Acho que meu cérebro demorou para processar o que estava acontecendo, porque não acreditei quando meu pai entrou no meu quarto e nos encarou com uma expressão de pura resignação. Léo saiu da cama ao mesmo tempo que eu. Meu coração martelando no meu peito enquanto eu sentia a bomba que estava prestes a explodir ali.
—Pai... —Tentei falar, mas ele me impediu com um movimento firme com a cabeça que me deixou tensa.
—Eu achei que a Suellen estava inventando coisas quando me contou, sabia? Juro que achei que ela estava fazendo isso pra implicar com você, por não gostar de você. —Meu pai ergueu a mão, soltando uma risada estranha e apontando pra mim quando fiquei na frente de Léo, sentindo a mão dele segurar a minha. —Eu preferi acreditar na minha filha do que nela. Mas olha só o que aconteceu, Érika, você acabou de me decepcionar tão profundamente.
—Então você sabe só um pouco do que eu sinto todo dia em relação a você. —Afirmei, sabendo que aquilo não era a coisa certa a dizer quando a expressão dele escureceu por completo. —Léo é meu namorado. Nos dois só estávamos assistindo um filme juntos.
—Ah, só isso? Vocês dois só estavam fazendo isso? —Meu pai soltou uma risada forçada que gelou até meus ossos, erguendo os olhos para encarar Léo. —Eu me lembro de você. O cara que estava saindo com ela daquele bar, não é? Ela é menor de idade, sabia? Eu poderia colocar você na cadeia por encostar nela.
—Eu também sou. Tenho 17 anos. —Léo rebateu, apertando minha mão na tentativa de me passar algum conforto, mas era difícil quando eu estava encarando meu pai e o medo abria um buraco no meu estômago.
—Com essa cara? Duvido muito. —Meu pai balançou a cabeça negativamente, se aproximado de nós dois. Empurrei Léo para trás, com medo do que ele poderia fazer. —A quanto tempo você trás ele aqui pra dentro? A quanto tempo você está fazendo isso dentro da minha casa?
—Não estamos fazendo nada de errado. —Falei, puxando o ar com força e tentando não perder o controle da situação. —E eu não contei nada pra você porque eu sabia que você ia me proibir, como costuma fazer com absolutamente tudo que eu gosto na vida!
—Eu sou seu pai, eu sei o que é melhor pra você e o que não é! —Exclamou, e Léo tentou me puxar para trás dele quando meu pai fechou as mãos em punho e aumentou o tom de voz. —E isso acaba aqui, entendeu? Esse namoro, essas visitinhas na minha casa. Tudo isso vai acabar aqui!
—Você não decide isso por ela. —Léo rebateu, conseguindo passar na minha frente para encarar meu pai. A respiração ficou presa na minha garganta quando meu pai abriu um sorriso afiado. —Pode me proibir de ver sua filha, vou continuar fazendo isso mesmo que não goste. Pode tentar qualquer coisa pra impedir, vou dar um jeito de contornar isso, porque não vou ficar longe dela!
—Você vai. Se não fizer isso de boa vontade, vou acabar com você. —A ameaça foi tão clara e simples, mas Léo nem pareceu se preocupar com isso. —E você vai sair da minha casa e nunca mais vai pisar aqui.
—Eu gosto da sua filha. —Léo afirmou, erguendo o queixo com uma coragem que me deu inveja naquele momento, porque só conseguia sentir meu corpo sendo tomado por desespero. —E eu não tenho medo de você.
—Pai, para! —Gritei, me enfiando no meio dos dois quando meu pai tentou agarrar Léo para arrasta-lo de dentro do meu quarto. Léo tentou se soltar das mãos dele, acertando um soco no meu pai que o fez cambalear para trás, levando a mão ao nariz que começou a sangrar. Fiquei na frente de Léo de novo, com as mãos tremendo enquanto tentava protegê-lo. —Pai, por favor, para com isso.
—Você me bateu? —A voz dele saiu um grau mais baixa. Tão fria e afiada que eu fui na direção dele com as mãos erguidas na tentativa de acalma-lo, mesmo quando Léo tentou me segurar —Eu vou matar você, rapaz.
—Não, não, não... —Tentei segura-lo quando ele explodiu pra cima de Léo de novo, com os olhos faiscando de raiva. —Para... por favor, para!
Não tenho certeza do que aconteceu. Em um momento eu estava tentando segura-lo e no outro eu estava no chão. Minha cabeça latejando tanto que eu achei que iria explodir quando bati conta a ponta da cama com força. Minha visão ficou turva, enquanto eu piscava rápido tentando absorver o que tinha acontecido.
As lágrimas borbulharam nos meus olhos quando algo quente escorreu pela minha testa e entrou no meu olho esquerdo, fazendo-o arder tanto quanto minha cabeça doía. Soltei uma respiração pesada, escutando meu coração atendo dentro da minha cabeça, martelando junto com a dor que se espalhava para o meu rosto.
—Érika? Meu Deus, Érika? —Meu pai colocou as mãos em mim. A voz soando assustada quando tentou me sentar no chão. Empurrei as mãos dele, sem conseguir conter as lágrimas. Minha visão ainda estava estranha. Borrada pelas lágrimas. Mas eu não conseguia abrir o olho esquerdo, porque ele estava ardendo demais.
—Não. —Soltei, tentando me virar e me afastar dele. Um soluço escapando da minha boca quando comecei a chorar pra valer, me dando conta do que tinha acontecido. —Não... não quero que toque em mim.
—Filha, eu sinto muito. Foi sem querer. Eu não estava... Érika? —O empurrei de novo, sem querer ouvir o que ele tinha pra dizer. Tentei tocar minha testa aonde doía, afastando meus dedos rápido quando aquilo só piorou a dor que eu estava sentindo.
—Eu estou aqui. Bem aqui. —Léo segurou minhas mãos quando tentei o encontrar, sem conseguir ver direito. Me inclinei na direção dele, sentindo as mãos dele tocarem meu rosto com cuidado, checando o meu estado. —Vai ficar tudo bem. Prometo que vai ficar tudo bem.
—Ta doendo muito. —Falei, porque quase não conseguia respirar direito de tanto que estava doendo. Léo me ajeitou contra ele e me pegou no colo com cuidado.
—Eu sei, meu bem. Eu sei, mas vai ficar tudo bem. —Léo prometeu, mas eu sentia o tom estranho na voz dele. A ansiedade misturada com medo.
Ele e meu pai trocaram palavras tão rápidas que quase não consegui ouvir o que eles diziam, porque minha mente estava tão pesada e eu não conseguia parar de chorar. Quando ele começou a caminhar comigo no colo senti tudo escurecer. Minha mente se apagando por um momento antes de voltar. Me agarrei aos ombros de Léo, desesperada para não desmaiar, mesmo quando a dor era insuportável.
—Vamos pro hospital. Logo vai estar tudo bem. —Léo sussurrou, com a boca grudada na minha orelha, enquanto eu escutava o som da porta do carro batendo. Tentei chamar o nome dele, não conseguindo suportar a dor por mais um segundo antes de tudo escurecer de novo.
Continua...
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Todas as ondas do amor / Vol. 4
RomanceÉrika tem uma lista de sobrevivência até os 18 anos. Morar com o pai certamente não está nessa lista. Principalmente depois de descobrir que ele havia traído sua mãe e uma briga pela sua guarda se iniciar, envolvendo até mesmo seu irmão mais velho...