capítulo 90

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Kai

Eu tento manter a calma, apesar da dor surda que ecoa dentro de mim. A expressão de Eva é uma mistura de desafio e vulnerabilidade, uma combinação que sempre me desarma.

— Meu pai me entende. — Ela diz, um sorriso se formando em seus lábios. — E ele está acostumado, ele era casado com a minha mãe. E pasme, Kai Mori! Meu pai não precisa ouvir da minha mãe e nem de mim o que queríamos, o homem é uma máquina. Eu ganhei a merda de um avião de aniversário de vinte anos e adivinha por quê?

Eu reviro os olhos, sentindo uma pontada de irritação.

— Não quero saber. Você é uma riquinha chata.

— Sou modelo e meu pai disse que eu deveria ter meu próprio jatinho. — Ela diz, e há um brilho de orgulho nos olhos dela que me faz sentir uma pontada de culpa.

Eu suspiro, tentando manter a paciência.

— Ok, mas eu não sou seu pai. Com todo respeito, eu admiro ele. Se eu fosse uma criança, queria ser ele quando crescer, mas não tenho essa habilidade. Seu pai é um gênio. Eu não. Então preciso saber o que você quer.

Ela me olha, os olhos escuros fixos nos meus, uma intensidade que me faz estremecer.

— Quero um marido.

— Já tem. — Eu respondo, sentindo o peso das palavras dela.

— Quero um marido que aja como marido.

— Quero uma esposa que aja como uma.

— Está dizendo que não sou uma boa esposa?

— Estou dizendo que você é uma ótima esposa. Fora de casa. Aqui dentro, parecemos amigos que brigaram e voltaram a conversar.

A dor nos olhos dela é palpável, e sinto um aperto no peito. — O que você quer de mim?

— Amor seria um bom começo. — Eu digo, a voz um sussurro carregado de emoção.

— Eu te amo, cara. — Ela diz, e eu sinto como se o chão tivesse sumido sob meus pés. Deixo o copo cair, o som do vidro quebrando ecoando na sala.

Eu olho para ela, a boca aberta de surpresa. — O que disse? — Minha voz sai trêmula, quase inaudível.

Ela me olha com um misto de confusão e ternura

. — Kai. — Ela repete, e eu esfrego os olhos, tentando processar o que ouvi.

— Antes, Eva. Antes. — Eu digo, a voz carregada de urgência.

Ela parece pensar por um momento, os olhos fixos em mim.

— Eu te amo, cara?

Eu suspiro, sentindo um alívio que nunca soube que precisava.

— Isso é verdade, né? Porque se não for, eu te mato.

Ela levanta uma sobrancelha, um sorriso sarcástico curvando seus lábios.

— Nunca ouviu um eu te amo?

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