Capítulo 43

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Lívia Cardoso

Entrei no carro, mas não queria ir. Ela me deixou louca e depois não quis nada. Eu a respeito, mas, poxa... Dei partida no carro e fui até minha casa, onde estava ocorrendo toda a comemoração. Assim que cheguei, meu pai pediu uma salva de palmas, e, é claro, todos me aplaudiram.

— A melhor jogadora da temporada! — Ele me beijou na bochecha e me abraçou. — Estou muito orgulhoso de você.

— Muito obrigada, pai. — Sorri para ele. Fui até Melissa, uma das minhas melhores amigas da equipe.

— Já recebeu propostas?

— Para quê? — Peguei um salgadinho que estava na mesa.

— De outros times.

— Acho que não.

— Eu já. Está vendo como sou maior que você? — Realmente, como líbero, ela ia muito bem.

— Com essa sua altura, tem que se destacar mesmo...

— Ridícula. — Ela mostrou a língua para mim. Logo as garotas vieram até nós, e resolvemos ir para a sala, onde tinha menos gente.

— O evento mais esperado: o aniversário da Lívia!

— Falta um mês ainda. — Este ano seria o aniversário mais "pika" de todos, até porque agora vou fazer 19.

— Um mês passa rápido. — Júlia, uma das garotas do time, disse.

— Não quero pensar nisso, mas se preparem, porque vai ser a melhor festa que vocês já foram.

— Se a sua amiga for. — Melissa, de novo, enchendo o saco.

— Toma vergonha na cara! Ela nunca ficaria com você.

— Por que tem tanta certeza assim?

— Porque ela não vai. Conheço ela. Vamos parar de falar sobre isso, okay?

— Você quem manda. — A falsa disse.

— Querem mais bebida? — Meu telefone vibrou, era o Ricardo me ligando. — Preciso atender, já volto.

"Parabéns, você merece."

Idiota, eu ainda estava meio bolada com ele.

"Obrigada, mas tenho certeza que você me ligou por outro motivo."

"Tudo bem, tá bolada ainda?"

"Claro, porra. Queria que eu ficasse como? Não fode, hein."

"Tá bom, nervosinha. O papo é o seguinte: vou fazer uma resenha aqui em casa amanhã em sua homenagem."

"Quem você chamou?"

"Só os mais próximos, não vai ter mulher."

"Vou ver e te aviso."

"Então tá bom, falou."

Desliguei e, é claro, que iria. Tá louco, o cara puxando meu saco e eu não vou? Só maluco pra acreditar. Voltei para a sala e continuamos conversando. Elas falavam sobre seus namorados, e era engraçado. Por incrível que pareça, eu sou a única que gosta de mulheres no time, abertamente falando.

— Você vai continuar aqui na próxima temporada? — Mel, a minha amiga de fé, perguntou.

— Eu não sei. Se eu receber uma proposta melhor, eu saio. Mas, se não, fico por aqui mesmo.

— Que bom. — Ela é um doce. Melissa é uma amiga quase irmã. Gosto muito dela, pena que o namorado dela é um lixo. Se eu pego esse cara na porrada...

A festa acabou por volta das três da manhã, nos despedimos de todos. E quando meu pai fechou a porta, ele disse:

— Amanhã você vai acordar com muitas propostas. Estou tão orgulhoso de você. — Ele me abraçou, e eu pude sentir a felicidade dele.

— Obrigada, pai. — Disse no meio do abraço.

— Eu vou dormir. É muito cansativo ser pai de uma estrela. — Ele subiu as escadas, e logo depois só consegui ouvir a porta do quarto dele batendo.

{...}

Coloquei uma roupa confortável, passei um perfume e fui para a casa do Ricardo, que não era tão longe da minha. De carro, era absurdamente perto. Assim que cheguei lá e bati na porta, ele abriu e me abraçou.

— Parabéns, maninha!

— Valeu, mano.

— Vem, estamos no quintal. — Os pais de Ricardo são bem de boa com bebidas, mas ele só dá essas resenhas porque a irmã dele engravidou e os pais estão com ela.

No quintal, tinham garotos da escola que sempre estavam fumando com a gente. Eles eram legais, mas no meio deles estava o Pedro. Estranhei um pouco, mas nada que me incomodasse.

— A campeã! — Ricardo me anunciou, e os idiotas bateram palmas.

— Muito obrigada, mas podem parar. Já inflaram meu ego o suficiente. — Me sentei e comecei a beber o whisky.

— Mas fala aí, já tem muita gatinha em cima? — Um idiota qualquer perguntou.

— Ainda não, mas eu não ligo pra isso.

— Também, né? Com a Sabrina ao seu lado, quem liga? — Miguel, um cara da sala e amigo da Sabrina. Às vezes fumamos juntos ou trocamos uma ideia, mas não somos próximos.

— Vocês viajam demais. Eu e a Sabrina somos amigos.

— Se você acredita nisso... — Ricardo comentou.

— Sabrina é hétero, gente. — Pedro exclamou. Na hora que ele disse isso com tanta certeza, me deu vontade de esfregar na cara dele que ela era tudo, menos hétero, mas jamais faria isso com ela.

— É isso mesmo, ela é hétero. — Dava pra perceber que Ricardo estava sendo debochado. Até ri, porque achei engraçado.

— Vamos parar de falar delas? — Disse de forma mais autoritária.

— Vamos! Quer fumar um? — Ricardo me perguntou.

— Por favor, me dá um pouco pra levar?

— O quanto quiser, hoje você pode tudo. — Entrei no WhatsApp, e Sabrina me mandou uma mensagem, era uma foto. Afastei o celular um pouco dele e trouxe mais perto de mim. Era uma pintura que ela fez, tipo um pôr do sol. Não estava feio, mas ela não tinha talento para arte.

"Me inspirei em você."

Era a legenda da foto, então respondi para ela:

"Vou querer para mim."

"1 milhão, muito talento."

Sorri para a tela, mas voltei o foco na conversa, que era sobre "melhores lugares para fazer sexo."

Um monte de virgens falando besteira.

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