• O último suspiro de quem sofre •

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Bebo um grande gole de rum quando termino de escrever a carta. A bebida amarga escorre pela minha garganta, e coloco a garrafa vazia na pilha crescente ao lado da escrivaninha, testemunhas silenciosas de minha decadência. Pego o papel, dobrando-o com cuidado, e o coloco em um envelope. Em vez de um selo, colo um adesivo qualquer, selando-o com um pedaço de fita. Meus dedos tremem levemente ao fechar em volta de uma pequena caixa de madeira. "Cartas para S/n, meu grande amor", está gravado na tampa. Abro o pequeno cadeado com a chave que pendura em meu pescoço. Coloco o envelope junto aos outros e fecho a caixa novamente, cada carta um grito silencioso de saudade.

Levanto-me com esforço e caminho até a cozinha. O ambiente está um caos, reflexo do turbilhão em minha mente, mas não me importo. Seguro uma foto amassada de minha amada enquanto procuro por qualquer vestígio de bebida na casa. Não encontro nada e resmungo, irritado com a necessidade de sair para comprar mais. Visto-me de qualquer jeito, coloco minha máscara habitual, deslizo a foto dela no bolso, pego o pouco dinheiro que resta e saio de casa.

O sol brilha intensamente, uma luz dolorosa para meus olhos que não viam o dia há algum tempo. As pessoas ao meu redor parecem felizes, seus risos e conversas contrastando com meu silêncio sombrio. Caminho mecanicamente até o mercado, lembranças dolorosas me assaltando. Nós íamos juntos ao mercado, era uma experiência simples, mas alegre... Ela ria quando eu pronunciava os nomes dos produtos errado, e sempre discutíamos sobre as uvas – ela preferia as verdes, eu as roxas.

Quando chego no mercado, sinto lágrimas escorrendo pelo meu rosto sem controle. Pego uma cestinha e caminho até o corredor de bebidas. Vinhos, rum, saquês, uísque e... vodka. Tudo parece uma neblina enquanto vou até o caixa. Tsunade está lá e me olha com preocupação.

– Kakashi, você está bem? – ela pergunta com uma voz cheia de preocupação.

Ignoro-a e saio, sem forças para enfrentar a compaixão ou curiosidade alheia. Pago pelas bebidas e volto para casa. Destranco a porta e entro, a casa está mergulhada em sombras e silêncio.

– Querida, cheguei... – murmuro para o vazio.

Abro uma garrafa e bebo como se minha vida dependesse disso. Tiro minhas roupas, ficando apenas de calça. Passo em frente ao espelho e vejo um reflexo que mal reconheço – olhos vazios, rosto pálido e barba por fazer. Vou até a cozinha e percebo o quão desagradável está o cheiro do meu corpo. Pego algo na cozinha, a sacola de bebidas, e vou até o banheiro. Encho a banheira enquanto bebo o máximo que posso em um único gole. Tranco a porta do banheiro e caminho até a água, segurando firmemente a faca que havia pegado na cozinha.

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Naruto POV •

– Como assim "estranho", vovó Tsunade? – pergunto, tentando entender a urgência em sua voz.

– Vimos ele hoje mais cedo no mercado. Tsunade o cumprimentou, mas ele não respondeu, como se nós não estivéssemos lá. – disse Sayuri, com os olhos cheios de preocupação.

– Sinto um mal pressentimento. Quero que vá até a casa dele e veja como ele está. – diz Tsunade, a preocupação clara em seu rosto.

– Não bata na porta, apenas entre. – diz o mestre Jiraya, seu tom grave. – Tenho ido visitá-lo, mas ele não responde quando bato. Finge que não está em casa.

– Eu não o vejo desde o funeral de S/n. Mas agora ele parece um morto-vivo, como se apenas o corpo dele estivesse aqui, mas a alma já se foi há muito tempo. – diz Kencho, sua voz tensa.

– Ele tem ignorado minhas cartas, não comparece às reuniões e não está indo trabalhar desde a morte de minha filha. – diz Tsunade, sua voz trêmula de emoção. – Estou preocupada. Então vá, Naruto. Leve alguns de seus amigos, mas preciso que vá agora.

• A Hokage tem uma filha? Kakashi x S/n •Onde histórias criam vida. Descubra agora