Leonardo
Encarei o corredor, vendo que estava tudo no mais absoluto silêncio. O professor Lucas tinha ido se deitar a muito tempo e a luz do quarto dele já havia sido apagada. Se eu tivesse sorte como da primeira vez, ele já estava no 10 sono naquele momento e não iria acordar tão cedo. Olhei para Rodrigo, vendo-o fazer uma careta.
—Por que eu preciso ficar? Não tô vendo onde essa situação está sendo justa pra mim. —Afirmou, já que ele estava louco pra dar o fora essa noite também. Tinha sido fácil convencê-lo a me ajudar na noite passada, mas agora que ele já estava a dois dias sem fazer nada além de ir para a escola e voltar pro alojamento, não me surpreende que ele já esteja de saco cheio disso.
—Vamos sair no domingo, esqueceu? Júlia conseguiu a autorização do professor pra você ir com a gente também. —Falei, antes de apontar o dedo pra ele, quando ele comprimiu os lábios em resignação. —Se você se comportar, é claro.
—Pare de me tratar como se eu fosse uma criança, seu babaca. —Rodrigo resmungou, antes de se aproximar da porta e olhar para o corredor também. —Quero ir junto. Preciso contar todos os seus podres pra Érika antes que ela não tenha mais a chance de fugir.
—Você não vai chegar perto dela. —Afirmei, o que o fez soltar uma risadinha baixa e negar com a cabeça, me lançando um olhar todo debochado.
—Você já tem até ciúmes dela? Bah, guri, você tá lascado, sabia? —Rodrigo balançou a cabeça negativamente, ainda rindo. —Vá em frente, Romeu. Não vou estragar sua noite romântica hoje. Mas não vou ficar nesse quarto servindo de apoio pra sempre.
—Na próxima você vai. —Prometi, vendo-o revirar os olhos e gesticular para que eu me mandasse. —E eu estava falando sério sobre a questão de se comportar.
Ele me mostrou o dedo do meio antes de fechar a porta do quarto na minha cara, em um sinal claro de que não me queria mais ali. Soltei uma risada, antes de disparar pelo corredor e me mandar, porque não queria acabar sendo pego.
[...]
Érika abriu a porta pra mim assim que bati uma única vez, como se estivesse me esperando. Claro que ela sabia que eu ia aparecer, mas ela nunca demonstrava qualquer coisa além de indiferença e um toque de grosseria. Já estava acostumado com isso, mesmo que soubesse que havia uma Érika mais atenciosa em algum lugar lá dentro.
Mas eu tinha a sensação que essa Érika atenciosa tinha se perdido em algum momento do caminho, no meio de todo esse problema com os pais dela. Quando a conheci, ela era uma garota brilhante e animada. Mas agora, parece que aquela garota não existe mais, porque Érika nem mesmo se importa em fingir que não gosta de mim.
—Você está sozinha? —Questionei, já que ela tinha me mandado mensagem avisando que eu não precisava pular a janela e podia chegar pela porta da frente.
—Sim, meu pai levou a Fiona pra jantar. —Afirmou, me fazendo soltar uma risada com aquele apelido, ao mesmo tempo que via ela revirar os olhos. —Vem aqui. Quero te mostrar o que fiz durante a tarde.
Fui atrás dela, me sentando no sofá enquanto Érika puxava uma folha cheia de anotações. Eram horários e compromissos, que ela fez questão de anotar com cores de canetas diferentes. Tentei não sorrir, mesmo que estivesse morrendo de vontade por dentro, mas aquilo era tão Érika que eu não conseguia evitar.
—Entrei no escritório do meu pai quando ele não estava e anotei todos os compromissos que ele tem. Ele é meio que um psicopata de horários, sabia? Porque anota até mesmo quando precisa levar a Fiona pra sair. —Érika soltou um barulho de nojo com a boca, enquanto revirava os olhos mais uma vez. —As anotações de vermelhos são sobre eles. As de verde são os compromissos do trabalho dele. Amarelo são os que eu não faço ideia do que sejam, porque ele não deixou especificado na agenda. E as anotações em rosa são os encontros com o advogado.
—Coisas relacionadas com você. —Falei, e ela concordou com a cabeça, enquanto eu notava que a maioria das anotações tinha o horário e o lugar, o que iria facilitar e muito nosso trabalho em seguir ele pela cidade.
—Chequei a minha bicicleta e a do Edu. Elas estão em perfeito estado. Podemos começar amanhã, se você quiser. —Érika olhou pra mim, parecendo um tanto ansiosa pra saber o que eu achava. Ela poderia ter achado uma ideia idiota no início, mas era óbvio que agora ela queria muito fazer aquilo.
—Preciso ver como vou dar um perdido no meu professor. —Falei, mordendo o lábio enquanto pensava no que fazer. —Tenho poucos jogos durante a tarde. Mas acho que consigo dar um jeito de vir até aqui.
—Você que deu a ideia, vai me deixar fazer isso sozinha? —Questionou, me olhando com uma expressão afiada, quase como se estivesse me testando. Abri um sorrisinho pra Érika, que eu já tinha notado que a deixava um pouco desconcertada, principalmente quando eu me aproximava demais.
—Vou estar aqui amanhã, ok? Não duvide de mim. —Rebati, vendo Érika torcer os lábios em ceticismo, mesmo que eu soubesse que jamais a deixaria na mão, mas Érika ainda não sabia disso. Ela ainda não confiava em mim da forma que eu queria que confiasse. —Enquanto não estamos seguindo seu pai por aí, o que acha de aprender a jogar xadrez?
—É jogo de nerd. —Afirmou, me fazendo soltar uma risada e negar com a cabeça. —Tenho cara de nerd?
—Eu tenho cara de nerd? —Questionei, me inclinando na direção de Érika só um pouco. O suficiente para ela ficar sem jeito, com os lábios tremendo como se quisesse me insultar, mas não soubesse como.
—Você tem cara de esquisito e é esquisito. —Ela me empurrou para longe, enquanto eu ria, vendo os olhos dela faiscarem na minha direção. —Tenho pena do Rodrigo que precisa conviver com você o tempo todo.
—Já passou pela sua cabeça que ele é tão esquisito quanto eu? —Indaguei, indo na onda dela, o que a fez soltar uma risada, como se não estivesse esperando por essa pergunta. —E você não disse, vai querer aprender xadrez ou não?
—Tudo bem. —Ela suspirou, com um ar resignado adorável, enquanto eu puxava minha mochila para pegar o tabuleiro que eu havia trazido. —Mas se você me irritar demais, vou fazê-lo engolir todas as peças.
Continua...
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Todas as ondas do amor / Vol. 4
RomansÉrika tem uma lista de sobrevivência até os 18 anos. Morar com o pai certamente não está nessa lista. Principalmente depois de descobrir que ele havia traído sua mãe e uma briga pela sua guarda se iniciar, envolvendo até mesmo seu irmão mais velho...