capítulo 107

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Kai

Respirei fundo. Não uma, nem duas, mas dezenas de vezes. A tentativa de acalmar a tormenta dentro de mim era inútil. Olhei pela janela, buscando no horizonte alguma confirmação de que tudo não passava de um pesadelo, mas a verdade me atingiu como um soco no estômago.

Alexey está aqui. Deus do céu, ele veio pessoalmente.

Meu coração disparou, minhas mãos tremiam enquanto estalava os dedos, como se o movimento pudesse dissipar o pânico. O ar parecia denso demais para que eu conseguisse puxá-lo adequadamente para os pulmões. Eu esperava Eva, me preparei para a possibilidade de encarar aquele rosto que, apesar de tudo, ainda me fazia falta.

Mas a verdade? Ela provavelmente me odeia agora. Não vejo outra explicação para essa insistência no divórcio. Ela não está só contra mim; está contra todos que ousaram me apoiar. Até Alex, que sempre esteve ao meu lado, me evita desde que Eva esvaziou a própria conta bancária. E como se isso não bastasse, congelou todos os ativos do banco do meu pai. Acho que a deixei furiosa de verdade.

A porta do escritório se abriu com um rangido quase inaudível, revelando Rika. A expressão dela era uma mistura de derrota e pânico.

— O… Seu sogro — gaguejou, apontando nervosamente para o corredor. — Ele está aqui e… Não parece disposto a negociar.

Claro que não está. Alexey nunca negociou nada com ninguém além de Eva. Ela é a única pessoa que talvez pudesse ser influenciada por uma conversa, a única capaz de nos dar uma chance. Nossas mães estão em jogo, mas minha mãe parece mais interessada em passar tempo com o Mads. Quando liguei para ela, apenas me chamou de canalha. Eva conseguiu até virar minha mãe contra mim.

— E agora? O plano foi por água abaixo — Rika murmurou, coçando a cabeça num gesto de pura frustração.

A situação dela também não era fácil; o casamento estava por um fio, a mãe dela estava sendo usada como moeda de troca, e Michael estava furioso com a ausência de Athos.

— Acho que ele não veio para falar com vocês — respondi, tentando soar mais calmo do que realmente estava. — Ele veio atrás de mim.

E antes que pudesse terminar de organizar meus pensamentos, Alexey estava ali, imponente, seus dois metros de altura preenchendo o espaço como uma sombra ameaçadora. Ele me olhou com aquele jeito que fazia o sangue gelar nas veias. Eu sabia que estava acabado.

Afastei minhas mãos de Rika, que deu um suspiro trêmulo. Ela ainda não tinha visto Alexey de perto, mas eu sim, e sabia o impacto que sua presença causava. Era como se o próprio ambiente se curvasse a ele, como se até o ar ficasse pesado e difícil de respirar.

— Quanto tempo, Kai Mori — a voz dele reverberou pelo ambiente como um trovão distante, fazendo cada célula do meu corpo se contrair. Como Eva, aquela delicada princesinha, podia ser filha desse homem? Era um mistério que me escapava completamente. — Preciso marcar hora, ou você vai me conceder um pouco do seu tempo?

Lutei para manter a calma. Era crucial agir com serenidade. Ele não me odeia… ainda. Ninguém ali sabia o poder que Alexey tinha para acabar com todos nós. Era uma falsa sensação de segurança, um jogo perigoso de fingir que estamos todos apenas sendo adultos, enquanto no fundo todos tememos uma mulher psicopata capaz de explodir esse andar inteiro, ciente de que poderia se explodir junto.

Rika virou-se para ele, visivelmente tremendo. A verdade era simples: éramos todos amadores perto desse homem, crianças que mal sabiam brincar de adultos. Alexey sabia como destruir vidas e fazer com que ninguém ousasse se rebelar.

— Claro que não — consegui dizer, controlando a voz mais do que esperava. — Tenho tempo livre, por favor, entre, senhor.

Ele permaneceu imóvel, os olhos fixos em Rika, até que ela se retirasse, o que fez sem dizer uma palavra. A maneira como tremia ao sair foi humilhante. Nenhuma palavra dita, apenas um olhar gelado que a ordenou a desaparecer.

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