Capítulo 14: Que sorte a sua então.

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Não fui pro apartamento do meu irmão. Assim que o elevador se abriu, corri para a porta da frente do apartamento dele, batendo uma única vez antes de entrar. A primeira pessoa que eu vi foi Manu, sentada no sofá ao lado de Camila. Ela abriu um sorriso assim que me viu, se levantando para me dar um abraço.

—Achei que Eduardo estava mentindo quando disse que você ia vir com a gente. —Manu afirmou, me fazendo soltar uma risada, porque aquilo era realmente um milagre. Se eu soubesse que era só passar a conversa em Suellen pra conseguir alguma coisa, já tinha feito isso faz tempo.

—Ele anda bem esquisito, não anda? —Camila questionou, me dando um abraço antes de fazer uma careta. —Ainda não entendi qual foi o do convite pro café da manhã.

—Pensei que você não tinha ido porque tinha compromisso. —Falei, e Camila pareceu um tanto constrangida quando riu, lançando um olhar demorado na direção do meu irmão. —Ok, pelo visto vocês dois não estão me contando tudo relacionado ao meu pai.

—Não é nada demais. —Camila piscou pra mim e se sentou no sofá de novo, mas eu tive a sensação de que aquilo era só uma forma de deixar o assunto de lado, porque deveria sim ser alguma coisa.

—Ei, meu cozinheiro favorito! —Exclamei, grudando em Bernardo quando ele saiu da cozinha. Ele riu, me dando um abraço apertado e um beijo na testa, antes de bagunçar meus cabelos.

—É disso que você sente mais falta de morar com a gente? Da minha comida? —Bernardo questionou, fazendo Eduardo revirar os olhos de onde estava.

—Sinto falta de poder fazer o que quiser. De ter sossego e até mesmo privacidade. —Afirmei, me sentando ao lado de Manu quando ela abriu espaço pra mim no sofá. —Tinha mais privacidade quando morava com você, o Felipe e o Edu, do que tenho morando com o meu pai.

—É por pouco tempo, Érika. Minha última conversa com o advogado foi bem promissora. —Eduardo falou, me deixando subitamente animada, porque mesmo que fosse só um ano precisando morar com meu pai, ainda seria o pior ano da minha vida. —Estamos pensando em entrar com uma queixa contra o juiz, já que ele claramente está puxando mais para o lado do nosso pai. Só precisamos de uma prova concreta pra fazer a acusação. Ele está tentando encontrar alguma coisa.

Comprimi meus lábios, me perguntando se poderia encontrar alguma prova seguindo meu pai pela cidade. Ele não tinha feito nada demais ontem, além de ficar no trabalho a tarde toda. Mas na segunda ele estava cheio de compromissos marcados. Eu esperava que pelo menos algum desses compromissos fosse alguma coisa interessante.

—Chegamos família. —Felipe exclamou, abrindo a porta com Júlia logo atrás, seguida de Léo e Rodrigo. Tentei não me encolher no sofá, abrindo um sorriso torto quando Felipe parou no meio do caminho e olhou pra mim com uma expressão surpresa. —Quando foi que você chegou? Nem sabia que você vinha.

Dei de ombros, soltando uma risada quando Júlia soltou um gritinho animado, empurrando Felipe do caminho pra me abraçar. Olhei para Léo enquanto abraçava a irmã dele, quase podendo ver o enorme ponto de interrogação na sua testa quando me encarou, erguendo um pouco as sobrancelhas. Não havia qualquer bom humor no seu rosto, como se ele não estivesse feliz em me ver ali.

A atenção dele se desviou de mim para Camila, quando ela foi dar um abraço nele. Léo abriu um sorriso assim que a viu, como se tivesse esquecido que eu estava ali. Sabia que os dois tinham virado amigos durante as férias de Léo aqui, quando os dois começaram a passar um tempo juntos pra irritar meu irmão, quando ele ainda se recusava a deixar seus sentimentos por Camila falarem mais alto.

Rodrigo piscou na minha direção, com um sorriso disfarçado no canto dos lábios, enquanto era apresentado a todo mundo. Pelo menos ele parecia feliz em me ver, porque assim que todo mundo pareceu distraído com as próprias conversas, ele caminhou sutilmente até onde eu estava no sofá e se sentou ao meu lado.

—Então você veio. —Ele empurrou de leve meu ombro, enquanto eu abria um sorriso pequeno. —Que bom, guria, porque eu não queria ficar olhando pra cara de cachorro abandonado do Léo. Ele tá assim desde que te deixamos em casa ontem.

—Ele deve estar assim por causa do campeonato. Xadrez parece ser super importante pra ele. —Falei, antes de soltar uma risada e negar com a cabeça quando Rodrigo ficou olhando pra mim. —Mas óbvio que você sabe disso. É amigo dele.

—Conheço ele a quase três anos só, quando minha família mudou de cidade e eu entrei pra mesma turma dele. —Rodrigo explicou, olhando na direção de Léo, que estava na entrada da cozinha rindo junto com Camila. —Ele me explicou um pouco dessa coisa com o seu pai. Sinto muito por isso. Deve ser uma situação péssima.

—Ah, é sim. Mas meio que eu já estou acostumada. —Dei de ombros, porque aquela era uma mentira que tinha se tornado fácil de dizer. Já estava acostumada, mesmo que aquilo ainda me afetasse mais do que eu gostaria.

—Meus pais são separados também. Mas meu pai foi embora e cagou pra minha existência depois disso. —Rodrigo soltou uma risada quando exibi uma expressão horrorizada. —Eu sei, ele era um babaca. Mas tenho um padrasto incrível agora, então acho que sai ganhando ainda.

—Que sorte a sua então. —Abri um sorriso, porque Suellen era um porre e eu duvidava muito que minha mãe fosse achar um cara bom para se casar de novo. Não que ela não merecesse, mas ela parecia ter dedo podre pra escolher.

—Mas você também teve muita sorte. Tenho um padrasto incrível, mas você tem o equivalente no seu irmão, né? Ele parece se importar muito com você. —Rodrigo afirmou, me fazendo olhar para Eduardo, sabendo que ele estava certo sobre aquilo. Tinha realmente tido sorte no quesito irmão mais velho.

—Obrigada por guardar segredo sobre ontem. —Sussurrei, e Rodrigo abriu um sorriso, antes de erguer a mão e balançar o mindinho pra mim. Aquilo me fez rir, antes de eu passar meu mindinho pelo dele e o apertar como se estivéssemos fazendo um tipo de promessa ali.


Continua...

Todas as ondas do amor / Vol. 4Onde histórias criam vida. Descubra agora