Érika
Eduardo abriu a porta do quarto e foi arrumar a cama pra mim, mesmo que ele não precisasse fazer isso. Observei os movimentos tensos dele enquanto trocava a capa do travesseiro e depois ajeitava o edredom, checando se estava faltando alguma coisa antes de se virar para me encarar. A estranheza da situação me deixou quase constrangida.
A conversa com a polícia foi a mais fácil de todas, porque só precisei contar o que tinha acontecido em casa. Logo depois eles saíram pra conversar com Léo, pra ouvir o lado dele da história, já que ele estava lá. Meu pai tinha subitamente evaporado, como se já pudesse imaginar o que estava prestes a acontecer com ele.
Depois que a polícia foi embora, precisei ficar mais um tempo no hospital antes de eles finalmente me liberarem. O caminho pra casa foi esquisito, porque Léo se sentou no banco de trás junto comigo, enquanto Camila foi na frente com Edu. Nenhum de nós quatro abriu a boca para dizer qualquer coisa, como se isso fosse explodir o caos dentro daquele espaço pequeno.
Me despedi de Léo no corredor do prédio, porque já estava tão tarde e todo mundo precisava descansar. Eu tinha recebido tantas recomendações da médica antes de sair, que só queria deitar na cama e dormir por uma semana inteira. Minha cabeça ainda estava estranha, como se alguém tivesse batido um taco nela. Toda vez que eu pensava nisso, sinto mais alguma coisa dentro de mim se quebrar.
—Você precisa de alguma coisa? —Eduardo questionou, erguendo a mão para passar nos cabelos, parecendo super cansado. —Amanhã eu posso ir buscar algumas coisas suas na casa dele. E você não precisa ir pra aula. É melhor ficar em casa caso sinta alguma coisa diferente.
—Você tá bravo comigo? —Questionei, porque ele nem olhava pra mim direito. Na verdade, ele parecia completamente perdido. Nunca tinha visto meu irmão assim, como se alguém tivesse dado uma rasteira nele e o tirado do seu centro de equilíbrio.
—Não, Érika, é claro que eu não estou bravo com você. Nada do que aconteceu hoje é culpa sua. —Ele suspirou, fechando os olhos por um longo momento, antes de se aproximar de mim. —Hoje só está sendo um dia difícil. Só isso.
—Você ficou chateado porque eu estou namorando com o Léo. —Sussurrei, apertando meus lábios quando Eduardo ergueu os olhos e encarou meu rosto, parecendo estar pensando longe. Esperei que ele brigasse comigo, porque tinha a sensação que alguma coisa havia acontecido quando eu ainda estava no hospital, longe deles.
—Não é o namoro que me deixou chateado, ok? Você pode namorar quem você quiser. —Afirmou, e eu sabia que ele estava sendo sincero, porque a voz dele não se alterou em momento algum. —Mas parece que você anda me escondendo muitas coisas e eu não gosto disso. Quero ficar com você, Érika, então precisamos ser uma equipe. E uma equipe não esconde coisas um do outro.
—Não era a intenção esconder qualquer coisa. Mas a situação foi acontecendo naturalmente e quando eu vi... —Dei de ombros, e Eduardo assentiu com a cabeça, umedecendo os lábios com a língua antes de encarar o chão. —A gente ia contar tudo amanhã. O namoro, as fotos do nosso pai com o juiz. A gente ia contar. Juro pra você.
—Eu sei. Eu sei que iam. —Ele abriu um sorriso fraco, passando por mim para chegar até a porta. O segui com os olhos, esperando que ele conversasse comigo. —Já está bem tarde. Troca de roupa e deita pra dormir. Você precisa descansar. Se precisar de qualquer coisa ou se sentir mal, me avisa, tá bom?
—Tudo bem. —Falei, engolindo muito lentamente quando meu irmão saiu do quarto e fechou a porta. Engoli a vontade de chorar, sentindo minha garganta arder e meus lábios tremerem violentamente. Tudo estava dando tão errado que eu só queria desaparecer naquele momento.
Caminhei até o guarda-roupa e coloquei um pijama, tomando cuidado com o curativo na minha cabeça, assim como tentei não fazer movimentos tão bruscos, porque me sentia um pouco tonta ainda. Me sentei na cama, encarando aquele quarto, pensando no que fazer. Os minutos foram passando, enquanto aquela vontade de chorar não ia embora de jeito nenhum. Eu só queria que Eduardo voltasse ali e fizesse alguma coisa. Queria que ele me falasse que ia ficar tudo bem.
Fiquei de pé, odiando a ansiedade que ameaçava esmagar meu peito naquele momento, junto com o nervosismo quando caminhei até a porta e abri uma fresta. Quando não vi movimento nenhum, caminhei na ponta dos pés pelo corredor, vendo que havia apenas a claridade da tv ali, misturada com as vozes super baixas do meu irmão de e Camila.
—Deixa pra avisar o advogado amanhã. Ele nem vai te atender nesse horário. —Camila afirmou, e eu me inclinei na entrada da sala para ver os dois, sem deixar que eles me vissem. Os dois estavam sentados no sofá. —Você precisa descansar também. Vamos dormir.
—Não consigo. —Meu irmão falou tão baixo que quase não ouvi, enquanto encarava o chão e fechava os olhos quando Camila tocou o rosto dele e escorou o queixo no seu ombro. —Estou tão cansado, Cami. Não aguento mais precisar lidar com o meu pai. Não aguento mais essa situação de merda que ele nos enfiou.
—Eu sei, amor, mas tudo vai se resolver agora. Sei que vai. —Camila passou a mão no rosto dele e eu quase fiquei sem fôlego quando percebi que era pra limpar as lágrimas dele. —Vai ficar tudo bem. A Érika está aqui e logo ele não vai mais incomodar vocês.
Meu irmão apenas olhou pra ela, de uma forma que me fez ter certeza de que ele não acreditava 100% nisso. Estávamos tão acostumados a ver tudo dando errado, que até quando tudo estava do nosso lado parceira que ainda não ia dar certo. Limpei minhas próprias lágrimas enquanto observava Edu encostar a testa na dela, procurando o apoio que provavelmente só Camila conseguia dar agora.
Corri de volta para o quarto quando ela conseguiu convencê-lo a ir deitar, enquanto meu coração martelava no meu peito com a sensação de vazio estranha. Esfreguei as mãos nas bochechas, ainda parada perto da porta. A ansiedade me pegou com tanta força que me senti até enjoada. Meus dedos tremendo quando hesitei em abrir a porta quando escutei que eles estavam passando ali.
Dei um passo assustado para trás quando Eduardo a abriu, parecendo surpreso quando me viu parada ali. Abri e fechei a boca, procurando o que dizer a ele, porque precisava falar. Mas aquele era o problema, eu nunca sabia o que falar quando precisava. Normalmente ficar sozinha sempre era o suficiente, porque eu não sabia lidar com o que estava sentindo o não queria que ninguém soubesse.
Mas aquele dia não era como os outros. E eu não queria ter que suportar aquele sentimento ruim dentro de mim sozinha. Encarei meu irmão, me perguntando quantas vezes ele precisou do apoio de alguém pra se sentir melhor. Provavelmente mais vezes do que eu imaginava, mas ele nunca deixou que eu visse isso.
—Não quero ficar sozinha. —Falei, engolindo o nó que se formou na minha garganta quando minha voz saiu muito estranha. —Pode ficar aqui comigo? Pelo menos até eu dormir?
Eduardo hesitou por um momento, antes de assentir com a cabeça. Fiz menção de ir pra cama, antes de parar e olhar pra ele de novo, odiando a sensação de vulnerabilidade, como se alguém pudesse me enfiar uma faca no peito que eu deixaria. Eduardo soltou uma respiração pesada, estendendo uma das mãos pra mim. Não hesitei antes de ir até ele e deixar que ele me abraçasse, porque dessa vez eu estava precisando mesmo daquilo.
Continua...
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Todas as ondas do amor / Vol. 4
RomanceÉrika tem uma lista de sobrevivência até os 18 anos. Morar com o pai certamente não está nessa lista. Principalmente depois de descobrir que ele havia traído sua mãe e uma briga pela sua guarda se iniciar, envolvendo até mesmo seu irmão mais velho...