capítulo 49

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Kai


Andar algemado definitivamente não está no meu manual de atividades cotidianas, mas a Eva parece ter uma visão peculiar do que é normal. Ela simplesmente ignora minha solicitação para soltar a algema, como se estivéssemos em algum tipo de jogo no qual ela detém o controle.

— Já estamos aqui, então, pode tirar isso de mim. — Minha voz reflete minha frustração enquanto estaciono o carro no shopping.

— Não. — Ela responde, distraída olhando para o telefone. — Você pode se perder.

Reviro os olhos, lembrando que ela passou quase cinco anos na Rússia, o que a torna mais do que capaz de se virar em qualquer lugar.

— Foi você quem morou quase cinco anos na Rússia. — Faço questão de apontar o óbvio, mas ela simplesmente não dá atenção. Isso não significa vitória para ela, muito pelo contrário. — Vai tirar essa maldita algema se eu for seu marido?

Ela finalmente desvia a atenção do telefone, e seu olhar vitorioso me irrita profundamente. Parece que estou lidando com uma versão desconhecida e perigosamente confiante da Eva.

— Vou. — Seu sorriso é quase provocativo. — Mas só quando eu achar que você está sendo o marido que eu mereço. Está disposto a fazer um acordo?

Não posso evitar a sensação de que essa nova Eva é uma incógnita que desafia todas as minhas expectativas. Ela fala mais do que o habitual, sorri de maneira excessiva e não parece mais nutrir aquele ódio ardente que eu conhecia tão bem. Isso me deixa desconfortável e inseguro.

— Um acordo? Depois de se casar comigo e simplesmente desaparecer? — Minha incredulidade é evidente, mas ela parece gostar da situação.

— Gosto de como você entende rápido. — Ela escolhe um jogo de taças com um gesto confiante. — Sabe, Kai, na Rússia, aos vinte e dois anos, é considerada a idade certa para casamento. Mesmo para uma estrela como eu.

— Então preferiu se casar por escolha própria desta vez? — Minha voz denota resignação. Aceitar Eva é aceitar uma série de problemas que vêm com ela.

— Sim. — Ela adiciona algumas peças de cristal ao carrinho. — Quem mais poderia ser meu marido além do cara que tirou minha virgindade?

Engulo em seco diante dessa lembrança, uma parte de mim desejando poder voltar atrás e evitar tudo isso. Mas é tarde demais para lamentações.

— Lamento informar que minhas funções nesse aspecto foram prejudicadas graças a você. — Aceitar a realidade é doloroso, mas necessário. — Não posso mudar isso.

— Mas vai ter que funcionar. — Ela continua sua seleção, agora de talheres. — Porque eu quero um filho.

— Inseminação artificial resolve o problema. — Retruco ao colocar alguns utensílios japoneses no carrinho. — Não pretendo me submeter a consultas médicas sempre que você decidir que é hora de... bem, você sabe.

Ela mostra uma curiosidade quase mórbida, sem se importar com as questões sensíveis que levanta.

— Dói muito? — Sua pergunta é desprovida de empatia, apenas curiosidade cínica.

— Não é da sua conta. — Respondo, pegando uma caixa de madeira. — O que você vai fazer com todo esse cristal?

— Gosto de coisas caras. — Sua resposta é simples e direta, enquanto adiciona mais peças ao carrinho.

Eu suspiro, decidindo deixar de lado minha irritação momentânea. A Eva sempre ganha quando me tira do sério. Mesmo desejando que ela desaparecesse novamente por um tempo, sei que lidar com ela seria mais fácil assim.

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