Capítulo 49: Sorveteria.

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Desci do ônibus, fazendo uma careta para a rua movimentada em que estávamos. Rodrigo e Léo desceram atrás de mim, antes de seguirmos pela rua em direção ao café que meu pai ia estar. Estávamos meia hora adiantados, o que pra mim era um bônus, porque não queria correr o risco de ele nos ver.

Olhei para Léo quando ele passou a andar do meu lado, deslizando os dedos até entrelaçados com os meus. Precisei olhar para o lado para que ele não visse meu sorriso, antes de eu acabar soltando uma gargalhada quando vi Rodrigo colocar um óculos escuro, com aquele binóculos pendurado no pescoço e exibindo uma expressão super séria.

—A gente vai entrar numa sorveteria na frente do café. —Léo falou, desviando do pessoal que vinha na calçada andando na direção oposta que a gente. —Eu usei o Google Maps pra olhar a rua. Da sorveteria a gente vai ter uma visão bem boa do café e não acho que ele vai ver o nosso.

—Muito bem. Fazendo o trabalho direitinho. —Rodrigo afirmou, e Léo revirou os olhos em impaciência, enquanto eu mordia o lábio ao ver que estávamos nos aproximando.

Léo nos levou até a sorveteria que ele tinha visto. Pegamos uma mesa ao lado da janela, onde poderíamos ver bem o café e onde eu esperava que meu pai não nos visse. Não me surpreendi quando Rodrigo pegou o cardápio para fazer um pedido, porque era óbvio que ele não ia perder a oportunidade.

—Você vai dar aula amanhã? —Léo questionou, se ajeitando na cadeira ao meu lado para olhar pra mim. Confirmei com a cabeça, vendo-o assentir e hesitar um pouco, antes de falar o que tinha em mente. —Posso ir buscar você depois? Estava pensando, a gente podia fazer alguma coisa. Só nós dois. Nada envolvendo seu pai ou...

—Tudo bem. —Concordei, cortando as palavras de Léo, porque ele parecia achar que eu ia recusar. Léo abriu um sorriso quando ouviu minha resposta, enquanto eu dava de ombros. —É uma ótima ideia. Você pensou em alguma coisa que a gente possa fazer?

—Passeio de barco. —Ele ergueu as sobrancelhas pra mim, como se esperasse ver qual seria minha reação ou opinião sobre aquilo. Abri um sorriso grande demais, porque aquela era a melhor ideia que ele poderia ter tido. —Ok, posso ver que você gostou.

—Acredita que se eu te falar que mesmo morando numa ilha, nunca andei de barco? —Falei, vendo que Léo realmente ficou surpreso com aquilo. —O que parece algo super idiota agora, né? Porque eu literalmente amo praia e amo surfar. Mas meus pais nunca me levaram e acho que Eduardo também nunca pensou em ir.

—Então que bom que eu pensei nisso. —Léo abriu um sorriso com o canto dos lábios, se inclinando para roubar um beijo. Rodrigo ainda não tinha voltado e eu tinha a sensação de que ele havia feito aquilo de propósito para nos deixar sozinhos. Na verdade, ele nem estava mais em qualquer lugar da sorveteria. —Tem uma coisa que eu quero fazer. Não sei se vai dar tempo nesses dias do campeonato, mas pode ser outro dia que eu vier pra cá.

—O que? —Questionei, tentando não pensar no fato de que ele iria embora de novo em breve. Só de imaginar um buraco se abria no meu peito, porque não queria precisar me despedir mais uma vez.

—Queria ir acampar de novo. Nos três. —Afirmou, e eu lembrei de quando tínhamos ido acampar da outra vez. Tinha sido um tempo diferente, onde eu era uma pessoa diferente. —Rodrigo nunca foi, mas ele ficou maluco com a ideia de ir depois que soube que eu fui aquela vez com vocês. Então acho que seria legal.

—Vamos combinar pra ir então. Ia ser muito, muito bom. —Falei, fascinada demais com o sorriso enorme que Léo abriu, parecendo estar quase feliz demais.

Ele ergueu a mão e envolveu minha bochecha, se inclinando e me beijando de uma forma que fez meu coração parar de bater por um momento, porque acho que jamais me acostumaria com a ideia de ficar com ele. Era demais pra mim. Mas foi algo rápido, porque nós dois demos um pulo e nos afastamos quando Rodrigo voltou correndo para a mesa, praticamente assustando todo mundo ao redor quando se jogou na cadeira na nossa frente.

—Ficou maluco? —Léo exclamou, apertando os lábios com força quando Rodrigo negou com a cabeça, ajeitando o óculos escuro que estava torto no seu rosto. —O que aconteceu?

—Seu pai chegou. —Rodrigo afirmou, e eu olhei pela janela na mesma hora, procurando por qualquer sinal dele. O encontrei se sentando em uma das mesas do lado de fora, fazendo um pedido para uma das moças que passou. —Ele tá sozinho.

—Está esperando alguém. —Léo falou, e eu puxei meu celular para ver a hora, percebendo que ele tinha chegado cedo ali. —Foi bom termos chegado cedo. Ele teria nos visto se tivéssemos demorado mais pra chegar.

Léo soltou um suspiro pesado e negou com a cabeça quando Rodrigo tirou o óculos e levou o binóculos ao rosto, olhando na direção do meu pai. As pessoas ao redor olharam e soltaram risadinhas baixas, mas Rodrigo não parecia incomodado com aquilo, ele estava concentrado demais no que precisava fazer.

—Ok, guria, temos um novo indivíduo na área. Quem é aquele? —Rodrigo questionou, e eu me inclinei para perto do vidro para ver quem era. —Os dois são bem próximos pelo visto. Você conhece?

Apertei a mão de Léo com força, enquanto franzia a testa ao ver o homem que estava cumprimentando meu pai com um sorriso enorme no rosto, como se os dois fossem grandes amigos. Minha respiração começou a falhar quando eu o reconheci. A raiva abrindo um buraco no meu peito quando eu percebi o que estava acontecendo ali. O que vinha acontecendo a muito tempo sem ninguém perceber.

—Érika? —Léo apertou minha mão, antes de tocar minha cintura para tentar chamar minha atenção. Ele estava preocupado. Eu sabia disso. Minha mão estava tremendo contra a dele, assim como meu corpo todo, resultado da fúria que eu estava tentando controlar ao ver o cara se sentar na frente do meu pai e os dois começarem a tomar café juntos.

—É a porra do juiz! —Sibilei, ficando de pé e quase derrubando a cadeira em que eu estava sentada. Disparei na direção da porta, sentindo vontade de chorar pela raiva e frustração que eu estava sentindo. Queria gritar com os dois. Queria bater neles com toda a força que tinha. E eu sabia que o sentimento ruim que eu tinha pelo meu pai não era nem perto do que eu estava sentindo no momento.



Continua...

Todas as ondas do amor / Vol. 4Onde histórias criam vida. Descubra agora