Mordi o lábio com força, pegando uma das peças e a movendo sobre o tabuleiro. Quando ergui os olhos para Léo, ele estava encarando meu rosto, sem nenhum foco no jogo na sua frente. Ele percebeu que era sua vez, movendo uma das peças sem pensar muito. Me segurei para não revirar os olhos, porque sabia muito bem o que ele estava fazendo.
—Xeque-mate. —Falei, levando a minha rainha até o rei dele e o derrubando. Léo riu, soltando um suspiro pesado antes de olhar para a posição de todas as peças no final do jogo. —Eu sei o que você está fazendo. Isso não é justo.
—É a primeira vez que eu vejo o ganhador não achar o jogo justo. —Afirmou, erguendo a mão e a passando sobre os cabelos molhados que grudavam na sua testa.
Engoli em seco, vendo algumas gotas pingarem nos ombros dele e então escorrerem pelo seu peito. O sol estava atrás dele, me obrigando a franzir os olhos para conseguir enxerga-lo melhor. Havia algumas outras pessoas no barco com a gente. Tínhamos parado em um ponto do mar perto da costa onde era possível ver golfinhos, mas até agora eles tinham se recusado a aparecer pra nós.
—Você está me deixando ganhar de propósito. —Retruquei, cruzando os braços na frente do peito quando ele riu e exibiu a expressão mais inocente de todas, como se jamais fosse capaz de algo assim. —Eu vejo você jogar todos os dias na escola, Léo. Eu sei como você é. Você está me deixando ganhar.
—Bom saber que você vive prestando atenção em mim quando eu estou jogando. —Ele abriu um sorrisinho que fez minha barriga ficar gelada, antes de se inclinar na mesa e começar a arrumar as peças no tabuleiro. —E isso é mentira, eu não estou deixando você ganhar.
—Então vamos ver. Jogue pra valer dessa vez. —Afirmei, lançando a ele um olhar afiado que o fez apenas piscar pra mim, como se tivesse fazendo um tipo de promessa. —Jogue como se eu fosse um dos seus melhores adversários no xadrez.
Léo era um mentiroso muito engraçado, porque depois de mais dois jogos, no qual ele me deixou ganhar de novo, ele fingiu estar cansado de perder de mim. Quis jogar o tabuleiro sobre ele por ter perdido porque queria, quando eu sabia que ele podia muito bem ter vencido todas as vezes. Mas minha atenção foi roubada pela animação das outras pessoas quando os golfinhos finalmente apareceram.
Deixei a mesa onde estávamos sentados, agarrando a mão de Léo e o puxando até uma das laterais do barco, onde me inclinei até conseguir vê-los na água. Soltei uma risada, olhando para Léo para ter certeza que ele estava vendo aquilo também. Ele parou atrás de mim, envolvendo as mãos na minha cintura enquanto observávamos as pessoas tirando fotos deles.
Tinha a intenção de fazê-lo me levar naquele passeio de barco mais vezes. Era bom demais sentir o ar tranquilo, ver o horizonte azul e o sol se pondo lentamente ao longe. Era bom demais estar fazendo aquilo especificamente com ele, porque jamais ia me cansar de pensar no quanto ele estava me fazendo bem demais.
[...]
Ergui a câmera, focando na imagem de Léo subindo as escadas do barco depois de um mergulho e tirei uma foto. Abri um sorriso quando o barulho o fez olhar pra mim, erguendo as sobrancelhas como se quisesse saber o que eu estava fazendo. Peguei a foto quando ela saiu, balançando no ar enquanto esperava a foto aparecer ali.
—Você não quer entrar na água mesmo? Não está tão gelada assim. —Questionou, e eu balancei a cabeça negativamente, cruzando minhas pernas embaixo de mim quando ele veio se sentar ao meu lado. —Então você vai ficar sentada aí tirando fotos de mim?
Ele pegou as outras fotos que estavam saindo pra fora de um dos bolsos da minha mochila. Soltei uma risada quando ele começou a olhar cada uma, que tinha ele em vários momentos diferentes daquele passeio. Dei de ombros quando Léo olhou pra mim e ergueu uma das sobrancelhas, antes de sorrir e se inclinar para me dar um beijo.
—Acho que é minha vez de tirar várias fotos de você. —Afirmou, e eu acabei rindo quando tentei me afastar e ele segurou minhas pernas, as puxando até que eu estivesse quase no seu colo. Ergui o queixo para encara-lo, respirando fundo quando eu coração disparou e minha pele ferveu sobre o olhar dele. —Você tem uma foto muito específica aqui, meu bem.
—Ah, isso é... —Abri e fechei a boca, sem saber como explicar a foto que ele tinha erguido e virado pra mim. Uma foto que mostrava o quadril dele. A parte da borda da bermuda, onda havia a sombra da tatuagem dele. Engoli uma onda de ansiedade, sentindo minha respiração pesar quando olhei pra ele um tanto constrangida. —Estava tentando descobrir o que você esconde aí. Por que uma tatuagem nessa área do quadril?
—Por que não quero que todo mundo veja. Ela tem um significado que ninguém entenderia. Bom, quase ninguém. —Léo afirmou, e eu ergui as sobrancelhas curiosa, esperando que ele explicasse aquilo.
Léo olhou ao redor, vendo que os outros estavam ocupados se divertindo no barco. Ele afastou minhas pernas com cuidado e ficou de pé na minha frente. Minhas bochechas esquentaram, provavelmente ficando muito vermelhas quando ele segurou o lado da bermuda que escondia a tatuagem. Minha respiração falhando quando ele a afastou um pouco para baixo até eu conseguir ver a tatuagem.
—É a primeira, mas pretendo fazer outras com o tempo. —Léo passou o dedo sobre ela, e eu resisti ao impulso de desviar os olhos quando aquele calor no meu rosto se espalhou pelo meu corpo, porque tinha ficado com vontade de me inclinar e tocar a tatuagem. Mas seria quase íntimo demais. —Acho que você pode entender o significado.
—Eu? —Acabei rindo, mordendo o lábio inferior enquanto encarava os riscos que formavam o desenho de uma onda quebrando, mas em vez de ser sobre algumas rochas, era um jogo de xadrez. Algumas das peças sendo engolidas pela água e o tabuleiro rachando sobre a força dela.
—A onda é você. —Léo afirmou, puxando a bermuda para cobri-la de novo, enquanto eu o olhava surpresa. Ele riu da confusão no meu rosto, voltando a se sentar do meu lado. —É como eu me sinto em relação a você. Perdido no meio do mar. Sendo arruinado toda vez que a onda chega, mas sem nunca ir embora, porque não consigo parar de pensar e sentir coisas por você.
—Léo... —Tentei falar, olhando ao redor para ver se alguém estava prestando atenção em nós dois, porque sabia o que ele estava fazendo. Sabia o que ele pretendia fazer. Meu corpo começou a tremer de ansiedade, assim como minha garganta pareceu apertada para respirar.
Continua...
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Todas as ondas do amor / Vol. 4
RomansÉrika tem uma lista de sobrevivência até os 18 anos. Morar com o pai certamente não está nessa lista. Principalmente depois de descobrir que ele havia traído sua mãe e uma briga pela sua guarda se iniciar, envolvendo até mesmo seu irmão mais velho...