Capítulo 18: Eu estou bem.

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Abri um sorriso enquanto procurava um dorama para assistirmos. Manu e Camila estavam fazendo pipocas na cozinha, enquanto Júlia arrumava a sala para que pudéssemos deitar juntas em um colchão que ela havia trazido e colocado na frente do sofá. Não era a primeira vez que fazíamos isso, mas fazia tempo que eu não fazia isso, já que meu pai me proibiu de fazer absolutamente qualquer coisa.

Meu irmão tinha saído, junto com Felipe e Bernardo, levando Léo e Rodrigo. Os cinco iam até o bar tocar um pouco, deixando o apartamento só pra nós. Eu estava me sentindo muito bem com aquilo, porque estava mesmo precisando de um momento só com elas. As vezes eu sentia falta de ter uma amiga. Ou sentia falta da minha própria mãe, quando a casa do meu pai parecia grande demais.

—Você está assistindo os jogos do Léo? —Júlia questionou do nada, me fazendo juntar as sobrancelhas e olhar pra ela. —É que é na sua escola. Achei que poderia estar assistindo. Você e o Rodrigo pareciam bem próximos.

—Vi alguns poucos jogos, na verdade. Não fomos liberados da aula pra isso. —Soltei uma risada, tentando não demonstrar um pouco da minha ansiedade em falar sobre aquilo. —Léo me apresentou o Rodrigo no dia que a gente se encontrou pelos corredores. Nada demais. Acho que o Rodrigo só tem a mesma vibe que eu e isso ajudou que a gente se desse bem.

—Ele é super animado mesmo. Um pouco maluco, mas gente boa. —Júlia sorriu, se deitando com as costas escoradas no sofá, enquanto olhava pra mim. —Vi você e o Diogo conversando quando estávamos na praia. Você ainda...

—Ah, não, não. —Soltei uma risada sincera, porque lembrei de Léo perguntando a mesma coisa, quase como se ele e Júlia dividissem o mesmo neurônio. —Foi só uma paixãozinha de nada. Já saí dessa faz tempo. A gente só tava conversando numa boa sobre surfe.

Nem tinha percebido que tinha esquecido completamente de Diogo, porque tinha pensando bastante nele quando o conheci. Mas aquilo realmente não ia dar em nada, além de ele ser bem mais velho que eu. No fundo, acho que eu só estava tentando me distrair do que estava acontecendo na minha família, antes das coisas tomarem proporções tão grandes que eu não consegui mais fingir que estava tudo bem.

Léo tinha sido tão idiota por pensar que eu ainda me interessava por Diogo, quando eu não pensava nele a semanas. Sequer lembrava da sua existência. Se Léo não tivesse falado dele, eu ia continuar me importando tanto quanto agora, nada. E eu odiei como me senti ao ser ignorada, porque de novo soava como se eu não tivesse valor algum pra ninguém.

—Você sabe que o Diogo era meio apaixonado pela Manu, né? —Júlia torceu os lábios de leve, olhando na direção da cozinha, como se quisesse checar que Manu não estava ouvindo. —Não tenho certeza se ele já superou isso, mas acho que ele já aceitou que ela está com o Bernardo. Ele não mudou no quesito amizade com a gente nem um pouco.

—Que bom que ele não é um babaca que não sabe lidar com sentimentos não correspondidos. —Afirmei, o que a fez soltar uma risada. Me sentei na ponta do colchão, deixando o dorama aberto na tv, só na espera das duas saírem da cozinha e se juntarem a nós. —Você acha que se eu tivesse ficado com o Diogo, ele ia se cansar de mim em algum momento?

—De onde você tirou isso? —Júlia questionou, me fazendo morder o lábio com força, tentando não ficar constrangida pela pergunta idiota. Eu deveria ter guardado aquilo só pra mim. Ou apenas ter ignorado qualquer coisa que Léo tinha dito no meio da nossa discussão. Aquilo não valia de nada.

—Nada, só estava pensando longe. Eu sou meio caótica as vezes e o Diogo é super calmo e na dele. —Falei, antes de balançar a cabeça negativamente e soltar uma risada, como se aquilo não tivesse importância nenhuma. —Só estava tendo aqueles pensamentos aleatórios sobre qual o meu tipo. Diogo era bonito e super legal, mas...

—Ele não era seu tipo e não teria dado certo? —Júlia completou por mim, e eu acabei dando de ombros, porque sabia que aquilo era meio que uma pergunta e eu não sabia dar uma resposta. Talvez eu até soubesse, mas não queria pensar nela. —E o que fez você começar a pensar nisso?

—Acho que eu estou me sentindo solitária demais com meus amigos começando a namorar. Meu próprio irmão também. As vezes seria bom ter um namorado para me distrair. —Afirmei, mesmo que fosse tudo mentira. Ou quase tudo, porque eu estava mesmo me sentindo solitária algumas vezes. —Não estou pensando nisso por causa do Diogo, ok? Juro que já esqueci. E ele deixou bem claro que não ia rolar nada.

—Sabe que pode conversar com a gente sempre que se sentir assim, não é? Pode ligar aqui pra casa. Ou pode chamar a gente, que a gente vai até lá te ver. —Júlia afirmou, e eu engoli em seco, percebendo que estávamos indo para um caminho desconfortável, do qual eu estava sempre tentando evitar. —As aulas começaram e o tempo ficou super curto, mas a gente da um jeito, Érika.

—Eu sei. Mas eu estou bem. —Abri um sorriso enorme, que até mesmo poderia me fazer acreditar que aquilo era verdade. Um sorriso tão dolorido que senti que aquilo iria me partir ao meio. —Essa conversa foi sem sentido. Isso nem tem importância. Diogo ou um namorado. Não estou procurando por um.

Júlia me encarou por um momento, como se estivesse tentando ter certeza de que estava realmente tudo bem. Fiquei feliz quando Manu e Camila finalmente saíram da cozinha, se juntando a nós duas naquele colchão no chão. Isso foi o suficiente para Júlia desviar a atenção de mim, o que me deixou incrivelmente aliviada.

Da próxima vez iria guardar meus pensamentos idiotas pra mim mesma, porque Júlia ou qualquer uma delas não precisava saber como eu estava me sentindo, a ponto de uma simples conversa me abalar mais do que deveria. Eu só precisava esquecer aquela discussão com Léo, o que ele estava tentando me dizer, que tudo ficaria bem.


Continua...

Todas as ondas do amor / Vol. 4Onde histórias criam vida. Descubra agora