Capítulo 30

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Sabrina Gonçalves

Ir para a escola essa semana sem Lívia foi terrível. Eu estava preocupada com ela. Ela faltava mais que eu, mas uma semana inteira? Sem contar que seu pai jamais a deixaria faltar durante tanto tempo assim. Ela poderia muito bem estar matando aula, mas algo me dizia que não era esse o caso. Por fim, decidi mandar uma mensagem para ela. Pensei em várias formas de dizer algo, mas acabei enviando a mais simples e direta.

“O que está acontecendo com você?”

Ela ficou online e começou a digitar.

“Só cansei da escola, nada demais.”

Fala sério. Desisti de mandar outra mensagem e tentei focar na aula, mas meu celular vibrou de novo. Lá fui eu mais uma vez.

“Não acredito que você esteja tão preocupada comigo assim.”

“Talvez eu esteja, mas por favor, não se ache tanto.”

“Quer vir em casa depois da aula?”

Ir na casa dela? Nunca tinha sido convidada, muito menos sabia onde era. Tirei um print e mandei no meu grupo com mais três pessoas.

“Sei que quer ir, não vamos julgar.”
A Ket foi o mais sincera possível.

“Já te julgamos demais.”
O João me fez rir olhando para a tela do celular.

Voltei para a conversa com a Lívia.

“Tudo bem.”

12:56. Ela me pagou um Uber, sinceramente uma verdadeira cavaleira. Assim que o carro parou no endereço, era uma casa aparentemente grande, com o carro da Lívia na frente e um portão que rodeava a casa toda, o que a fazia parecer mais "chique". Toquei a campainha, e ela apareceu. Abriu a porta e veio abrir o portão para mim.

— Você está acabada. — A encarei de cima a baixo com a pior cara que ela poderia ver em alguém, mas ela sorriu para mim.

— Vem, pedi lanche pra gente. Sei que você está com fome. — E eu realmente estava. Depois da escola fico faminta, e ela sabia bem disso. Assim que entramos em sua casa, pude perceber o quão pobre eu sou e o quão rica ela é.

— Fala sério,Lívia, você mora nessa casa do caralho?

— É linda, né? — Ela parecia toda orgulhosa, e isso me fez dar um sorrisinho de canto.

— Demais. Deveria ter feito amizade com você antes.

— Sua interesseira. Nunca me enganou. — Confesso, isso me fez gargalhar.

Fomos até a cozinha, onde havia dois lanches embrulhados, uma Coca-Cola e dois copos ao lado. Ela me entregou meu lanche e meu copo, e se sentou no balcão de frente para mim. Fiz o mesmo, uma de frente para a outra.

— Isso está uma delícia. — Na primeira mordida já tive certeza.

— Minha tia que faz, ela tem uma lanchonete.

— Por favor, me passe o número dela. — Dei um gole na Coca, que estava muito boa.

— Sentiu tanta a minha falta que teve que vir me ver?

— Você que me chamou.

— E você aceitou. — Pilantra. Mas não deixei de sorrir, ela estava certa. Senti a falta dela, apesar de tudo, e não precisava esconder isso.

— Você é chata pra caralho. — Ela sorriu para mim e voltou a comer, e eu fiz o mesmo. O resto da refeição foi só a gente comentando o quanto estava bom.

— Fala sério, eu estou cheia.

— Eu também. — Suspirei e dei fim ao último gole de Coca.

— Quer conhecer meu quarto?

Por que não?

— Quero. — Segui-a até o andar de cima. Ela abriu a porta que ficava no final do corredor e a empurrou para que eu entrasse. Assim que olhei para dentro do quarto, vi tudo ali refletindo sua personalidade. As paredes estavam cobertas de desenhos que ela provavelmente tinha feito, e bem no teto havia um olho. Não era um olho desconhecido, era bem familiar, na verdade.

— E aí, o que achou?

— Tem muita personalidade, é você toda. Mas é lindo.

— Me esforcei para ouvir isso. — Ela estava se aproximando, e eu não me mexi. Queria que ela viesse mesmo.

Mas ela parou quando estava quase perto, parecia com medo. Eu fiz a sonsa e fingi que nada aconteceu.

— Eu queria te fazer uma pergunta. —
Ela estava me olhando.
— Pode fazer, alteza. — Virei de costas para prestar atenção em mais coisas no quarto, e ouvi sua risadinha.

— Posso fazer um quadro seu? — Naquele momento, parei de prestar atenção em tudo. Como assim um quadro meu?

— Como assim?

— Te pintar, fazer uma arte sua. — Ainda estava de costas, mas senti que ela estava bem atrás de mim, sua respiração na minha nuca.

— E como seria? — Ela encaixou a cabeça no meu ombro e segurou minha cintura.

— Da forma como eu te vejo. — Ela deixou um beijo no meu pescoço, e eu me arrepiei. — Minha tia quer montar uma galeria e pediu para eu fazer alguma arte, e pensei em você. — Outro beijo no pescoço.

Ser a sua arte? Isso era sedutor até para mim. Ela poderia desenhar qualquer coisa, mas me escolheu? E os meus pensamentos ficavam mais intensos a cada beijo que ela deixava no meu pescoço.

— Preciso pensar.
— Como quiser, alteza. — Isso me fez sorrir. Virei, ficando cara a cara com ela, e ambas sorrimos.

— Pode me beijar agora, alteza. — Que merda eu estou fazendo?
— Com certeza, minha rainha. — Ela selou nossos lábios e me puxou mais para perto, me fazendo arrepiar por inteiro. Não tinha mais controle de nada. Ela estava guiando nossos corpos, e eu só seguia. Isso era tão bom. Eu estava entregue a ela.

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