Capítulo 13: O que você fez?

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Meu pai não fez absolutamente nada de diferente aquele dia, além de ficar naquela maldita loja e nós deixar plantados naquela praça por horas. Rodrigo tinha voltado uma hora depois, trazendo várias coisas diferentes pra gente comer, murmurando algo sobre não saber do que eu gostava. Quando começou a entardecer, percebi que era a hora de ir, ou o meu pai ia chegar em casa antes de mim.

—Então amanhã não vamos tentar de novo? —Rodrigo questionou, e Léo fez questão de negar com a cabeça, enquanto eu comprimia meus lábios ao saber que eles iriam passar o dia todo se divertindo, enquanto eu estaria trancada em casa. Senti uma pontada de inveja e odiei meu pai um pouco mais naquele momento.

—É bem provável que meu pai vá passar o dia todo em casa com a Fiona amanhã. —Falei, dando de ombros, porque eles tinham mania de fazer isso, como se gostassem de tirar meu sossego. —Então não tem muito que a gente possa fazer.

—Que pena. Queria descobrir algum podre do seu pai. —Rodrigo soltou um suspiro desanimado, como se realmente estivesse ansioso por aquilo. Soltei uma risada, guardando as bicicletas de volta no depósito, porque não queria que meu pai chegasse e as visse ali.

—Se precisar de alguma coisa amanhã, mesmo que a gente esteja na praia...

—Eu tenho irmão, sabia? —Falei, lançando a Léo um sorriso sarcástico, porque ele estava sendo prestativo demais, mesmo quando não precisava. Ele deu de ombros, como se só estivesse tentando ajudar, enquanto me encarava com uma expressão distante, como se estivesse pensando bem longe.

Os dois foram embora depois de Léo pedir um Uber, enquanto eu fiquei observando da entrada da garagem. Quando o carro desapareceu, entrei em casa, encontrando tudo no mais absoluto silêncio. Mas não fui muito longe, porque como eu suspeitava, Fiona tinha entrado ali durante a tarde, quando eu estava fora.

—Olha, parece que alguém desobedeceu as ordens do pai. —Sibilou, com um tom de voz cheio de prazer, como se fosse gostar muito de contar pro meu pai. Olhei bem pra cara dela, me perguntando se ela tinha visto Léo e Rodrigo, mas se tivesse mesmo visto, já teria feito alguma piada em relação a eles.

—Eu estava na casa da árvore. —Menti, porque sabia que Suellen nunca chegaria perto daquela casa da árvore lá atrás. —Tentando não olhar pra sua cara.

—Eu tento ser legal com você, sabia? Mas você simplesmente transforma tudo em uma guerra. —Resmungou, batendo os pés para dentro do quarto, parecendo realmente ter acreditado na minha mentira. Não que eu achasse que ela se importava de fato.

—Ei, Fio... Suellen? —Me engasguei com uma risada quando ela parou no batente da porta e olhou pra mim com desdém, além de parecer muito desconfiada. —Nos duas podemos fazer um acordo.

—Que acordo, garota? Você não tem nada que eu possa querer.

—Você não quer que eu te deixe em paz? —Indaguei, lembrando das coisas que Léo tinha dito pra mim. Eu precisava aprender a jogar como meus adversários, se não nunca conseguiria sair do lugar. Suellen hesitou, como se estivesse ainda mais desconfiada de mim. —Se convencer meu pai a me deixar ir pra praia amanhã, prometo deixar você em paz. Nada de tinta nos fracos de shampoo. Nada de apelidos. Qualquer coisa que você não goste que eu faça.

—Como eu posso saber que você não vai mesmo continuar? —Questionou, cruzando os braços na frente do peito:

—Não foi você que disse que queria que fôssemos uma família? —A última palavra tinha saído com tom de descrença, quase queimando na minha língua. Suellen revirou os olhos, como se aquilo fosse uma idiotice. Ficava feliz de pelo menos nosso concordar com ela. —Só precisa convencê-lo a me deixar ir pra praia. Você vai ter a casa toda pra você amanhã.

—Vou pensar se você merece. —Afirmou, entrando no quarto e batendo a porta, enquanto eu soltava um suspiro pesado e soltava um palavrão baixinho. Iria fingir ser comportada até conseguir o que queria. Ela não tinha me perguntado até quando eu a deixaria em paz e eu não tinha estipulado um prazo também, o que deixava tudo em aberto.

[...]

—O que você fez? —Eduardo questionou, pelo que eu imaginava ser a centésima vez. Soltei uma risada, me sentindo feliz demais por ter saído de casa e finalmente poder ter um momento de paz. —Ele não ia deixar você sair assim de boa depois da cena de ontem de manhã. O que você fez?

—O que ele te disse? —Indaguei, me virando no banco e olhando pro meu irmão, que estava dirigindo. Ele tinha vindo me buscar logo cedo, falando que eu ia passar o dia com ele. Fingi normalidade enquanto arrumava minhas coisas, mesmo que por dentro eu estivesse explodindo fogos de artifício.

—Ele disse que você pediu desculpas pra Suellen e que prometeu se comportar. —Meu irmão deu de ombros, enquanto eu exibia uma careta com a mentira que Suellen unha contado pro meu pai. —Eu tenho certeza que você preferiria morrer a pedir desculpas pra ela, então quero saber o que você realmente fez.

—Eu disse pra ela que parava de incomoda-la se ela convencesse meu pai de me deixar sair. —Falei, dando de ombros, vendo meu irmão me lançar um olhar confuso, como se ele não estivesse esperando por isso. —Sabia que ela ia aceitar, porque ela não suporta que eu a chame de Fiona.

—Bom, deu certo. —Eduardo soltou uma risada, antes de negar com a cabeça. —Mandou bem, pirralha. Mas você pretende mesmo deixá-la em paz?

—Claro que não. Incomoda-la é minha única diversão naquela casa da infelicidade. —Afirmei, soltando uma risadinha quando Eduardo me encarou com uma expressão divertida, antes de estacionar o carro no estacionamento do prédio. Soltei um suspiro pesado, me lembrando da última vez que tinha estado ali.

—Bem-vinda de volta então. —Eduardo afirmou, sem esperar por mim quando desceu do carro.

Corri para o elevador, ansiosa pra rever todo mundo, porque depois que as aula começaram, não consegui ver absolutamente ninguém. Era quase deprimente demais. Eduardo veio atrás de mim, parecendo se divertir com a minha animação. Fazer o que, não era sempre que eu estava tendo tanta sorte.

—Esta todo mundo aqui? —Questionei, assim que as portas do elevador se fecharam. Eduardo negou com a cabeça na mesma hora, antes de abrir um sorriso.

—Júlia e Felipe foram buscar o Léo e o amigo dele. —Esclareceu, enquanto eu mordia o lábio inferior com força, me perguntando se Léo tinha avisado a Rodrigo para fingir que não me conhecia, já que ninguém sabia sobre nossa saída de ontem.


Continua...

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