Capitulo 44

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Sabrina Gonçalves

- Por que você tá de óculos escuros na escola, porra? - Encarei a garota. Estávamos no corredor, esperando para entrar na sala.

- Fui pra uma resenha ontem, e meu pai não me deixou faltar. Tô acabada.

- Fala sério, você é maluca.

- Você que é. - Ela riu de forma cínica. - Inclusive, eu entendi o que você quis dizer com aquela pintura. - Estávamos andando até a sala.

- O que eu quis dizer?

- Que vai me deixar te pintar. - Ri dela.

- Tá louca. Só peguei umas telas que meu pai guarda. Ele gosta de pintar. Você poderia pintar com ele algum dia.

- Acho uma ótima ideia.

- FORMEM DUPLAS! - A professora Janaína já estava enchendo o saco. Minha dupla desde o começo do ano era a Lívia; inclusive, entregamos aquele poema sobre sexo e tiramos um enorme zero.

Juntamos as mesas, e ela começou a falar.

- Bom, quero que vocês façam uma releitura de Romeu e Julieta, mas para os dias atuais. Vocês têm uma semana. Podem começar.

- Eu tenho uma ideia. - Lá vem.

- Ela é filha de policial, e ele traficante.

- Achei meio fanfic, tipo aquelas histórias de "o dono do morro".

- Caramba, eu lia, tá? - Ela confessou, meio envergonhada.

- Tá zoando? - Eu estava quase gargalhando na cara dela.

- Para, eu gostava. E é uma releitura foda.

- Eu gosto mais da ideia de uma pessoa pobre e a outra rica.

- Muito clichê.

- O do morro também. - Ela fechou a cara.

- Vamos fazer um sorteio, então?

- Como?

- Vamos escrever os dois temas, embaralhar e jogar pro alto. O que a gente decidir pegar, a gente faz.

Ela rasgou os papéis, jogamos pro alto. Decidimos pegar o da esquerda. Ela abriu e leu com a maior cara de desgosto.

- Ela é pobre e ele rico.

- Aaaah, chupa!

Ficamos pensando em mil histórias, e quando finalmente começamos a desenvolver algo, a aula dela acabou. Ou seja, teríamos que fazer juntas fora da escola.

- Seu amigo até que é legal.

- Que amigo? - Perguntei, curiosa.

- Pedro. - Fiquei feliz em ouvir isso.

- Por quê?

- Ele foi ontem na resenha, e é engraçado.

- Que bom que gostou, fico feliz.

- Mas não vai se iludindo, só não odeio ele.

- Mas já é um ótimo começo.

As outras aulas estavam insuportáveis. Lívia dormiu em quase todas, e eu estava lutando para não fazer o mesmo. Na hora do intervalo, algumas pessoas vieram falar com ela e pediram para tirar foto, e ela, claro, se achou.

- Tenho fãs.

- Ai, Lívia, para!

- Tá com ciúmes? - Ela passou o braço pelo meu pescoço. - Você é minha puta preferida.

- Vai se foder! - Desencostei dela. - Feia!

- Não foi isso que a sua amiga disse. - Saí de perto dela e fui até a Kethelyn, o João e o Pedro, que estavam na quadra. Chegando lá, me sentei na arquibancada com eles.

- Vocês ficaram sabendo que na última aula vai ter uma dinâmica?

- Que dinâmica? - Perguntei, curiosa.

- Teremos que formar duplas e fazer alguma coisa. A professora de artes não explicou muito. - Acrescentou João.

- Que bom! Minhas últimas aulas são um porre.

- As nossas também. - Disse Kethelyn.

O sinal tocou, e voltamos para as salas. Na penúltima aula, o professor de química pediu para sairmos e irmos até a quadra, e assim fizemos.

- Que porra é essa? - A garota ao meu lado perguntou.

- Não faço a menor ideia.

A escola toda estava na quadra. Quando chegamos lá, a professora de artes começou a passar as instruções, e tivemos que fazer duplas. Como Pedro estava do meu lado, preferi fazer com ele, e Lívia se juntou com Ricardo.

- Vamos fazer uma aula de zumba, e o estilo musical será funk. - Ela soltou aquela música "Vou Desafiar Você" e começou a passar a coreografia.

Lívia Cardoso

Puta que pariu, aquele cara tá de sacanagem.

- Ele nem disfarça que tá olhando pra bunda dela. Eu não deixava. - Ricardo e eu, ao invés de dançarmos, ficamos prestando atenção em Sabrina e Pedro, que estavam bem próximos.

- Pelo amor de Deus, nós não temos nada. Mas ele é um pervertido, e eu achando que ele era legalzinho.

- Para de mentir, Lívia! Você e a Sabrina não têm nada? Ninguém cai mais nessa.

Em uma parte da música, Sabrina tinha que "empinar pra Pedro", e ele não conseguia disfarçar.

- Pelo amor de Deus, que filha da puta! - Exclamei.

- Quem não estiver dançando vai ficar sem presença. - A velha do caralho disse, mas eu não conseguia dançar e prestar atenção neles ao mesmo tempo. Era muita informação.

Eu não estava mais aguentando ver aqueles dois, e, quando a música parou, me senti aliviada. Deixei o trouxa do Ricardo e fui até ela.

- Dançou bem. - Olhava para ela, mas Pedro pigarreou. - Você também, dança muito bem, mano.

- Muito obrigada. - Essa porra não vai sair daqui? Encarei o garoto, que não se movia.

- Pedro me chamou pra uma festa sábado, é a festa do Miguel. Quer ir? - Ele pareceu incomodado, e só por isso eu disse:

- Claro, eu vou sim. - Sorri para os dois. - Vamos, eu te levo pra casa.

- Tá bom, tchau, Pedro. - Ela pegou a bolsa, e fomos até o carro. Graças a Deus, essa aula acabou.

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