• Sem Rumo •

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04h38 da mesma noite

Três garrafas de rum eu havia bebido naquela madrugada. Me entupindo de algo que odiei minha vida toda, agora cá estava eu, bebendo. Tentando encher o buraco vazio que havia em meu peito com bebidas. A casa estava destruída por dentro, exceto, nosso quarto. Daquele cômodo eu não havia quebrado nada. Apenas me deitei naquela cama e chorei como se não existisse o infeliz amanhã.

Uma batida na porta é ouvida por mim. Me recuso a levantar, me mexer ou fazer qualquer outra coisa que não seja levantar a garrafa com a mão e levar até a boca. A dor que eu sentia era insuportável, doía demais. Meu coração foi arrancado do peito. E, tudo o que eu conseguia pensar era em seu sorriso sussurrando aquelas últimas três palavras... Eu te amo.

Mesmo após ela ter morrido, eu continuei a beijá-la, seus lábios macios e sem calor, frios como gelo, porém ainda macios e ensanguentados. O gosto do sangue dela saiu de minha boca e o que ficou foi o gosto do álcool, me embriagando cada vez mais, mas por que eu continuava tão sóbrio?

– Kakashi... – ouço a voz de Jiraya do outro lado da porta.

Me levanto e piso descalço nos cacos de porcelana e vidro que havia no chão. Nenhuma dor se comparava com a do meu peito. Abro a porta e vejo ele, seus olhos vermelhos de tanto chorar, assim como os meus.

– O funeral vai começar... – ele diz olhando para o céu. – Espero que possa comparecer. – ele diz antes de sair sem dizer mais nada.

Funeral. Fecho a porta e volto ao que era um sofá. Me sento ali e penso um pouco, volto a chorar, que dor desgraçada. Olho para casa e começo a ter alguns flashbacks dos nossos melhores momentos. Os sorrisos, os beijos, abraços, conversas, as pequenas brigas pra ver quem iria lavar a louça... ah, minha garota se foi...

Apoio os cotovelos no joelhos e enterro meu rosto em meio às mãos. Sinto que vou enlouquecer, que estou preso em um pesadelo sem fim. Estou desmoronando, sufocando em meio ao desespero e preciso de algo para me agarrar, então encontro a bebida como suporte. A cada gole é uma tentativa de esquecer, esquecer que estou sozinho...

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Entro na sala onde estava acontecendo o velório. As pessoas choravam, a voz delas foram ficando abafadas quando eu começava a me aproximar do caixão. Lá estava ela, minha donzela. Estava pálida, fria e sem vida... comecei a acariciar seus cabelos, seus lábios e sua bochecha. Minha garota sempre tão... perfeita...

Me sento em uma cadeira próxima, meus olhos permanecem apenas nela. Toco seu rosto com meus dedos, traço o contorno de sua mandíbula enquanto sinto minhas lágrimas escorrerem.

– Por que?... – sussurro olhando para ela e não obtendo resposta.

Ouço vozes abafadas ao fundo, mas não importa, pois nenhuma das vozes era dela. Acaricio sua bochecha, a pele macia que costumava ser quente, agora fria sob meu toque. Acaricio seu cabelo e o coloco atrás da orelha, olho para seus lábios que antes eram avermelhados, agora eram pálidos e frios, os mesmos lábios que sorriam pra mim todos os dias.

Entrelaço meus dedos em sua mão, seu dedos não reagem, apenas os meus apertam sua mão.

Aonde você foi? Ainda está aí? Consegue me ver de onde quer que esteja? – sussurro baixinho.

Deito minha cabeça próxima ao caixão, coloco sua mão sobre minha cabeça me permitindo imaginar que ela estava fazendo carinho em mim. A única coisa que me vinha a mente era 'por que você se foi tão cedo?'

– E os nossos planos? Nossos filhos? Nossos sonhos, meu amor? – sussuro enquanto as lágrimas caiam.

Fechei meus olhos enquanto minha garganta ardia de tanta dor pela perda. Meu coração era apenas um buraco vazio. Ela se foi. Começo a pensar em tudo o que vivemos e aperto sua mão tentando achar conforto.

• A Hokage tem uma filha? Kakashi x S/n •Onde histórias criam vida. Descubra agora