capítulo 113

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O cheiro de sangue seco e carne em decomposição pairava no ar, pesado e sufocante, como uma névoa densa que se agarrava às narinas de todos ali. O ambiente ao redor dos corpos era frio, a luz fraca das lâmpadas fluorescentes oscilava, criando sombras que pareciam dançar sobre os cadáveres, como se a morte tivesse marcado sua presença naquele lugar de maneira grotesca.

Kai mal conseguia respirar. O estômago revirava, mas ele precisava manter o controle. O chão sob seus pés parecia mais pesado, como se o peso das vidas perdidas se infiltrasse em suas botas. Apoiou-se em um dos balcões de aço inoxidável, sentindo o metal gelado contra a palma da mão, antes de se forçar a se aproximar de um dos corpos.

O cadáver estava rígido, o cheiro agridoce da putrefação se misturava com algo ainda mais nauseante — talvez fosse a presença de Eva em tudo aquilo, um terror invisível que parecia impregnar cada partícula do ambiente. Kai engoliu em seco e, com mãos trêmulas, começou a rasgar as roupas manchadas de sangue seco. Seus dedos, normalmente firmes, agora se moviam hesitantes, enquanto o tecido cedia com um som abafado, como se até os mortos desejassem silenciar qualquer ruído.

— Verifiquem! — A ordem saiu firme, mas carregada de uma tensão nervosa. Kai tentou manter a voz controlada, mas os músculos do seu rosto se contraíam involuntariamente.

Quando ele puxou o tecido, seus olhos se fixaram no pedaço de pano escuro que repousava na boca do cadáver, como uma mensagem enterrada nos recessos da morte. O estômago de Kai afundou. O pano era áspero ao toque, e enquanto ele o desenrolava, podia sentir a textura das linhas vermelhas bordadas contra seus dedos calejados. Cada fio vermelho parecia pulsar com uma malícia oculta, uma promessa de algo muito, muito pior.

O silêncio no cômodo foi quebrado apenas pelo som dos outros rasgando as roupas dos cadáveres. Michael, na cozinha, praguejou alto quando descobriu o mesmo pedaço de pano na boca de outro corpo. As palavras dele ressoaram pelo ambiente.

— Tem um pedaço de pano na boca dele! — O pânico na voz de Michael era palpável, e o olhar que ele lançou para Kai refletia o mesmo terror que se alastrava dentro dele. Havia algo muito mais profundo por trás daquilo, uma ameaça que pairava como uma lâmina sobre suas cabeças.

Kai mal podia acreditar no que via quando abriu o lenço. Seus olhos percorriam cada linha bordada, e uma sensação gelada desceu pela sua espinha, fazendo cada músculo do seu corpo se contrair. O ar ao redor parecia congelar e queimar ao mesmo tempo, como se o ambiente estivesse reagindo àquela terrível revelação. Suas mãos suavam, escorregando ligeiramente no tecido enquanto ele lia as palavras gravadas com perfeição perturbadora:

“Uma vida por uma vida, fora sentenciado, pelos sacrifícios de pobres almas, eu virei e trarei o caos e dor. Que assim seja em nome de mim. Eva Orlov.”

O nome final soava como um golpe mortal. Kai sentiu o peso da mensagem pressionando contra seus pulmões, dificultando até mesmo respirar. Eva não estava apenas brincando com eles. Ela estava prometendo uma sentença — uma condenação.

— Ah, meu Deus... — Ele murmurou, mais para si mesmo do que para os outros.

Michael, ainda na cozinha, tentava manter a compostura, mas o medo era evidente em seus olhos. Ele puxava o ar de forma irregular, seus ombros rígidos, cada músculo em seu corpo tensionado como se estivesse esperando o pior. Havia suor escorrendo pela sua testa, misturando-se ao cheiro fétido que dominava o lugar, tornando o ar quase impossível de respirar.

O ambiente ao redor parecia se tornar mais apertado, sufocante, como se o próprio cômodo estivesse ciente da presença de Eva e da sua promessa de destruição. As lâmpadas tremeluziam de novo, lançando sombras grotescas nas paredes manchadas de sangue.

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