Abri um sorriso enorme, caminhando até a construção de madeira no início da praia, simples e quase adorável, com as decorações de verão pelas paredes. O rapaz de pele negra estava na entrada, arrumando uma prancha, enquanto havia várias escoradas na parede atrás dele. Eduardo parou ao meu lado, observando-o trabalhar, antes de erguer as sobrancelhas e olhar pra mim.
—Olá. —Eduardo se aproximou, subindo os degraus que davam para a varanda onde o rapaz estava. Ele ergueu a cabeça assim que nos viu. Não parecia ser muito mais velho que meu irmão. —Eu sou o Eduardo, essa é a minha irmã Érika. O Diogo disse que você estava precisando de alguém pra dar aulas de surfe.
—Ah, sim, sou o Thalis. —Ele estendeu a mão para o meu irmão e os dois se cumprimentaram, antes de eu fazer o mesmo. —Você deve ser a Érika. Diogo me disse que você surfa muito bem. Desculpa não entrar em contato antes, eu tava meio enrolado.
—Tudo bem. Você acha que eu poderia tentar? —Indaguei, vendo a atenção do meu irmão ir para todas aquelas pranchas no canto da varanda. —Nunca dei aula de surfe, mas não deve ser nada difícil.
—Podemos fazer um teste, o que acha? Hoje mesmo, se estiver disponível. —Thalis abriu um sorriso e apontou para um ponto mais a frente na praia. Me virei, com meu sorriso diminuído quando eu vi o grupo de crianças que não deveriam passar dos 10 anos. —São 8 crianças. Elas já sabem o básico, mas precisam de um professor pra pegar práticas.
—Eu não sei se isso é uma boa ideia. —Eduardo afirmou, colocando as mãos na cintura, enquanto parava ao meu lado e olhava com uma careta para aquelas crianças. Elas estavam gritando e rolando pela areia, de uma forma muito animada.
—As crianças são tranquilas, cara. —Thalis afirmou, e meu irmão coçou a garganta e negou com a cabeça ao mesmo tempo, completamente cético.
—O problema não são as crianças. —Retrucou, e eu me virei pra ele na mesma hora, totalmente ofendida, erguendo as mãos pra cima como se esperasse que ele explicasse aquilo. Mas meu irmão apenas deu de ombros, enquanto Thalis soltava uma risada e olhava para nós dois com diversão. —Quer mesmo fazer isso, Érika?
—Claro. Vai ser meu primeiro emprego, com algo que eu gosto de fazer. —Falei, me virando para Thalis com um sorriso animado, porque não me assustaria nem que fossem 100 crianças para dar aula. —Posso começar agora mesmo.
—Muito bem, vou chamar as crianças pra você conhecê-las. —Thalis se afastou em direção ao grupo, enquanto Eduardo parava ao meu lado, ainda parecendo cético. Fiz uma careta pra ele, que ele nem mesmo pareceu ligar muito, porque cruzou os braços na frente do peito e encarou o mar. —Você podia ter um pouco mais de fé em mim.
—Eu tenho. —Ele riu, antes de comprimir os lábios para conter aquilo. —Só tente não assustar as crianças com esse seu jeito meio maluco.
Dei um empurrão nele de leve, antes de descer para a praia quando Thalis se aproximou com as crianças. Eram quatro meninas e quatro rapazes. Fiz uma careta quando vi um deles limpando o nariz, antes de limpar na própria bermuda. Abri um sorriso torto quando os 8 pararam na minha frente e me encararam, antes de Thalis parar ao meu lado.
—Crianças, essa é a Érika. Ela vai dar aulas de surfe pra vocês. —Thalis afirmou, e as crianças apenas piscaram, me encarando como se eu fosse uma estranha. Eu era uma estranha, mas eu esperava conseguir controlar aqueles 8 pratinhas. —Érika, essas são Karina, Valentina, Ana, Daniela, Igor, Samuel, Rafael e Yuri.
Franzi a testa, porque Thalis tinha apontado pra cada um deles ao dizer o nome, mas eram tantos que eu já nem lembrava mais qual era o primeiro nome e nem quem era quem. Aquelas crianças continuavam me encarando, mas agora com uma curiosidade que estava começando a me deixar sem jeito.
—Vou deixar vocês sozinhos pra poder conversarem e se entenderem. —Thalis sorriu, antes de se virar para me encarar. Engoli em seco, abrindo um sorriso confiante pra ele. —Pode perguntar o nível deles no surfe e avaliar como achar melhor. No final eles só precisam estar surfando muito bem, que nos dois ganhamos. As pranchas estão lá dentro, assim como os coletes. Se precisar de qualquer coisa, só falar comigo.
Thalis deu um tapinha no meu ombro, me deixando sozinha ali com aquelas crianças. Segui ele com os olhos, até ele subir os degraus da varanda. Eduardo já não estava mais lá e quando me virei para procurá-lo ele já estava no mar pegando algumas ondas. Comprimi meus lábios, antes de fazer uma careta quando vi que aquelas crianças ainda me encararam.
—Bom, então... —Juntei minhas mãos, sem fazer ideia de por onde começar. Tentei me lembrar de quando meu irmão me ensinou a surfar, mas fazia tanto tempo e as vezes eu tinha a sensação que eu já tinha nascido sabendo.
—Você não é muito nova pra ser professora? —Uma das garotinhas perguntou. Ela usava um maio fofo de cerejas e tinha os cabelos pretos presos em um rabo de cavalo alto, igual ao meu.
—Eu tenho 16. Quase 17, na verdade. —Falei, porque meu aniversário já estava batendo na porta e eu já estava contando os dias pra ele.
—Eu tenho um irmão com essa idade. —Foi um dos meninos que falou dessa vez, balançando o corpo de um lado para o outro, enquanto apertava o tecido da bermuda que estava usando. —Mas ele é um idiota.
Soltei uma risada alta, antes de tampar os lábios com a mão para conter aquilo, porque tinha saído sem querer. Não estava esperando ouvir aquilo, ainda mais sendo dito de uma forma tão inocente e genuína. Ok, o garoto número um que eu não me lembrava o nome era meu favorito. Com toda certeza eu ia me dar muito bem com ele.
—Moça, eu tô apurado pra mijar. —Outro menino falou, e eu abri e fechei a boca algumas vezes, sem saber como responder aquilo. Por que diabos ele estava me contando aquele fato?
—Se prepara, porque ele é um mijão. —A menininha de cabelos loiros trançados falou, fazendo os outros cairem na risada, enquanto o garoto se virava pra ela constrangido e com raiva. Quase ri também, até me dar conta de que talvez não fosse uma boa ideia.
—E você chora toda vez que não consegue fazer alguma coisa e corre pro colinho da mamãe! —O garoto retrucou, antes de todos eles começaram a falar ao mesmo tempo, gritando, rindo e fazendo acusações. Não conseguia prestar atenção em nenhum deles, porque eles falavam rápido demais. Soltei um suspiro pesado, torcendo para não enlouquecer ali.
Continua...
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Todas as ondas do amor / Vol. 4
RomanceÉrika tem uma lista de sobrevivência até os 18 anos. Morar com o pai certamente não está nessa lista. Principalmente depois de descobrir que ele havia traído sua mãe e uma briga pela sua guarda se iniciar, envolvendo até mesmo seu irmão mais velho...