Capítulo 64: A gente conseguiu.

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Da última vez que eu estive sentada nessa cadeira, as coisas não saíram como eu esperava. Mas agora eu tenho a sensação que tudo vai dar certo, porque pela forma que a nova juíza está encarando meu pai, ela mesmo poderia levá-lo direto a uma cela, prendê-lo lá e jogar a chave fora para que ele nunca mais conseguisse sair. Eu não a julgaria por isso, assim como meu irmão provavelmente não a julgaria também.

Pois é, acho que meu pai não pensou na possibilidade de ser preso caso alguém descobrisse sua amizade com o juiz e como isso influenciou todas as decisões dele no processo da minha guarda. Mas o juiz foi afastado e vai ser julgado por isso, assim como meu pai vai precisar pagar pelo mesmo crime. O carma pode demorar, mas quando ele chega é bem difícil escapar dele.

—A algumas semanas atrás você já respondeu essa pergunta. E apesar de eu achar que ela seria suficiente para tomar uma decisão naquele tempo, vou refazê-la mesmo assim. —A juíza me encarou com uma expressão séria, de quem só estava tentando fazer o trabalho da melhor forma possíveis. —A senhoria já tem 17 anos. É uma adolescente que tem plena consciência do que está acontecendo. Com quem a senhorita gostaria de ficar?

—Com o meu irmão mais velho. —Falei, umedecendo os lábios com a língua quando procurei pelos olhos de Eduardo, vendo que ele parecia tenso, mas um pouco mais aliviado pela juíza não ser como o anterior. —Ele sempre cuidou de mim, desde que eu era bem pequena. E ele se preocupou comigo mais do que qualquer pessoa quando nossos pais resolveram se separar. Nossa mãe acha que ele é a opção certa. Quero ficar com ele. Não tem qualquer outra opção pra mim que não seja essa.

A juíza continuou me encarando, como se esperasse que eu falasse mais alguma coisa. Depois assentiu, encarando os papéis na sua frente. O torcer de lábios que ela deu quando viu o BO que eu abri contra meu pai poderia ficar registrado na história, porque eu tinha certeza que vi meu pai se encolhendo na cadeira. E ele estava incrivelmente silêncio hoje, como se soubesse que não havia nada que pudesse fazer pra mudar isso.

—Não acho que exista mais nada para ser analisado aqui para que eu tome minha decisão. —Ela ergueu a cabeça para encarar meu pai, que preferiu encarar a mesa na sua frente. Imagino que pela cara do advogado dele, foi ele quem pediu para que meu pai não abrisse a boca, para não se complicar mais ainda. —O senhor não tem qualquer condição de cuidar da sua filha. E não estou me referindo a condição monetária. Com as acusações abertas contra o senhor, é bem provável que vá ser preso em algum momento do futuro.

Olhei para o meu pai, tentando sentir alguma coisa. Pena e até mesmo raiva. Mas nenhuma dessas coisas veio, porque ele parecia mais um estranho na minha vida do que meu pai de verdade. Ele ergueu os olhos como se sentisse que eu estava o observando. A expressão amarga no seu rosto deixava claro que ele estava me culpando por tudo isso que estava acontecendo.

—Com base na sua renda, sr. Mendes, e na renda da sua ex esposa, vamos estipular o valor da pensão que deverá ser paga até sua maior idade. —A juíza começou a juntar os papeis, já se levantando, como se seu trabalho ali tivesse chegado ao fim. Ela olhou na minha direção, antes de erguer os óculos de grau que usava e encarar meu irmão. —Eu concedo a guarda total da menor Érika Mendes ao seu irmão mais velho, Eduardo Mendes. E essa é a minha decisão final.

Soltei o ar com força, deslizando um pouco na cadeira antes de esconder meu rosto entre as mãos, sentindo um alivio tão grande dentro de mim que não consegui conter as lágrimas que escorreram pelas minhas bochechas. Senti a mão da minha mãe tocar meu ombro, tentando me passar algum tipo de conforto. Tinha certeza de que por dentro ela estava soltando fogos de artifício, assim como iria dar uma festa enorme assim que meu pai realmente fosse preso.

Afastei as mãos do rosto, sem fazer questão de limpar minhas lágrimas quando olhei para todas as pessoas naquela sala, até encontrar Eduardo comemorando junto com o advogado dele. Abri um sorriso quando meu irmão olhou ao redor procurando por mim, sorrindo assim que viu que eu já estava indo na direção dele.

Praticamente corri para chegar até ele, afundando meu rosto na sua garganta quando ele me abraçou tão apertado que fiquei até mesmo sem ar. Eduardo beijou o topo da minha cabeça, sem me soltar um único segundo sequer. Meu coração batia tão rápido que eu o sentia na minha garganta, assim como meus sentimentos que ameaçavam transbordar com a felicidade que eu sentia naquele momento.

—A gente conseguiu. —Eduardo sussurrou, afundando o rosto nos meus cabelos, enquanto eu balançava a cabeça que sim, sem conseguir ver nada por conta das lágrimas que borravam meus olhos. —A gente finalmente conseguiu, pirralha.

—Obrigada. Obrigada. Obrigada. —Soltei, sentindo um nó se formar na minha garganta quando Eduardo se afastou para encarar meu rosto, parecendo muito confuso naquele momento. —Obrigada por não desistir de mim. Eu sei que isso estava estressando você e atrapalhando sua vida...

—Érika, você é minha irmã. Você é minha família. Você nunca vai atrapalhar a minha vida. —Eduardo se inclinou e deixou um beijo demorado na minha testa, enquanto eu fechava os olhos com força e engolia em seco. —Vem, vamos pra casa. Não temos mais nada pra fazer aqui.

Eduardo passou o braço ao redor dos meus ombros, seguindo comigo até a porta, onde nossa mãe nos esperava com um sorriso muito satisfeito. Olhei por cima do ombro, vendo que meu pai continuava sentado no mesmo lugar, completamente imóvel. A expressão tão congelada que ele nem parecia estar respirando. Era a visão perfeita da derrota.

Abri um sorriso quando saímos da sala e eu encarei o rosto aliviado e tranquilo do meu irmão, sabendo que precisava agradecer a outras duas pessoas por isso, porque isso não teria sido resolvido assim se eu não tivesse contado com a ajuda deles. Mas agora eu teria tempo pra isso, assim como poderia parar de me sentir sozinha ou indesejada, porque finalmente poderia voltar pra casa.


Continua...

Todas as ondas do amor / Vol. 4Onde histórias criam vida. Descubra agora