Paganus

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Como dois cometas, os rastros rasgavam o céu noturno daquele velho mundo, ali não podiam abrir portais ou atravessar a distância que os separavam de sua busca. Muito da magia daquelas terras já se fora perdida no esquecimento junto a toda gloria que um dia viveram.

A frente, brilhando em energia escarlate Fertylla avançava sem se deixar desviar a mente pelos reinos que cortava com suas asas, muitos em guerra como Ares pode observar enquanto lutava para se manter na mesma velocidade. Sua energia em tons de cobre brilhava incessantemente, mas ainda assim, não tão reluzente quanto o rastro que saia da Capitã.

Ali embaixo, deuses, semideuses e criaturas que um dia habitaram a terra travavam verdadeiras carnificinas entre si enquanto dois lados se levantavam entre cada povo, aqueles que se aliaram as trevas e aqueles que agora no fim se voltavam para a Luz.

O dia já começava a raiar quando eles enfim avistaram além de duas colinas o imenso deserto de areias vermelhas que tomava todo o horizonte. 

Em sua cabeça, Fertylla viu Aminnon e Vrafel se preparando para partir para Colvitalli naquele momento, logo que eles atravessaram a abertura criada por Aminnon, a energia de ambos desapareceu, não podia senti-los mais. Abrindo suas asas contra o vento que a atingia enquanto avançava, se viu reduzindo sua velocidade e a distância das areias até que enfim aterrissou em meio ao deserto. Não tardou para que um Ares assustado também pousasse as suas costas, sua mão em sua espada enquanto buscava algum sinal de movimento nas areias.

Dali onde estavam o céu já não tinha o claro tom do amanhecer, em seu lugar um tom vermelho, pouco mais claro que o próprio deserto tomava toda a imensidão. 

Ambos se mantiveram parados por alguns instantes e então, sem que alguma palavra fosse dita começaram uma caminhada pelas areias.  Enquanto avançavam sem alguma direção específica, a energia de ambos ia se reduzindo até que não restasse nada além de suas formas corpóreas, logo o proprio senso de direção e percepção de ambos desapareceu, os deixando perdidos na areia, só então pararam. 

Se encarando, ambos pareceram fazer um sinal de afirmação e se pondo lado a lado esperaram. 

Por um momento tudo pareceu igual, mas então, como se a areia se abrisse a frente deles, um vale de tons marrons, cortado por pedras do que a muitos e muitos séculos deveriam ter sido algum tipo de calçamento, surgiu. Bem a frente, duas enormes pirâmides feitas das mesmas pedras que os restos do calçamento, pareciam formar uma porta para um outro mundo onde uma imensa planície com o mesmo tom que o vale se abria, bem além dela, nuvens de tons ocre tomavam todo o horizonte como um oceano cortado apenas pela imensa ponta de uma pirâmide que se erguia além das nuvens. Uma estrela parecia despontar atrás dela iluminando todo o céu além cortado por algumas nuvens mais altas que eram pintadas de tons pasteis por sua luz.

Observando as pirâmides que formavam a passagem, Fertylla tentou sentir a energia que emitiam, mas sua vibração parecia fugir como se ricocheteando entre as pedras. Na outra ponta das duas, percebeu que a areia do deserto já as tocava e vinha rodeando o vale até o ponto em que ela e Ares estavam.

_ Parece que eles vão te ouvir. - Soltando a mão da espada, Ares avançou alguns passos adentrando o vale e então desapareceu.

Fertylla observou tudo sem emitir algum sinal. Por um momento observou a ponta da imensa pirâmide no horizonte e então também avançou. Seus passos se seguiram e ela logo se viu envolta em um manto ocre que lhe cobria a cabeça e descia como uma capa por suas costas até a ponta de seus pés, o manto ainda se prendia em sua cintura onde uma roupa de peles pouca mais escuras lhe cobria o corpo.

Ares estava certo, os antigos deuses Egípcios iriam ouvi-la.



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