Sabrina Gonçalves- Por que você tá de óculos escuros na escola, porra? - Encarei a garota. Estávamos no corredor, esperando para entrar na sala.
- Fui pra uma resenha ontem, e meu pai não me deixou faltar. Tô acabada.
- Fala sério, você é maluca.
- Você que é. - Ela riu de forma cínica. - Inclusive, eu entendi o que você quis dizer com aquela pintura. - Estávamos andando até a sala.
- O que eu quis dizer?
- Que vai me deixar te pintar. - Ri dela.
- Tá louca. Só peguei umas telas que meu pai guarda. Ele gosta de pintar. Você poderia pintar com ele algum dia.
- Acho uma ótima ideia.
- FORMEM DUPLAS! - A professora Janaína já estava enchendo o saco. Minha dupla desde o começo do ano era a Lívia; inclusive, entregamos aquele poema sobre sexo e tiramos um enorme zero.
Juntamos as mesas, e ela começou a falar.
- Bom, quero que vocês façam uma releitura de Romeu e Julieta, mas para os dias atuais. Vocês têm uma semana. Podem começar.
- Eu tenho uma ideia. - Lá vem.
- Ela é filha de policial, e ele traficante.
- Achei meio fanfic, tipo aquelas histórias de "o dono do morro".
- Caramba, eu lia, tá? - Ela confessou, meio envergonhada.
- Tá zoando? - Eu estava quase gargalhando na cara dela.
- Para, eu gostava. E é uma releitura foda.
- Eu gosto mais da ideia de uma pessoa pobre e a outra rica.
- Muito clichê.
- O do morro também. - Ela fechou a cara.
- Vamos fazer um sorteio, então?
- Como?
- Vamos escrever os dois temas, embaralhar e jogar pro alto. O que a gente decidir pegar, a gente faz.
Ela rasgou os papéis, jogamos pro alto. Decidimos pegar o da esquerda. Ela abriu e leu com a maior cara de desgosto.
- Ela é pobre e ele rico.
- Aaaah, chupa!
Ficamos pensando em mil histórias, e quando finalmente começamos a desenvolver algo, a aula dela acabou. Ou seja, teríamos que fazer juntas fora da escola.
- Seu amigo até que é legal.
- Que amigo? - Perguntei, curiosa.
- Pedro. - Fiquei feliz em ouvir isso.
- Por quê?
- Ele foi ontem na resenha, e é engraçado.
- Que bom que gostou, fico feliz.
- Mas não vai se iludindo, só não odeio ele.
- Mas já é um ótimo começo.
As outras aulas estavam insuportáveis. Lívia dormiu em quase todas, e eu estava lutando para não fazer o mesmo. Na hora do intervalo, algumas pessoas vieram falar com ela e pediram para tirar foto, e ela, claro, se achou.
- Tenho fãs.
- Ai, Lívia, para!
- Tá com ciúmes? - Ela passou o braço pelo meu pescoço. - Você é minha puta preferida.
- Vai se foder! - Desencostei dela. - Feia!
- Não foi isso que a sua amiga disse. - Saí de perto dela e fui até a Kethelyn, o João e o Pedro, que estavam na quadra. Chegando lá, me sentei na arquibancada com eles.
- Vocês ficaram sabendo que na última aula vai ter uma dinâmica?
- Que dinâmica? - Perguntei, curiosa.
- Teremos que formar duplas e fazer alguma coisa. A professora de artes não explicou muito. - Acrescentou João.
- Que bom! Minhas últimas aulas são um porre.
- As nossas também. - Disse Kethelyn.
O sinal tocou, e voltamos para as salas. Na penúltima aula, o professor de química pediu para sairmos e irmos até a quadra, e assim fizemos.
- Que porra é essa? - A garota ao meu lado perguntou.
- Não faço a menor ideia.
A escola toda estava na quadra. Quando chegamos lá, a professora de artes começou a passar as instruções, e tivemos que fazer duplas. Como Pedro estava do meu lado, preferi fazer com ele, e Lívia se juntou com Ricardo.
- Vamos fazer uma aula de zumba, e o estilo musical será funk. - Ela soltou aquela música "Vou Desafiar Você" e começou a passar a coreografia.
Lívia Cardoso
Puta que pariu, aquele cara tá de sacanagem.
- Ele nem disfarça que tá olhando pra bunda dela. Eu não deixava. - Ricardo e eu, ao invés de dançarmos, ficamos prestando atenção em Sabrina e Pedro, que estavam bem próximos.
- Pelo amor de Deus, nós não temos nada. Mas ele é um pervertido, e eu achando que ele era legalzinho.
- Para de mentir, Lívia! Você e a Sabrina não têm nada? Ninguém cai mais nessa.
Em uma parte da música, Sabrina tinha que "empinar pra Pedro", e ele não conseguia disfarçar.
- Pelo amor de Deus, que filha da puta! - Exclamei.
- Quem não estiver dançando vai ficar sem presença. - A velha do caralho disse, mas eu não conseguia dançar e prestar atenção neles ao mesmo tempo. Era muita informação.
Eu não estava mais aguentando ver aqueles dois, e, quando a música parou, me senti aliviada. Deixei o trouxa do Ricardo e fui até ela.
- Dançou bem. - Olhava para ela, mas Pedro pigarreou. - Você também, dança muito bem, mano.
- Muito obrigada. - Essa porra não vai sair daqui? Encarei o garoto, que não se movia.
- Pedro me chamou pra uma festa sábado, é a festa do Miguel. Quer ir? - Ele pareceu incomodado, e só por isso eu disse:
- Claro, eu vou sim. - Sorri para os dois. - Vamos, eu te levo pra casa.
- Tá bom, tchau, Pedro. - Ela pegou a bolsa, e fomos até o carro. Graças a Deus, essa aula acabou.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O enigma da paixão
RomanceNão é possível que eu realmente esteja gostando dessa garota..