Capítulo 11: Você não vai?

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Tinha esperado meu pai sair durante a tarde pra enviar mensagem para Léo, avisando que já estava livre pra sair. Peguei uma mochila e ajeitei algumas coisas minhas, enquanto esperava por notícias de Léo. Ele não tinha me dado certeza de que iria conseguir ficar livre durante a tarde, mas eu esperava que sim, ou faria aquilo sem ele.

Depois de pegar tudo, fiz questão de deixar a tv do meu quarto ligada e com um volume suficiente para se ouvir no corredor, além de trancar a porta do quarto. Suellen poderia aparecer ali durante a tarde e eu não queria que ela percebesse que eu tinha saído. Tinha certeza que ela sairia correndo pra contar pro meu pai.

Desci até a garagem, abrindo a porta do depósito onde as bicicletas estavam guardadas, em perfeito estado. Abri um sorriso enorme, me lembrando da última vez que tinha saído pra andar de bicicleta. Meus pais ainda estavam juntos. Eduardo ainda morava nessa casa, em um período em que era totalmente rebelde.

—Você não estava indo sem a gente, né? —Ergui a cabeça quando escutei a voz de Léo, o encontrando do outro lado do portão. Abri um sorriso, antes de negar com a cabeça e fazer sinal para que eles entrassem, porque Rodrigo estava bem atrás dele.

—Vocês estavam demorando. Achei que não iam conseguir vir. —Falei, antes de juntar as sobrancelhas quando vi o binóculos que estava pendurado no pescoço de Rodrigo. —Por que diabos você está usando isso?

—Comprei numa lojinha no caminho até aqui. Se vamos espiar alguém, temos que fazer do jeito certo. —Ele deu de ombros, colocando o binóculos na frente dos olhos, antes de soltar uma risada, porque provavelmente estava vendo uma versão enorme e desajeitada do meu rosto.

—Para de se bobear. —Léo empurrou as mãos de Rodrigo, fazendo ele abaixar aquilo, antes de olhar pra mim. —Tem certeza que quer fazer isso?

—Por quê? —Questionei, indo pegar a outra bicicleta dentro do depósito, enquanto ele me seguia com os olhos. —Você mudou de ideia?

—Não, mas não sou eu que estou saindo escondido de casa. Só não quero te meter em problemas. —Léo deu de ombros, soando muito sincero naquele momento.

Parei ao lado dele com a minha bicicleta, encarando aqueles olhos claros como se eles estivessem querendo me dizer alguma coisa. Algo dançou na boca do meu estômago quando Léo abriu um sorriso pra mim, me fazendo morder o lábio inferior e desviar os olhos, encarando as fitas rosas penduradas no guidão da minha bicicleta.

—Se não quiser ir, vou sozinha. —Indiquei Rodrigo com a cabeça, que estava ocupado observando a casa na árvore nos fundos da casa. —E eu levo ele comigo, já que de nós três, ele parece ser o único a ter entrado no espírito da coisa.

Léo revirou os olhos e pegou a bicicleta de Eduardo, que era bem maior que a minha, além de ser azul. A minha era rosa em todos os pontos que alguém poderia imaginar e foi engraçado ver a cara de Rodrigo quando percebeu que ficaria com ela. Comprimi os lábios pra não rir, antes de entregar a bicicleta pra ele.

—Por que justamente eu tenho que ficar com essa? —Questionou, montando na bicicleta, antes de soltar uma risada quando notou que ela tinha um sininho, além de balançar aquelas fitas no guidão.

—O terceiro membro da equipe sempre fica com os piores equipamentos. —Léo afirmou, enquanto eu soltava uma risada da expressão descrente de Rodrigo.

—Não sei de onde você tirou isso. —Rodrigo retrucou, enquanto eu subia atrás de Léo na bicicleta, colocando meus pés no suporte para ficar de pé atrás dele. —O terceiro membro da equipe é sempre o mais inteligente e o que tem as melhores coisas.

—Ei, minha bicicleta é ótima. Ela só é... —Torci os lábios quando não soube bem o que dizer, me segurando nos ombros de Léo quando ele saiu para a calçada, com Rodrigo vindo atrás de nós.

—Excessivamente rosa? —Léo me lançou um olhar divertido por cima do ombro, enquanto eu fazia uma careta pra ele e olhava pra trás. Rodrigo piscou pra mim, como um sinal de que estava tudo ok. —Pra onde vamos primeiro?

Léo parou na primeira esquina da minha rua, enquanto eu puxava o papel do bolso da jaqueta e procurava qual compromisso meu pai estava tendo naquele momento. Como não havia nada marcado, passei a Léo o endereço do lugar onde ele trabalhava, sentindo uma sensação boa por estar fazendo aquilo.

[...]

—Seu pai vende carros? —Rodrigo questionou, olhando na direção da imensa loja de carros com aquele binóculos.

Havia uma praça do outro lado da rua, onde tínhamos encontrado um lugar bom para deixar as bicicletas e um banco para sentar. Era longe o suficiente para que meu pai não nos visse ali, caso ele por acaso estivesse olhando pela janela, apesar de eu achar que ele tinha coisas mais interessantes pra fazer do que ficar olhando adolescentes em uma praça.

—Ele trabalha na parte administrativa, na verdade. —Falei, olhando para todos aqueles carros expostos lá na frente, com uma expressão entediada. —Parece um trabalho chato pra caramba, apesar de ele ganhar bem.

—Como vamos ter certeza de que ele está lá e não em outro lugar? —Léo indagou, olhando pra mim com as sobrancelhas erguidas. Segurei o queixo dele, girando seu rosto até apontar para o carro preto estacionado perto da loja.

—Aquele é o carro dele. Ele está aqui. Espero que ele não nos faça ficar o dia todo aqui na frente pra nada. —Afirmei, puxando meu celular para ver a hora, porque já fazia quase duas horas que estávamos ali. —Então, vocês vão mesmo pra praia amanhã?

—Claro, guria, vim aqui só pra isso. Se eu precisar voltar pra casa antes de ir pra praia, me jogo na frente de um ônibus. —Rodrigo murmurou, me fazendo soltar uma risada com o jeito que ele falava, além de ele soar super dramático. —Você não vai?

—Não. —Falei, abaixando a cabeça para chutar uma pedrinha no chão. Olhei para Léo quando senti que ele estava me encarando, observando a curiosidade presente nos olhos dele. —Tivemos um momento família interessante hoje cedo, em que eu falei algumas coisas legais pra Fiona. Então meio improvável que eu saia de casa pela próxima década.

—Seu pai é um merda, sabia? —Afirmou, balançando a cabeça negativamente, com a voz soando frustrada e resignada. —O que ele está fazendo com você não é nem um pouco justo. Você não é uma criança pra ele te tratar desse jeito. Você deveria ter o direito de escolher.

—É, mas ele não liga. Tudo que importa é o que ele quer. —Abri um sorriso torto para Léo, mesmo que ele ainda parecesse muito incomodado naquele momento. —Mas tudo bem, eu já estou acostumada. Espero que vocês se divirtam na praia amanhã. Peguem muitas ondas por mim.

Empurrei o ombro de Léo de leve, na brincadeira, tentando deixar o clima mais leve ali, ja que falar do meu pai parecia trazer uma nuvem negra pra cima das nossas cabeças. Mas Léo não sorriu, mantendo aquela expressão fechada enquanto olhava pra mim, como se estivesse com os pensamentos longe.


Continua...

Todas as ondas do amor / Vol. 4Onde histórias criam vida. Descubra agora