Capítulo 62: Primeiro lugar.

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Aqueles 9 dias de jogos tinham passado rápido demais. Não percebi o quanto ia sentir falta de estar naquela cidade até a volta pra casa estar batendo na minha porta. Abri um sorriso ao ver Érika e Rodrigo sentados nas arquibancadas lotadas olhando pra mim, parecendo muitos felizes quando meu nome foi chamado e eu caminhei até o centro do ginásio.

—Meus parabéns. —Meu professor pegou a medalha de primeiro lugar e eu abaixei a cabeça, deixando que ele a colocasse no meu pescoço. —Acho que nenhum de nós dois está surpreso com isso, não é?

—Eu sempre fico. —Menti, o que o fez soltar uma risada, antes de pegar o troféu dourado e preto, que era no formato da peça do cavalo, e entregar nas minhas mãos. —Obrigado, professor.

Ele deu um tapinha nos meus ombros, antes de se afastar e deixar que tirassem uma foto minha com os outros dois que pegaram segundo e terceiro lugar. Minhas bochechas doeram quando pude erguer o troféu pra cima, mostrando para Érika e Rodrigo que eu tinha conseguido. Não que fosse uma surpresa pra eles também, porque eles meio que ficaram me provocando a manhã toda antes disso, já sabendo qual seria o resultado do campeonato.

Cumprimentei os outros enxadristas que não tinham conseguido ficar no pódio, antes de finalmente poder sair da quadra e encontrar minha namorada e meu melhor amigo me esperando. Os dois pularam em cima de mim ao mesmo tempo, me abraçando apertado enquanto eu soltava uma risada com a animação deles.

—Vamos fingir surpresa e comemorar. —Rodrigo afirmou, tirando o troféu das minhas mãos para analisá-lo com muito interesse. Isso me deu a chance de abraçar Érika e ganhar um beijo dela.

—Parabéns. Você mereceu o primeiro lugar. —Érika abriu um sorriso e pressionou os lábios na minha bochecha, antes de se afastar e tocar a medalha pendurada no meu pescoço. —Mais uma pra sua coleção. Você nem parece feliz com isso. Já deve estar acostumado.

—Eu estou feliz. —Abracei a cintura dela, inclinando meu rosto até nossas testas quase se tocarem. —Mas não queria ir embora. Não quero precisar me despedir de você mais uma vez. Ainda mais sem uma data pra voltar.

—Só mais alguns meses e você vai estar formado e vai poder vir morar aqui. —Érika deu de ombros, como se ela já estivesse acostumada com esse fato. Mas eu ainda não estava, porque não queria ficar longe dela por tanto tempo. Tinha me acostumado a tê-la por perto. Ainda mais agora que as coisas com o pai dela estavam finalmente sendo resolvidas.

—Vão ser os meses mais sofridos da minha vida. —Sussurrei, com uma voz cheia de desanimo. Érika soltou uma risada, percebendo que eu estava sendo dramático propositalmente. Segurei o rosto dela quando aquela risada causou uma explosão de calor no meu peito, puxando-a para um beijo que a deixou sem folego.

—Bah, pelo visto eu virei uma vela, né? —Rodrigo resmungou, e eu e Érika nos afastamos, vendo que ele estava vermelho e um pouco envergonhado. —Vocês dois estão perdendo a vergonha. Eu estou aqui, sabia?

Eu e Érika trocamos um olhar demorado, como se tivéssemos pensando a mesma coisa. Nos aproximamos de Rodrigo ao mesmo tempo, sem dar tempo de ele reagir quando eu beijei uma de suas bochechas e a Érika a outra, fazendo um som esquisito antes de nos afastarmos. Rodrigo estava corado quando nos afastamos, mas abriu um sorrisinho satisfeito.

[...]

O bar estava vazio quando eu entrei, porque ainda não estava perto do horário de abrir. Assim que a porta se fechou atrás de mim, escutei o som da bateria sendo tocada, antes de encarar Eduardo sobre o palco, tocando sozinho. Bernardo e Felipe deveriam chegar em breve, mas eu teria um tempo sozinho com ele até os dois aparecerem.

Enfiei as mãos no bolso da calça e me aproximei do palco, deixando que Eduardo notasse a minha presença quando subi os degraus. Ele não parou de tocar, parecendo estar muito concentrado na música que estava tocando, e provavelmente lembrando da letra na sua cabeça, porque ele a balançava de leve como se estivesse a ouvindo.

—Você ainda está dando aulas de bateria? —Questionei, assim que ele parou de tocar. Tinha sido o primeiro aluno dele, além de ter dado a ideia das aulas. Eduardo girou as baquetas na sua mão, batendo com elas uma última vez antes de olhar pra mim.

—Sim, tenho quatro alunos. Um deles é um garoto pequeno. Ele é o mais animado pra aprender. —Eduardo comentou, e eu abri um sorriso, lembrando dos alunos de Érika que eu tinha conhecido quando a levei para o trabalho. Elas eram animadas e Érika parecia adora-las, assim como Eduardo parecia, pela forma que contou aquilo.

—Acho que vou ganhar uma bateria de presente de aniversário. Pelo menos é o que eu quero e pretendo pedir. —Falei, vendo Eduardo abrir um sorriso mínimo, mas que já era um grande avanço.

Ele não tinha me tratado mal nos momentos que fui ver Érika no apartamento e todas as vezes que nos esbarrávamos. Mas ele também não falava comigo, se limitando a apenas reconhecer minha presença com um aceno de cabeça e mais nada. Tentei não me incomodar com isso, porque Eduardo não parecia muito animado com absolutamente nada.

—Desculpa não ter te contado antes. Eu sei que foi uma merda descobrir pelo seu pai, daquele jeito. Eu deveria ter te falado sobre o que estava rolando. —Afirmei, umedecendo os lábios com a língua quando me senti subitamente nervoso, vendo Eduardo abaixar a cabeça para encarar a bateria. —Gosto da sua irmã já faz um tempo. Desde as férias. E se isso serve de consolo, ela me detestava nessa época e dificultou as coisas pra mim.

—Isso é bem a cara dela. —Eduardo soltou uma risada baixa, erguendo a mão para passar pelos cabelos e os puxar para trás. Apertei meus lábios com força quando ele me encarou, parecendo ponderar o que dizer. —Me desculpa pelo que eu falei no hospital. Eu estava super frustrado e acabei descontando em você. Não foi legal e eu sinto muito.

—Está tudo bem, Edu. Aquele dia foi horrível, então eu não te culpo por ter ficado chateado daquela forma. —Abri um sorriso pra ele, sentindo um alivio muito grande quando Eduardo retribuiu, antes de indicar a bateria.

—Quer tentar? —Questionou, estendendo as baquetas pra mim. Hesitei por um momento, antes de assentir e pegar o lugar dele, sem conseguir evitar de me sentir muito bem naquele momento, porque era bom saber que Eduardo não me odiava.

Continua...

Todas as ondas do amor / Vol. 4Onde histórias criam vida. Descubra agora