Capítulo 38: Juro pra você.

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Não quis fazer festa do pijama com as meninas. Minha animação tinha se esvaído completamente depois do almoço. Eu só queria ficar deitada me lamentando sobre minha vida, enquanto encarava a parede como se ela fosse a coisa mais interessante de todas. Eduardo me chamou algumas vezes, mas eu apenas gritei que queria ficar sozinha.

Do que adiantava ter uma mãe se ela simplesmente não se importava com a minha existência além do que era bom pra ela? Do que adiantava ter um pai se tudo que importava pra ele era ter uma família perfeita que estava quebrada e suja por dentro? No final das contas, a única pessoa que eu realmente tinha na vida era Eduardo. E as vezes eu tinha certeza de que não o merecia.

Me mexi quando meu celular tocou, sentindo minha pulsação disparar como um foguete quando vi o nome de Léo aparecer na tela. Não tinha chegado a responder a pergunta dele, mas parece que ele não estava se importando muito com isso para me ligar mesmo assim. Me sentei na cama rapidinho, ajeitando meus cabelos que pareciam um ninho de rato.

Respirei fundo, observando meu estado no espelho, percebendo que eu estava um pouco pálida demais. Soltei um suspiro frustrado e me levantei, tentando ajeitar um pouco meu rosto para não soar tão deprimida ou pelo menos não tão desajeitada. Penteei meus cabelos, tirando a blusa amassada que eu estava usando por outra. Quando voltei para a cama para atender, a ligação caiu.

—Meus parabéns, Érika! —Resmunguei, afundando o rosto nas cobertas em meio a um grunhido irritado, antes de pegar o celular rápido quando ele começou a tocar de novo.

Dessa vez atendi na mesma hora, sentindo meu rosto esquentar quando Léo apareceu na tela. Ele estava com a cabeça baixa e uma expressão tensa, mas abriu um sorriso assim que atendi, como se tivesse ficado com medo de eu não o atender. Abri um sorriso hesitante, percebendo que fazia pouco tempo que tinha o visto, mas já parecia demais.

—Desculpa, você tava ocupada? Você não falou se eu podia ligar ou não então...

—Eu não estava fazendo nada. Esqueci de te responder. —Falei, me sentindo envergonha do nada, de uma forma que me fez encarar a parede do meu quarto. —Minha mãe veio almoçar aqui e não foi a melhor coisa de todas.

—Sinto muito. —Léo sussurrou, com a voz cheia de calor e gentileza, de uma forma que fez um arrepio atravessar meu corpo inteiro. —Eu cheguei agora pouco em casa. Estou morto, mas acho que vou dormir daqui a pouco. Queria falar com você antes de cair morto na cama.

Soltei uma risada, observando o quarto de Léo atrás dele. Era meio que um quarto de nerd, do jeito que eu estava esperando que fosse. Pela posição do celular, conseguia ver a coleção de jogos de xadrez em uma prateleira na parede, com tabuleiros e peças de todos os tipos diferentes. Havia o que parecia ser uma coleção de cubos mágicos, que chamou minha atenção mais do que o restante, porque não sabia que Léo gostava daquilo.

Léo pareceu perceber que eu estava observando o quarto dele, porque tirou o celular de onde ele estava escorado e me mostrou o restante. Sorri ao ver as medalhas que ele tinha ganhado penduradas na parede, separadas por posição. A quantidade das de ouro muito maior que as outras, além dos troféus. A cama dele estava arrumada, mas a mala estava aberta sobre ela, com coisas jogadas pra todo lado.

—Não é tão interessante quanto o seu quarto. —Léo afirmou, me fazendo soltar uma risada e negar com a cabeça.

—Não tem nada de interessante no meu quarto também. —Retruquei, pressionando meus lábios com força quando Léo virou a tela do celular pra ele de novo, me deixando ver seu rosto. A expressão cansada deixava claro que ele estava com muito sono.

—Tem sim. Você está nele. —Léo sorriu pra mim, como se soubesse o que aquela frase iria causar no meu peito. Desviei os olhos para o meu colo, apertando o tecido da minha calça de moletom quando me senti prestes a transbordar naquele momento.

Como eu reagiria a demonstração de carinho de alguém estranho, quando nem minha família era assim? Eu não estava acostumada com aquele tipo de coisa. Acho que foi por isso que consegui fingir por bastante tempo que não via a forma que Léo me olhava. A forma como ele parecia dizer o que queria pra mim.

—No que você está pensando, Érika? —Léo questionou, e eu hesitei por um momento, me perguntando qual resposta eu daria a ele. Aquela que a Érika queria dizer ou a verdade. Comecei a perceber que estava tão cansada de tomar cuidado com o que eu ia dizer, pra não demonstrar muito. Só queria ser sincera as vezes. Até comigo mesma.

—Queria que você morasse aqui e não precisasse ir embora. —Sussurrei, umedecendo os lábios com a língua, enquanto o calor manchava minhas bochechas. —Acho que você pode perceber por si mesmo que não sou popular e nem tenho amigos. Acho que você e o Rodrigo são o mais perto que tive disso na escola. Mas vocês nem mesmo são de lá, então...

—Érika...

—Estou cansada, Léo. —O cortei, porque não queria ouvir palavras bonitas que ele achava que eu precisava. Elas não iam mudar a realidade. —Estou cansada de me sentir sozinha. Estou cansada de desejar que meus pais me olhem como filha e não como qualquer outra coisa. Estou cansada de me sentir rejeitada por eles o tempo todo.

—Você merecia uma família muito melhor. Mas não fica assim, meu bem, as coisas vão melhorar ainda. Juro pra você, as coisas ainda vão melhorar. —Léo afirmou, como se tivesse me fazendo uma promessa.

E por algum motivo, acreditei nele. Acreditei no brilho caloroso nos seus olhos, desejando que ele estivesse ali para que eu pudesse pedir um abraço. Acho que Léo não me julgaria se eu fizesse isso. Acho que ele me abraçaria e não me soltaria mais. Senti um nó se formando na minha garganta, começando a entender o sentimento borbulhando dentro de mim. Um sentimento totalmente ligado a ele.



Continua...

Todas as ondas do amor / Vol. 4Onde histórias criam vida. Descubra agora