capítulo 87

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Kai


  Engoli em seco, tentando me convencer de que tudo não passava de um sonho maluco causado por uma bebedeira. Mas, a realidade estava ali: Eva estava ao meu lado, segurando o convite de casamento da Rika. Eu estava mesmo bêbado para chegar em casa com aquele convite.

— Que bom que acordou — a voz dela soava firme, mas eu percebia um tom de preocupação. Ela estava sentada na cama, com o convite nas mãos. Minha cabeça repousava em seu colo, e eu sabia que qualquer movimento só pioraria a dor de cabeça latejante.

O quarto estava escuro, apenas uma luz fraca entrava pela fresta da cortina. O cheiro do perfume de Eva, uma mistura de lavanda e algo cítrico, preenchia o ar, oferecendo um pouco de conforto. Senti o peso de Mads, nosso cachorro, sobre minhas pernas, e soube que ele também estava por ali.

— Está brava? — perguntei, desviando o olhar para o teto, tentando reunir coragem para me levantar. O calor da presença dela ao meu lado era reconfortante, mas o olhar de desdém me fez sentir um frio na espinha.

— Você sai para beber a noite inteira e volta às cinco da manhã, trazido pelo Will e o Michael — ela fechou o convite com um movimento brusco e me olhou fixamente. O desdém em seus olhos azuis era claro como cristal. — Tenho motivos para estar brava, Kai Mori?

— Não. — Sentei-me devagar, ajustando Mads confortavelmente no meu colo. Ele se acomodou, emitindo um som baixo de satisfação. Olhei para o convite nas mãos de Eva, que suspirou, irritada. Eu podia sentir a tensão no ar, quase palpável.

— Vamos ao casamento — disse ela, jogando o convite no chão com uma expressão de desgosto. — Sinceramente, estava demorando para ela me mandar isso. Mas vejo que ainda quer que eu vá, mesmo que eu ofusque o casamento dela.

— Não precisa ser tão má. Somos adultos, que tal se vocês conversassem? — sugeri, tentando soar conciliador apesar da dor de cabeça. O cheiro do perfume dela, misturado com a leve fragrância de café que vinha da cozinha, era quase hipnotizante.

— Obrigada, querido — Eva pegou Mads do meu colo com cuidado. — Mas minha agenda é louca e vou a esse casamento em consideração ao Michael, não a ela. Não temos nada para conversar.

Ela se levantou e caminhou até a cama. A camisola preta destacava a palidez de sua pele, fazendo-a parecer ainda mais etérea. Seu cabelo, agora mais curto, balançava suavemente. Ela deitou-se ao lado de Mads, abraçando-o com ternura. O toque suave dela no pelo macio do cachorro contrastava com a tensão evidente em seu corpo.

— Que tal... só... não ser cruel? — sugeri, minha voz saindo mais fraca do que eu gostaria. A dor de cabeça ainda pulsava, e eu sabia que precisava de algo para aliviá-la.

Eva ajustou-se na cama, aninhando-se ao lado de Mads, que já cochilava. Ela olhou para mim, os olhos brilhando com uma mistura de emoções.

— Primeiro, você vai tomar algo para ressaca — disse ela, a voz mais suave, mas ainda firme. — Depois, falamos sobre o casamento da Rika.

— Sim, senhora — respondi, tentando sorrir apesar da dor. O quarto estava quente e aconchegante, e eu sabia que, apesar de tudo, Eva se importava. Eu só precisava sobreviver à ressaca primeiro.

Levantei-me da cama com um gemido, cada movimento ecoando a dor em minha cabeça. Eva observava atentamente, os olhos azuis seguindo cada um dos meus passos. Mads, sempre sensível ao humor dela, aninhou-se mais perto, como se buscando conforto.

O ar no quarto estava fresco, com uma leve brisa entrando pela janela entreaberta, trazendo o aroma de flores do jardim. O piso de madeira estava frio sob meus pés descalços, uma sensação que me ajudou a clarear a mente, mesmo que só um pouco.

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