Capítulo 45: Senti saudades.

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Parei ao lado de Rodrigo na mesa, soltando uma risada ao ver que ele estava enchendo a mão com mais docinhos do que podia carregar. Léo olhou pra ele com as sobrancelhas erguidas, claramente o julgando mentalmente por aquilo. Eu não me incomodava nem um pouco, porque já estava acostumada com aquele jeito dele.

—Os doces não vão sair correndo, sabia? —Léo afirmou, e Rodrigo olhou pra ele com uma expressão de tédio, antes de enfiar um brigadeiro na boca e dar de ombros.

—Achei que vocês iam chegar hoje de manhã. Os jogos já começaram. —Falei, olhando para Léo, que comprimiu os lábios de leve antes de sorrir. —Você sabia que vocês dois não iam chegar hoje cedo e nem me avisaram. Não gosto de surpresas que me deixam ansiosa.

—Então você estava ansiosa pra ver a gente? —Léo questionou, se escorando na mesa e me lançando um olhar cheio de significado que deixou minha pele quente. Rodrigo se engasgou ao meu lado, ou fingiu ter se engasgado, porque tossiu e fingiu naturalidade quando Felipe se aproximou da mesa. —Não viemos com a escola. Na real, a gente veio sim, mas não como da outra vez. Fui o único da equipe de xadrez que continuou no campeonato.

—Só você? —Questionei, sem conseguir acreditar, e Léo deu de ombros, fingindo que aquilo não era grande coisa. —Então não vieram de ônibus.

—Não, a gente veio de carro junto com o professor. Mas meus pais conseguiram autorização pra que a gente ficasse com a Júlia dessa vez. Eu, na verdade. —Léo olhou para Rodrigo, que escondeu o sorriso ao virar o rosto para procurar os outros. —Ele é só um clandestino.

—Você não recebeu autorização pra vim? —Indaguei, olhando para Rodrigo. Ele balançou a cabeça negativamente, terminando de comer antes de conseguir falar. —Mas você veio mesmo assim.

—A diretora não achou que fazia sentido eu estar junto. Já tinha sido um milagre ela deixar da outra vez. —Rodrigo tombou a cabeça de lado, abrindo um sorrisinho suave. —Mas eu não ia perder o seu aniversário. Além do mais, são só 10 dias. Eu não vou reprovar por causa disso.

—Você é meio maluco, né? —Soltei, fazendo Rodrigo soltar uma risada, antes de exibir uma expressão super inocente.

—Quando eu te avisei você não quis me ouvir. —Léo afirmou, dando um empurrão de leve em Rodrigo quando ele mostrou o dedo do meio pra ele. Observei os dois juntos, me dando conta que se eles iriam ficar com Julia, não havia mais escapadas do alojamento. Eles estavam livres pra sair quando quisessem.

—Meu pai me tirou do castigo. —Falei, o que chamou a atenção dos dois. Eles me encaram, ambos surpresos, o que me fez soltar uma risada baixa. —É, eu sei, foi bem surpreendente. Mas ele está super feliz desde que voltou da viagem. Tenho a sensação que não foi nada do trabalho e sim...

—A outra? —Rodrigo questionou, e eu confirmei com a cabeça. Tínhamos abaixado o tom de voz para que ninguém ouvisse. Mas estiquei o pescoço, vendo que todo mundo estava distraído na sala, conversando sobre quem tinha escolhido as músicas. —Ele ainda tá com a Fiona?

—É, ele tá sim. Não consigo entender porque ele faz esse tipo de coisa. Não era mais fácil ficar solteiro? —Indaguei retoricamente, apertando meus lábios em frustração, porque meu pai continuava provando que não era exemplo de nada. —Tem outra coisa. A Fiona tá começando a desconfiar que eu trazia alguém aqui pra casa quando estava de castigo. Eu acho que consegui enrolar ela, mas isso significa que ela provavelmente tá ligada no que eu ando fazendo.

—A gente pode... —Léo não terminou, porque Júlia se enfiou entre ele e Rodrigo. Ela encarou cada um de nós, porque tínhamos parado de falar assim que ela chegou, o que era estranho demais e quase me fez rir.

—Érika, seu irmão disse que tem cerveja. —Júlia fez um beicinho pidão pra mim, que arrancou uma risada de Léo, enquanto eu comprimia os lábios com o pensamento que surgiu na minha cabeça.

—Eu vou buscar, mas só se eu puder beber hoje também. —Afirmei, alto o suficiente para que Eduardo escutasse. Meu irmão me olhou da sala, juntando as sobrancelhas como se tivesse pensando no fato. —Meu aniversário. Eu mereço. Não é como se você não tivesse começado a beber antes de ser maior de idade.

—É verdade. —Bernardo concordou, lançando um olhar meio torto para Edu, que revirou os olhos.

—Ok, mas só uma... Érika! —Ele gritou quando disparei para a cozinha, e eu escutei apenas a gargalhada de Júlia atrás de mim. Escutei Rodrigo falar alguma coisa, mas não entendi o que era até ver ele e Léo vindo atrás de mim, com a intenção de me ajudar.

—Depois quero mostrar uma coisa pra vocês. —Falei, abrindo a geladeira e tirando as cervejas que Eduardo tinha trazido e as colocando na bancada para que eles pudessem pegar e levar pra mesa. —É algo que eu fiz depois que percebi que a Suellen estava desconfiando.

—Ela não vai descobrir nada. —Léo afirmou, e eu queria realmente acreditar nele, mas era difícil quando eu não confiava nem um pouco em Suellen.

Peguei as últimas cervejas e deixei sobre a bancada, fazendo menção de me virar para a geladeira mais uma vez. Só então percebi que Rodrigo já não estava mais ali e que Léo estava bem do meu lado. Ergui a cabeça para olhar pra ele, dando um passo para trás quando ele se inclinou e fechou a porta da geladeira atrás de mim, antes de minhas costas ficarem grudadas nela quando ele parou na minha frente.

—Oi. —Léo sussurrou, aproximando o rosto do meu. O tom baixo da voz dele foi o suficiente para me causar um arrepio pelo corpo inteiro, que deixou minha boca seca.

—Oi. —Falei de volta, erguendo o queixo quando o nariz dele roçou no meu. Senti a pulsação na minha garganta quando Léo abriu um sorriso, com a mão escorada atrás de mim e a outra deslizando até minha cintura. Fiquei um pouco tensa, porque minha barriga ficou fria, de uma forma que parecia haver uma revoada de borboletas dentro dela.

—Senti saudades. —Léo afirmou, quase sem fôlego, escorando a testa na minha. A mão apertou minha cintura, deixando um rastro de calor antes de ele erguer até meu rosto. As palavras se embolaram na ponta da minha língua, porque me senti estranhamente tímida para dizer a ele que eu também tinha sentido saudades.

A mão dele deslizou pela minha bochechas, deixando minha pele arrepiada e minha respiração pesada. O medo de alguém entrar ali e nos pegar me deixou ansiosa, mais porque não queria que ninguém interrompesse. Os olhos de Léo analisaram meu rosto antes de ele encarar minha boca. A mão desceu, parando na lateral da minha garganta, antes de a segurar da mesma forma que ele tinha feito da primeira vez, mas agora com um carinho de partir o coração.

Soltei uma respiração pesada, erguendo a mão e agarrando a nuca dele, antes de o beijar, porque ele estava demorando de mais e aqueles toques estavam me deixando com as pernas bambas. Léo suspirou contra a minha boca, retribuindo o beijo quando o puxei com força pra mim, e eu quase tive a sensação de que ele estava sorrindo quando fez isso.


Continua...

Todas as ondas do amor / Vol. 4Onde histórias criam vida. Descubra agora