Me sentei no colchão no meio de Léo e Rodrigo, segurando o envelope nas minhas mãos. Hesitei em abrir, sentindo um gosto amargo na minha boca e uma sensação pesada caindo sobre meus ombros, porque eu tinha uma coisa importante demais nas mãos. Algo que poderia mudar tudo na minha vida no futuro.
—Tudo bem? —Léo questionou, e eu balancei a cabeça que sim, mordendo o lábio antes de rasgar o envelope e deixar as fotos impressas deslizarem para minhas mãos. Lá estava, a prova de que meu pai não valia absolutamente nada. As imagens dele tomando café com o juiz, como se os dois fossem super amigos.
Apertei os lábios com força, tentando não me sentir furiosa como da última vez, que acabei chorando de raiva logo depois. Mas esse sentimento não veio de novo. Havia apenas uma calmaria estranha dentro de mim. Uma resignação pesada que esmagava meus ossos aos poucos, quase me deixando sem ar.
—Você vai entregar isso ao Eduardo? —Léo questionou, e eu balancei a cabeça que sim, tentando não pensar na reação do meu irmão quando visse isso. Quando soubesse o que eu andava fazendo nas minhas tardes.
—Vou entregar a ele amanhã. Tenho que pensar no que dizer a ele, porque sei que ele vai surtar de alguma forma. —Afirmei, soltando um suspiro pesado quando terminei de ver todas as fotos e as enfiei de novo dentro do envelope, como se minhas mãos fossem queimar se eu ficasse segurando aquilo por muito tempo. —Mas vou almoçar com ele e a Camila, então acho que é a minha oportunidade de contar tudo.
—Você ainda tem as fotos da amante dele? —Rodrigo questionou, e eu assenti, vendo-o erguer as sobrancelhas quando não demonstrei nada. —Vai entregar a Suellen depois que tudo se resolver? Tipo, em relação a sua guarda.
—Eu pensei em mostrar pra ela, sim. Ia ser bom demais ver a cara de bunda dela quando percebesse que está recebendo o troco pelas próprias ações. —Mordi o lábio, escorando meu rosto no ombro de Léo, antes de abrir um sorriso. —Mas percebi que simplesmente não me importo com isso. Ela vai descobrir em algum momento, com ou sem minha ajuda. Ou meu pai vai se cansar e dar logo um pé na bunda dela. Eu realmente não me importo, só quero ficar o mais longe que conseguir dos dois.
—Depois que seu irmão der um jeito na sua guarda, você precisa prometer que vai nos visitar quando voltarmos pra nossa cidade. —Rodrigo afirmou, antes de gesticular entre eu e Léo. —Sei que vocês dois provavelmente vão dar um jeito de se verem até as férias do final do ano, mas você precisa ir pra lá. Tem vários lugares que você ia gostar de conhecer, guria.
—Se o Edu não me matar, acho que é bem possível ele levar você pra lá. —Léo falou, e eu acabei soltando uma risada, porque Léo estava mesmo achando que meu irmão ia mata-lo quando soubesse sobre nos dois.
Eu tinha pensado muito sobre isso depois do nosso passeio de barco, toda vez que olhava pra aliança de namoro na minha mão e sorria ao lembrar das coisas que Léo tinha me dito. Acho que meu irmão ia sim ficar incomodado, porque ele era do tipo protetor, mesmo quando me olhava de cara feia. Mas tinha a sensação que no final ele ia simplesmente aceitar, porque ele conhecia Léo e os dois eram amigos.
—Camila não vai deixar ele te matar. A Júlia também não. —Rebati, e Léo demorou um minuto para responder, me encarando com uma expressão muito engraçada que quase me fez rir.
—Então quer dizer que você não tentaria impedir se ele tentasse me matar? Ah, ok, bom saber. —Afirmou, e eu cai na risada junto com Rodrigo, que se afastou até uma das janelas para olhar lá fora.
—Sua irmã não estranhou você não ter voltado pra casa o outro dia? —Questionei, porque Léo tinha dormido na casa da minha mãe aquele dia, junto comigo, apesar de ter sido em quartos separados, já que ela nem olhou pra mim quando perguntei se podia e ela me respondeu com um não que deixava claro que não havia qualquer discussão. —Eu acharia estranho, já que o Rodrigo voltou sozinho pro apartamento.
—Ela não estranhou. —Rodrigo engoliu em seco muito lentamente, e eu olhei pra ele um tanto desconfiada. —Ela sabe sobre nós dois. Eu contei já tem um tempinho.
—Como assim já tem um tempinho? —Sibilei, porque odiava quando me deixavam no escuro. Léo encolheu os ombros, abrindo um sorriso meio sem graça enquanto eu esperava por uma resposta.
—Contei pra ela antes do nosso primeiro beijo. Júlia já estava meio desconfiada por causa da forma que estávamos agindo um com o outro, então contei a ela sobre gostar de você. —Afirmou, e eu tentei não corar sobre o olhar dele, mas foi praticamente impossível. —Camila também sabe, mas ela descobriu sozinha. Eu não contei nada.
—Como assim?
—Quando ela chegou e começou a andar com a gente, um dia eu estava provocando ela por causa do seu irmão e ela simplesmente falou sobre eu gostar de você. Acho que ela só percebeu sozinha. —Léo deu de ombros, enquanto eu franzia a testa, sem saber como me sentia em relação aquilo. Talvez um pouco sem graça, porque Léo gostava de mim a bastante tempo, mesmo que eu não tivesse percebido. —Ela tinha acabado de chegar, então acho que foi muito mais fácil pra ela perceber coisas que talvez quem convivia com a gente não percebia.
—A Manu também sabe? —Questionei, e ele confirmou com a cabeça, mesmo que eu já pudesse imaginar que sim, já que ela e Júlia eram melhores amigas e óbvio que uma ia contar para a outra. —Então é só meu irmão, o Felipe e o Bernardo que não sabem.
—Até a tua mãe já sabe. —Rodrigo murmurou, se afastando da janela para olhar pra Léo. —Você é muito incompetente, cara. Nem pular uma janela sem ser visto você consegue.
—Cala a boca. —Léo resmungou, pegando uma almofada e jogando na direção de Rodrigo, que soltou uma risada, a agarrando antes que ela atingisse seu rosto. —Eu pulei a janela do quarto da Érika várias vezes e o pai dela nunca viu.
—Por que ele só vê o que convém a ele. —Afirmei, antes de ficar rígida contra Léo quando escutei a voz de Suellen no jardim. Corri para a janela, tirando Rodrigo de frente dela antes de abrir uma fresta e olhar lá pra fora. Suellen estava parada na entrada dos fundos, olhando pra casa na árvore com uma expressão pensativa e os braços cruzados na frente do peito.
—Acha que ela ouviu a gente? —Rodrigo questionou, mas eu neguei com a cabeça, porque não importava se ela ouviu ou não, ela estava desconfiada e aquilo era o suficiente para dar merda.
Continua...
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Todas as ondas do amor / Vol. 4
RomanceÉrika tem uma lista de sobrevivência até os 18 anos. Morar com o pai certamente não está nessa lista. Principalmente depois de descobrir que ele havia traído sua mãe e uma briga pela sua guarda se iniciar, envolvendo até mesmo seu irmão mais velho...