_ Como são?
_ Tristes, sem vida. Quando os vejo... - Desviando os olhos, Kille reparou o espelho nas mãos de Lyra, sua mãe adotiva que os fitava olhando o outro plano. - Não quero falar disso.
_ Kille, você precisa me falar. Não pode continuar guardando tudo pra você.
Ao erguer os olhos, Kille mirou a mulher atrás de sua mãe.
_ Kille. Há alguns anos eu pedi pra você não contar isso para ninguém a não ser eu. Precisa confiar em mim. Você sempre disse que estava tudo bem, mas eu sei que não está, preciso saber o que está vendo, sei o quão é difícil para você, mas precisamos disso, preciso disso para poder protegê-lo. - Olhando há frente, Lyra percebeu o olhar perdido de seu filho. Sentindo a tristeza que dele jorrava, soltou o espelho que mantinha apertado e agarrou suas pequenas mãos. Enquanto as segurava, tentou imaginar como tudo aquilo vinha sendo para ele que mal completará o seu décimo ano de vida. - Precisa confiar em mim.
_ Brancos, eles são brancos como as nuvens. São bonitos, mas seus olhos são negros, usam capas pretas que cobrem o corpo, E tem espadas, algumas são grandes, outras pequenas, ficam parados, mas quando durmo eles tentam me pegar.
Fechando os olhos, Lyra apertou as mãos de seu filho e fez uma oração silenciosa.
_ Quando começou a vê-los?
_ Eu não sei, acho que alguns meses, mas alguma coisa mudou ontem. Antes eram vislumbres apenas, e só alguns.
_ E agora estão a todo tempo o observando? Falam algo?
_ Os vejo sempre mãe. - A voz do garoto soou embargada e ele começou a chorar, tentava desviar os olhos das costas de sua mãe onde o vulto que parecia inquieto gritava obscenidades e o ameaçava.
_ Meu Deus. Porque não me disse antes?
_ Eles não gostam que eu fale, falaram que iam te matar se eu dissesse algo.
_ Fique aqui.
Com um salto, Lyra deixou Kille e correu até seu quarto, enquanto avançava viu o garoto correr atrás de si a seguindo, eles deveriam estar no quarto naquele momento, sabendo como os demônios agem, deveriam estar o ameaçando enquanto ele lhe contava.
_ Tem que estar aqui, eu sei que está.
Jogando as coisas de seu armário no chão, Lyra caminhou até o centro de seu quarto e se pôs a respirar controlando sua mente.
_ Fertylla, eles o encontraram. - Com um sussurro pouco audível, Lyra fechou os olhos e invocou seu antigo poder. - " Ttriarnd re'lko velyo Takla" - Abrindo novamente os olhos, sentiu a antiga sensação de formigamento e prazer a dominando enquanto sua antiga energia voltava a correr em seu corpo.
Enquanto quebrava o bloqueio de seus dons, seus olhos ganharam uma luz dourada e estranhas marcas, feitas pela mesma luz, começaram a se formar em seu corpo.
Concentrando sua mente no objeto que procurava, sentiu as moléculas vibrarem em seu velho armário. Com um sutil brilho, agarrou o objeto dourado que surgiu de uma abertura na madeira e voou até sua mão, rapidamente puxou o garoto que a observava boquiaberto para perto de si e o entregou um colar que surgiu da madeira.
_ Ele vai protegê-lo. Não vão fazer nenhum mal a você. Eu prometo.
_ Mãe... - Enquanto falava, um barulho começou a correr pelas paredes da casa como batidas, fazendo o garoto pular para o colo da mulher. De seus olhos apertados lágrimas ainda caiam.
_ Está tudo bem, eu estou aqui. Mas vou precisar que fique atrás de mim.
_ Não, não me larga mãe.
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PRINCIPIUM
General FictionAs bombas caiam de forma sincronizada. Para aqueles distantes das grandes cidades, foi uma bela visão, uma daquelas que sempre nos arranca o fôlego ao lembrar. Para aqueles que ardiam em chamas, o Inferno se tornava real. Os gritos vinham de todos...