capítulo 65

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Eva

Cada movimento é uma lembrança constante da vida que cresce dentro de mim. Não é a gloriosa jornada que muitos romantizam. Levantar da cama é uma coreografia de dor e desconforto, como se cada músculo estivesse protestando contra o peso extra que carrego. Até mesmo caminhar é uma tarefa árdua, com uma sensação de pressão constante em minha pélvis, como se meu corpo estivesse se preparando para o grande evento que se aproxima. Ele gosta de chutar meus órgãos como hobby

Os hormônios rugem dentro de mim, uma tempestade que oscila entre momentos de euforia e instantes de profunda tristeza. Às vezes, sinto-me inundada por uma onda de ternura ao pensar no pequeno ser que se agita em meu ventre. Outras vezes, sou dominada pelo medo paralisante do desconhecido que se aproxima.

Já que tenho uma consulta de rotina, tudo pareceno lugar e médica diz que está tudo bem. Meu filho é saudável e grande, não deve nascer prematuro. Ainda faltam três semanas, mas estou ansiosa pelo momento. Quero que ele saia, quero muito que ele saia para eu poder fazer xixi direito. Dormir direito.

— Está sozinha hoje? — a médica pergunta.

Eu apenas afirmo, mas ela nega com a cabeça. Eu que eu tenho que vir com acompanhante mas vamos falar a verdade, eu estou bem, consigo manter o
Bebê dentro de mim. Não preciso de ajuda para vir fazer uma consulta.

— Mesmo sendo adulta e saudável, você está grávida de oito meses, Eva. Você deveria ter acompanhante. Alguns bebês são grandes e rápidos; pode haver uma surpresa antes da data prevista. Pense mais em você e no bebê.

— Hoje eu queria vir sozinha. Não vim dirigindo o motorista me trouxe. — Digo bem segura que eu fiz o certo. — Tenho uma dúvida, doutora. — Olho para a imagem do bebê dentro de mim. — Quais são as chances de que eu morra no parto?

— Mínimas, você está em ótimo estado de saúde, seu bebê é saudável, e você não tem nenhum problema de saúde. Caso ainda queira uma cesariana podemos marcar para daqui duas semanas, é mais seguro se isso te preocupa.— A médica responde, tentando me tranquilizar.

Mas eu não estou preocupada precisamente com o parto ou com o que vem depois apenas quero a segurança que vou estar viva para não deixar ele cair nas mãos do Kai, meu filho vai ser criado muito bem, vai ter tudo que ele quer. E não vai precisar levar na cara só porque o pai dele me acha uma aberração. A gravidez é uma montanha-russa de emoções e incertezas, e estou tentando encontrar o equilíbrio entre ansiedade e segurança. Eu achei muito interessante o período gestacional, eu gostei de sentir como e ser uma gestante, eu acredito que estou ansiosa até para ver o rosto do bebê. É estranho que eu queria ver logo. Mas ao mesmo tempo eu gosto da sensação.

O som do coração do bebê é uma melodia reconfortante, mesmo que os ruídos sejam estranhamente cócegas incômodas. Mas é algo que me acostumei a ouvir, uma conexão primal entre mãe e filho que se desenrola a cada batida. Meu pai disse que não é desconforto e sim, afeto. Mas para meu cérebro tudo se resume em raiva ou desconforto.

— E como está sua preparação para o parto? — ela pergunta me tirando dos meus devaneios. — você sabe que assistir ao parto do filho é importante. O pai dele vira?

— O pai do bebê é extremamente ocupado. — Digo me sentando e limpando a barriga. Eu me cuidei tanto para não ter estrias, eu meu cuidei tanto para voltar a desfilar.

— Ele não tem tempo? Nem para ver o próprio filho nascer? — Incrível como os médicos cuidam tanto da nossa vida.

— Não. Ele não tem tempo, para ver o filho nascer e não tem tempo para me ver. Ele se casou comigo porque eu quis. Então é natural ele não estar presente.

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