Todas as ondas do amor / Vol. 4

Capítulo 35: Queremos detalhes.

Léo

Subi no ônibus sentindo meus ombros pesados. Tinha visto no rosto de Érika o quanto ela não queria que fôssemos embora. Mesmo ela tentando não demonstrar, eu podia ver. Eu tinha passado tempo demais com Érika pra saber como ela reagia a cada coisa. E ela queria que ficássemos. Ela não precisava dizer porque eu sabia.

—Você está bem? —Rodrigo questionou, quando se sentou ao meu lado do ônibus. Ele não parecia muito animado também, mas eu duvidava que estivesse tão pior do que eu.

Não pensei no quanto me sentiria mal indo embora depois que nós dois ficássemos juntos. Mas nem tivemos tempo suficiente pra lidar com a situação. Eu nem mesmo sabia como essas duas semanas seriam pra ela. Érika poderia muito bem decidir que não queria ficar comigo depois que eu voltasse.

—Não sei. —Soltei, sendo sincero, porque queria voltar e dizer a Érika que ia ficar tudo bem. Mas ela tinha falado uma coisa que era verdade. Eu iria embora de novo depois que o campeonato chegasse ao fim. Mesmo que eu voltasse algumas vezes, não seria igual. —Acho que eu estaria melhor se soubesse que ela está com o irmão e não na casa do pai. Eu sei que ela não é feliz lá e agora ela vai...

Rodrigo assentiu, sem que eu precisasse terminar pra ele saber o que eu estava falando. Umedeci os lábios com a língua, sentindo um nó se formar na minha garganta. Nem mesmo tinha conseguido dormir direito aquela noite depois que saímos da casa dela. Eu tinha dormido poucos minutos antes de acordar e precisar entrar no ônibus. E eu só queria sair correndo até a casa dela.

—Liga pra ela, tá bom? Nesses dias. Liga, manda mensagem ou sei lá. Só não pare de falar com ela. —Pedi, mesmo que achasse que não fosse necessário. Olhei para Rodrigo, vendo-o me lançar um olhar torto, como se eu estivesse sendo um idiota naquele momento. —Só não quero que ela se sinta sozinha ou que esses dias não valeram de nada.

—Ela não vai se sentir sozinha, porque eu tenho certeza que você não vai deixar isso acontecer. —Rodrigo retrucou, me fazendo soltar uma risada baixa e negar com a cabeça. —Então vocês dois...?

—Eu não sei. A gente ficou. Mas se isso significa mais, eu não faço ideia. Acho que só vou poder descobrir quando voltar. —Falei, encarando a rua quando o ônibus partiu, começando o caminho que me levaria para duas semanas longe de Érika. Eu deveria me sentir um pouco feliz por ela ter retribuído pelo menos um pouco do que eu sinto, mas só conseguia me sentir frustrado com tudo.

—Ela gosta de você. —Rodrigo afirmou, e eu olhei pra ele com as sobrancelhas erguidas, porque ele tinha dito aquilo com muita confiança. —Sério, guri, ela gosta. Eu nem preciso conhecer muito ela pra saber que se ela não gostasse, ela já tinha te jogado pela janela quando a beijou pela primeira vez.

—Eu meio que estava esperando por isso mesmo. —Soltei, fazendo Rodrigo cair na risada. O clima aliviou um pouco, mesmo que eu ainda sentisse um peso amargo no meu peito. Iria ligar pra ela assim que chegasse em casa. Ia me certificar que Érika soubesse que eu ainda estava ali, mesmo longe.

[...]

Dormi um pouco no caminho de volta. Era uma viagem longa, então eu provavelmente chegaria super cansado em casa. Já tínhamos passado a fronteira para o Rio Grande do Sul quando puxei meu celular para ler as mensagens que tinha recebido. Rodrigo estava dormindo pesado do meu lado, a ponto de roncar com a cabeça inclinada para trás e a boca aberta.

Não havia qualquer mensagem de Érika, mas tirei uma foto de Rodrigo naquela posição e mandei pra ela. Esperava que ela me respondesse rápido, mas sabia que Érika não era do tipo que facilitava as coisas quando se sentia vulnerável. E ela estava se sentindo assim ontem, porque eu quase achei que ela fosse chorar na minha frente.

Camila — Oii, vocês estão bem?
Edu foi ver a Érika.
Talvez trazer ela pra passar o final de semana com a gente.
Como foi ontem?

Léo — Despedidas sempre são péssimas, né? Então acho que eu não preciso explicar.
Odeio o pai dela e odeio o fato de que ela precise morar com ele.
Ainda me sinto culpado por ele ter ganhado.
Se eu não tivesse prendido vocês aquele dia no bar, talvez as coisas fossem diferentes.

Camila — Não seriam diferentes, Léo, porque o pai dela ia dar outro jeito de ganhar a guarda da Érika.
A culpa nunca vai ser sua.
A Érika nunca te culpou por isso e o Edu muito menos.
Não pensa mais nisso.
Sua irmã quer saber se você disse pra Érika que gostava dela?

Léo — Agora vocês duas se juntaram pra falar sobre a Érika e eu?
Não sei se gosto disso.

Camila — Falou ou não?
A Manu também está aqui, então somos nós três falando de vocês.

Apertei meus lábios com força, erguendo a mão para esfregar meus cabelos quando imaginei aquelas três juntas falando sobre meus sentimentos por Érika. Senti minhas bochechas começarem a esquentar, porque era uma situação um tanto constrangedora. Sabia que minha irmã ia contar pra melhor amiga, só não esperava precisar lidar com as três juntas tão cedo.

Léo — Sim, eu falei.
Será que vocês três poderiam tentar ser mais sutis com a situação?
Não quero o Eduardo indo me caçar em outra cidade por causa da irmã dele.

Camila — Ele não faria isso.
Se você estiver fazendo bem a Érika, ele vai ficar feliz.

Léo — Nem você acredita nisso, Camila.

Camila — Sua irmã está mandando você parar de ser um idiota.
Queremos detalhes de ontem.

Mandei uma única figurinha pra ela, antes de sair da conversa e checar se Érika não tinha me respondido. Ela nem mesmo tinha visto a mensagem, o que eu imaginava que certamente iria demorar para fazer. Guardei o celular para não precisar lidar com as várias mensagens que Camila estava me mandando, porque era óbvio que elas não iam desistir tão cedo.

Escorei minha cabeça na janela do ônibus, observando a chuva começando a cair na cidade por onde estávamos passando. Tentei não pensar no quanto aquelas duas semanas iam demorar muito para passar, ao mesmo tempo que tentava decidir o que ia fazer depois que elas acabassem. Érika faria aniversário e eu não podia deixar aquilo passar em branco.

Continua...