capítulo 104

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Eva


Mesmo que eu esteja sendo muito horrível com todo mundo, ainda tenho que seguir o que acho que seja correto. E eu acho que dessa vez ele vai entender corretamente.

Arrumo a roupa de Mads, passando as mãos suavemente pelo tecido macio, endireitando as pregas. Penteio o cabelinho dele, sentindo a textura fina e macia deslizar entre meus dedos.

— Mamis, por que eu estou todo bonito? — ele pergunta, com olhos curiosos e brilhantes.

— Vamos conhecer alguém hoje. — digo, apertando levemente sua bochecha rosada, sentindo o calor infantil sob minha mão.

Quando terminei de arrumar Mads, desci para o térreo. Meu pai e Czar já estavam prontos, as expressões sérias como sempre. Faz alguns dias que não vejo meu pai, mas se ele está aqui, significa que está tudo bem.

Descemos a escadaria, e coloquei Madden no chão. Ele segurou minha mão com força e a do avô dele com a outra, seu toque pequeno e quente contrastando com a pele fria e áspera de meu pai. Saímos de casa e fomos para o jardim separado atrás do labirinto de vinhas. Quando chegamos, Mads estava sonolento, mas acordou imediatamente ao ver o jardim.

— Nossa, nossa, que legal, mamis! Tem um monte de florzinhas aqui! — ele disse correndo na frente, a excitação transformando sua voz em um alegre canto.

Czar suspirou pesadamente ao meu lado.

— Você não está falando com a Nessa? — perguntou direto, sem rodeios.

— Não. — digo tranquila, mantendo meu tom controlado.

— Brigou com ela?

— Acredito que seja da conta da sua irmã, não da sua. — meu pai disse, caminhando um pouco mais devagar. A gravidade em sua voz era palpável, como se cada palavra pesasse uma tonelada.

Eu já vi ele vir aqui centenas de vezes nos últimos treze anos. Não sei como é perder alguém que você ama, mas meu pai deixa bem explícito que é insuperável. Afinal, minha mãe amava esse jardim.

— Então... — tento mudar de assunto, buscando uma leveza inexistente. — Acha que ele vai entender dessa vez?

— Ele já tem cinco anos, deve entender melhor que no ano passado, quando ficou magoado por não ter mais mãe.

Mads é especial, mas é sensível e muito inteligente. Quando expliquei a ele o significado de morte, ele chorou horrores. Para ele, significava que se minha mãe morreu quando eu tinha 14, a dele também morreria logo. Por um momento, quis que ele não aprendesse coisas assim tão cedo. Mas nunca se sabe, e eu não quero que mintam para ele, dizendo que virei uma estrelinha. Quero que ele saiba que uma pessoa morre e não volta mais. Que dói, mas temos que seguir adiante.

Ao nos aproximarmos da lápide da minha mãe, Mads estava sentadinho em frente a ela, olhando fixamente para a foto dela.

— O que está fazendo? — meu pai perguntou, e Mads não olhou para nós, apenas apontou para a foto.

— Vovô, essa foto é da minha vó?

— Sim, por que?

— Parece minha mãe. — ele olhou para mim, ainda apontando para a foto. — Por que, mamãe?

— Porque eu sou filha dela. — digo, abaixando-me até a altura dele. — E sua avó era mais bonita.

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