lo enquanto a observava.

_ Sua energia, parece, confusa, está bem? Estamos seguros por enquanto, temos de encontrar um lugar para nos abrigar. Aguenta caminhar um pouco? Existe um antigo templo próximo de onde estamos, podemos nos abrigar por lá essa noite.

_ Na montanha? - A voz do jovem soou tímida, quase como um sussurro. Para ele era como se a energia do monte criasse algum tipo de pressão que o envolvia.

_ Não, fica por aqui, além dessa montanha. - Indicando a direção contrária, para onde a trilha levava, Lyra tentou conduzir o garoto que relutando permaneceu imóvel.

_ Não está sentindo?

_ O que?

_ A montanha, ela, ela ta me chamando.

_ Não tem nada na montanha, nenhuma energia surgindo dela. Logo vai entardecer, temos de encontrar um lugar seguro antes da aurora, sua energia não irá mais passar despercebida.

_ Não, tenho de ir a montanha, eu sinto.

_ Podemos ir até lá outra hora, amanhã, agora vamos.

_ Não. - A voz do garoto se elevou enquanto ele pôs a encarar Lyra. - Todos os olhares vão estar sob Atlântida essa noite e eu sinto que devo ir até a montanha, eu vou.

_ Você ao menos sabe onde estamos? É só uma montanha.

_ Não importa, Aminnon quem nos mandou para cá, não imagino que ele tenha escolhido esse lugar de forma aleatória. Existe algo na montanha e vou até lá descobrir. Se quer mesmo me proteger, então você virá comigo.

_ Existe um templo próximo, por isso Aminnon nos mandou para cá. Essa montanha, é anterior ao Diluvio. Já estive nela, não a nada para olhar.

_ Então vá. Vou até a montanha e depois irei ao templo encontrá-la.

_ Você é uma criança, não vou deixá-lo só. E não tem idade para decidir o que deve ou não fazer, ontem mesmo estava se escondendo com medo de demônios. 

O olhar do garoto soou incisivo naquele momento e sua fala fria como Lyra nunca ouvira.

_ Eu sou um humano, detentor da Alma e do Livre-arbítrio, eu sou Abel, o segundo filho, e como eu já lhe disse, vou até lá. Pode me proteger, ou ir se esconder.

Por um momento Lyra apenas o observou, tentando entender de onde viera aquela reação. Erguendo os olhos observou o monte e o varreu com seus poderes. Não existia nada ali, diferente do que existia a suas costas, do lado contrário onde podia sentir a energia do antigo templo Atlante. Uma construção antiga entre esse e o mundo Astral, feita pelos Atlantes após a vitória de um de seus heróis contra um dos maiores inimigos da antiga Atlantida.

_ Vamos até lá. Verá que não existe nada. 

Ambos perseguiram em silêncio por horas a finco, algo parecia saciar o garoto impedindo que ele sentisse cansaço, fome ou fadiga. Quando enfim chegaram ao pé da rocha, o garoto começou uma pequena escalada, Lyra observou por alguns segundos e então fazendo sua energia fluir as suas costas, fez nascer um grande par de asas brancas. Com um pulsante choque de suas asas se sentiu sendo içada e então avançou para a frente agarrando o garoto e o levando consigo pelas alturas. 

PRINCIPIUMOnde histórias criam vida. Descubra agora