Capítulo 19: Me desculpa.

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Léo

Girei as baquetas nos meus dedos, abrindo um sorriso ao escutar Felipe, Eduardo e Bernardo tocando. Não havia mais ninguém no bar além de nós e Rodrigo, que tinha ido lá fora para atender uma ligação da mãe. Pensar que amanhã teríamos que voltar a nossa rotina diária de escola pra alojamento e do alojamento para a escola era um pouco deprimente.

—Quer tocar, Léo? —Edu questionou, saindo de trás da bateria e indicando que eu tomasse o lugar dele. Fui na mesma hora, porque estava esperando por aquele momento desde que saímos do apartamento.

Me sentei no banquinho, tocando um pouco sobre os olhos atentos de Felipe e Bernardo. Na maioria das vezes eles não estavam ali quando Eduardo me dava algumas aulas sobre bateria, mas pelas expressões surpresas no rosto deles, parecia que eu estava indo bem. Os dois começaram a tocar junto, na guitarra e no baixo, até eu entender qual era o estilo deles e embalarmos.

Soltei uma risada, sentindo a mesma sensação agradável que normalmente sentia quando estava vencendo no xadrez. Toquei uma música inteira com eles, até Rodrigo voltar de lá de fora, abrindo um sorriso e negando com a cabeça quando me viu. Ele não acreditou em mim nem um pouco quando falei que tinha aprendido a tocar, mesmo que ainda errasse bastante. Era bom deixá-lo de queixo caído de vez em quando.

—Você aprendeu super rápido. Pegou coisas que eu demorei semanas pra aprender. —Edu afirmou, enquanto eu deixava ele voltar para o seu lugar, atrás da bateria.

—Ano que vem quando estiver morando aqui, pode tocar com a gente. —Bernardo sugeriu, e eu olhei para Felipe e depois para Eduardo, para ter certeza que os dois concordavam com aquilo. Eles não pareciam incomodados, o que levei como um bom sinal. —Apesar de eu achar que nossos momentos sexta a noite vão diminuir muito depois da formatura.

—Vamos precisar enfrentar a vida de adultos. —Felipe concordou, e eu olhei na direção de Eduardo quando ele soltou uma risada descrente, batendo contra um dos pratos.

—Pensei que a gente já estivesse enfrentando a vida de adultos. Pelo menos eu já estou. —Exclamou, e eu vi Felipe e Bernardo trocarem um olhar, antes de encararem o amigo. —Espero que as coisas se tornem mais fácies e não mais difíceis.

—Bom, vamos continuar morando naqueles apartamentos de frente um para o outro, não vamos? Pelo menos até nossas vidas estarem confortáveis para podermos nos mudar. —Felipe afirmou, enquanto eu me sentada na ponta do palco ao lado de Rodrigo, que prestava atenção na conversa com uma expressão pensativa. —Ou podemos sair e deixar o Léo, o Rodrigo e a Érika ficarem lá, já que eles vão entrar na faculdade.

—Não tenho certeza se minha mãe me deixaria morar tão longe de casa, mas seria tri legal. —Rodrigo abriu um sorriso enorme, como se estivesse pensando na possibilidade.

—Depois eu te trato igual criança e você fica bravo. —Soltei, antes de rir quando Rodrigo tentou me acertar um soco, que eu consegui desviar muito por pouco. —Eu acho que ainda temos um longo tempo até o vestibular e até o final do ano. —Olhei para Felipe, que deu de ombros. —E você acabou de dizer que vão continuar lá.

—Só tô pensando nas possibilidades, cara.

Encarei o interior do bar, enquanto pensava em como seria nós três morando juntos. Érika tinha se dado super bem com Rodrigo, então talvez ela não se importasse de dividir o apartamento com ele. Mas não tinha certeza em relação a nós dois, porque tinha a sensação que todo o avanço que tive com ela desabou hoje, quando eu não consegui lidar direito com a situação.

Não estava realmente preocupado com isso, porque tinha confiança em mim mesmo, a ponto de saber que poderia reverter a situação se quisesse. E eu realmente queria. Mas meu tempo ali iria acabar muito rápido. Eu tinha apenas mais 6 dias antes de precisar voltar pra casa e ficar duas semanas lá. Não podia me dar ao luxo de avançar no tabuleiro, só para perder várias peças logo em seguida.

Toquei mais duas músicas com eles, antes de decidirmos voltar pra casa, quando já estava bem tarde. Iria poder dormir no apartamento de Júlia aquela noite, porque amanhã seria o dia de pausa dos jogos, apesar de precisar passar o dia com meus colegas, se eu e Rodrigo não conseguimos sair de novo. Tivemos sorte hoje, porque meu nome não caiu na rodada de nenhum dos jogos da manhã e nem da tarde. Mas eu não sabia se teria a mesma sorte nas próximas rodadas.

—Posso falar com você? —Júlia questionou, me observando arrumar o travesseiro no colchão onde eu ia dormir na sala. Rodrigo tinha dado sorte, porque jogamos ímpar ou par para saber quem ficaria no sofá e ele tinha vencido.

—Claro. Está tudo bem? —Indaguei, me sentando no sofá e olhando para Júlia, que estava com os braços cruzados na frente do peito e uma expressão pensativa. —O Thiago não voltou a te incomodar, certo?

—Não, claro que não. Você sabe que ele nem pode. —Ela soltou uma risada nervosa, ficando desconfortável sempre que o assunto era o ex namorado babaca. —Quero saber o que está rolando entre você e a Érika.

—O que? —Fiz uma careta, tentando não desmontar que tinha sido pego de surpresa com aquela pergunta. —Ju, a Érika quase nem olha na minha cara. Por que você acha que está rolando alguma coisa?

—Eu vi vocês dois discutindo na praia. Ou pelo menos parecia ser uma discussão. —Afirmou, dando de ombros, e eu engoli em seco quando percebi que tinha dado mole na praia. —E ela tava muito estranha essa tarde. Só queria saber o que você disse pra ela.

—Eu só estava provocando ela, como sempre faço. Érika estava irritada com isso, como sempre fica. —Dei de ombros, porque era uma meia mentira e uma meia verdade. —E a Érika é estranha quase o tempo todo, não sei porque você está surpresa.

—Léo, eu estou falando sério.

—Bah, Ju, eu não fiz nada. —Ergui as mãos pra cima como se fosse inocente, mesmo que a culpa fosse toda minha muito provavelmente. Olhei na direção do corredor, torcendo pra que Rodrigo saísse logo do banheiro e me livrasse daquilo.

—Sabe, eu sei que você e a Camila viraram muito amigos. Mas você pode conversar comigo também. —Júlia afirmou, e eu senti uma pontada amarga no meu peito, porque a entendi no mesmo instante. —Eu me preocupo com meu irmão e me preocupo com a Érika.

—Eu sei. Me desculpa. —Falei, ficando um pouco envergonhado em como as coisas estavam. —Não quero te chatear e também nunca quis chatear a Érika. Vou me resolver com ela, prometo.


Continua...

Todas as ondas do amor / Vol. 4Onde histórias criam vida. Descubra agora