Capítulo 58: Tenho provas.

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Érika

Estava encarando a parede branca quando a porta se abriu e meu irmão entrou. Olhei para ele, vendo-o comprimir os lábios quando viu o curativo na minha testa e minha cara de quem tinha chorado. Estava sentindo meus olhos estranhos, provavelmente inchados, então eu imaginava que ele podia ver o quão acabada eu estava naquele momento.

—Foi ele? —Questionou, se aproximando da cama com cautela, enquanto eu apertava minhas mãos fechadas com força e tentava controlar a raiva e a mágoa que estava sentindo em relação ao meu pai. Ele estava indo cada vez mais baixo e eu odiava ainda me surpreender com isso. —Érika, preciso que me conte o que aconteceu.

Eduardo parou ao lado da cama, segurando a minha mão como se quisesse deixar claro que estava tudo bem. Umedeci os lábios com a língua e pensei no que dizer a ele, porque não fazia ideia de como começar a explicar aquela situação. Ele provavelmente encontrou Léo lá fora, porque duvidava muito que meu namorado tivesse ido embora.

—Léo e o Rodrigo estavam me visitando durante as tardes e as vezes a noite. Suellen começou a desconfiar disso e contou pro nosso pai. —Olhei para Eduardo, tentando saber o que ele estava pensando, mas meu irmão estava com uma mascara de perfeita calmaria. —Ele entrou no quarto essa noite e encontrou o Léo comigo e surtou. Tipo, surtou de verdade, porque ele tentou bater no Léo e...

—E o que? —Eduardo ergueu as sobrancelhas quando eu hesitei, não porque não queria contar, mas porque agora que meu corpo estava mais calmo eu conseguia me lembrar muito bem do que tinha acontecido. E a lembrança esmagou meu peito e me deixou com vontade de chorar de novo.

—Eu me enfiei no meio dos dois tentando evitar uma briga. Então ele me empurrou e eu bati a cabeça na cama quando cai. —Falei, e Eduardo fechou os olhos com força, escondendo o rosto entre as mãos, enquanto meus lábios tremiam enquanto eu tentava segurar a vontade de chorar. —Eu sinto muito, tá? Me desculpa.

—Por que você está me pedindo desculpas? —Questionou, afastando as mãos do rosto para me encarar, com uma expressão muito confusa. Mordi o interior da bochecha e balancei a cabeça, antes de encolher meus ombros. Não sabia porque estava dizendo aquilo, eu só me sentia na obrigação de dizer, mesmo que a culpa não fosse minha.

—Eu estou namorando. —Contei, e Eduardo soltou um suspiro pesado, sem parecer nem um pouco surpreso. Odiei aquilo, porque não era assim que eu queria contar a ele.

—É, eu fiquei sabendo. —Eduardo apertou os lábios com força, enquanto eu engolia em seco, porque esperava que ele tivesse qualquer outra reação que não fosse aquela. Mas o ar frustrado nos ombros dele me deixou tensa. —A enfermeira disse que eles não chamaram a polícia, mas que poderia ser feito se você quisesse.

—Você quer chamar? —Indaguei, e meu irmão demorou para me responder, parecendo pensar muito naquela pergunta. Ergui a mão e limpei a lágrima que escorreu pela minha bochecha, sentindo meu coração apertado, porque era péssimo ter aquele tipo de conversa com ele sobre meu pai. Mas minha família tinha deixado de ser normal há muito tempo.

—Nunca contei a você, mas o pai da Camila batia na mãe dela. —Eduardo falou do nada, me dando um susto, porque aquela era a última coisa que eu esperava ouvir ouvir dele, ainda mais em um momento como aquele. —Eu sempre soube, eu acho. Camila sempre corria lá pra casa quando isso acontecia e eu nunca chamei a polícia, porque ela nunca deixou, com medo do que ele poderia fazer.

Encarei minhas mãos sentindo um gosto amargo subir pela minha garganta e se concentrar na minha boca, sem saber como reagir aquilo, porque Camila nunca tinha falado dos pais tão profundamente comigo. Sabia que ela não se dava bem com o pai, mas nunca poderia imaginar que seria por conta de algo como aquilo.

—Ele bateu na Camila quando eles foram embora. Quando descobri isso, fiquei muito tempo me sentindo culpado por nunca ter denunciado ele. —Eduardo me encarou. A expressão tão séria que fiquei sem ar. —Nosso pai sabia que ele batia na esposa. Ele sempre soube e ele nunca fez questão de ajudar a mãe da Camila. Parei de me sentir culpado depois que descobri isso, porque eu era só um adolescente nessa época e nosso pai era um adulto.

—Ele é horrível. —Sussurrei, e Eduardo assentiu com a cabeça, erguendo a mão para esfregar o rosto. Queria ter tido um pai melhor e acho que Eduardo também. Fico feliz por pelo menos termos a mesma opinião sobre ele.

—Ele assediou a Camila também, depois que a gente se acertou. —Eduardo soltou uma risada estranha quando o encarei assustada, porque aquilo era tão nojento da parte dele. —É, piora, eu sei. Camila odeia só a ideia de ficar no mesmo espaço que ele e eu tenho vontade de soca-lo sempre que preciso o encarar.

—Eu quero chamar a polícia. —Afirmei, porque nem precisava ouvir aquelas coisas pra querer isso, mas meu irmão nem pareceu se surpreender, porque tombou a cabeça de lado e segurou minha mão mais uma vez, sem dizer nada. —Você já chamou, não é?

—Não quero errar uma segunda vez. —Eduardo deslizou o polegar pela aliança no meu dedo, e eu fiquei um pouco constrangida, porque não conseguia saber o que ele estava pensando sobre aquilo. Queria poder ler a mente dele, porque tinha certeza de que ele sabia de onde tinha vindo aquela aliança. —Você vai pro apartamento comigo. Não me importo se isso vai me atrapalhar na justiça, não vou deixa-la perto dele mais um dia. Ele já ultrapassou a linha vermelha faz tempo.

—Acho que isso não vai te atrapalhar na justiça. —Falei, vendo-o erguer os olhos para encarar meu rosto, percebendo que eu estava escondendo uma coisa. —Tenho uma coisa que vai faze-lo perder a minha guarda, se isso que acabou de acontecer não for o suficiente.

—Parece que você andou escondendo muitas coisas de mim, não é? —Eduardo questionou, mas era uma pergunta retorica. Abaixei a cabeça envergonhada, sentindo o tom de voz um tanto decepcionado do meu irmão. —O que você tem?

—Tenho provas de que ele comprou o juiz para conseguir minha guarda. —Revelei, e Eduardo ficou rígido na cadeira, parecendo ter ficado paralisado quando entendeu o que eu tinha dito.


Continua...

Todas as ondas do amor / Vol. 4Onde histórias criam vida. Descubra agora