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Era madrugada, Han sabia. Já a hora exata, caso alguém lhe perguntasse, não saberia dizer, pois seu celular já tinha dado blackout há um bom tempo.

Não que alguém fosse parar para lhe perguntar tal informação àquela hora. Geralmente só idosos o abordavam com tal intenção, e certamente não havia muitos deles – ou nenhum – fora de suas camas quentes tão tarde da noite.

Dentro do táxi, com a cabeça apoiada no vidro da janela do carro, com seus lumes abertos, mas em desfoque, vendo passar apenas o vulto das luzes coloridas dos letreiros das lojinhas de conveniência que ficavam abertas 24 horas, Han estava completamente preso dentro de seus próprios pensamentos, como lhe acontecia com frequência.

Era de costume que, ainda que seu entorno estivesse completamente silencioso e pacífico, bem como era naquele exato momento; a sua mente, geralmente, muito provavelmente, estaria o contrário disso, pois Han pensava muito.

E pensava tanto porque aquela fora a única forma que o artista havia arrumado para regular a si mesmo em momentos de conflitos. Consequentemente, pensar muito também lhe causava muita ansiedade.

Desde muito novo, Jisung sempre fora uma pessoa extremamente ansiosa. Foi a criança ansiosa, o adolescente ansioso, e agora, havia se tornado um jovem adulto ainda mais ansioso do que nunca antes em toda a sua vida; e tinha grande probabilidade de que se tornaria um adulto ansioso também, é claro.

Precisava de terapia, era óbvio que sim, porém, nunca encontrou tempo para se dedicar a isso. Pelo menos, essa era a desculpa que dava a si mesmo, para não se sentir tão culpado pela falta de cuidado com sua saúde mental.

Quando criança, os indícios não foram percebidos por seus pais; quando adolescente, estava preocupado demais em sobreviver ao ensino médio e conseguir entrar na tão sonhada faculdade de artes que almejava. E quando conseguiu, a realização de seu sonho, acabou se tornando apenas mais uma desculpa.

Toda vez que Han parava para pensar na sua falta de cuidado consigo mesmo, questionava-se: "Será que sou um masoquista?", "Será que gosto da adrenalina de me se sentir sempre à beira de um precipício? À beira de um surto?".

Talvez fosse aquilo. Não sabia dizer, e muito provavelmente só encontraria as respostas para aquelas questões tão complexas para sua pobre mente doente, quando procurasse ajuda profissional.

Contudo, a grande questão naquele momento era: Mesmo depois de toda a situação horrível a qual havia acabado de passar pela primeira vez em sua vida – e esperava que fosse a última –, naquele momento, Han não estava prestes a surtar, colapsar ou desregular.

Obviamente, carregaria para sempre consigo a cicatriz deixada pelo assédio que sofrera. Mas o fato era: Já havia se tornado uma cicatriz?

Normalmente, tal situação teria lhe desestabilizado totalmente, e aí passaria por dias, talvez até semanas, na fossa da sua própria cabeça.

Entretanto, sequer se lembrava dos detalhes asquerosos de menos de uma hora atrás. Os pensamentos que preenchiam a sua mente, na verdade, não tinham nada a ver consigo mesmo.

Seus lumes voltaram a focalizar automaticamente quando Han virou-se cuidadosamente até dar de encontro com a cabeleira ruiva do lindo rosto, ainda levemente ruborizado pela grande quantidade de álcool que fora ingerido, da pessoa que ressonava tranquilamente em seu ombro. Han sorriu.

Eis ali, bem ao seu lado, grudado em si como se tentasse fundir ambos os corpos, ainda que estivesse inconsciente, o motivo de todos os seus pensamentos mais intensos, profundos e recorrentes.

Quando, em um momento de autossabotagem, tentava rebobinar e se lembrar dos momentos de terror que passou com aquelas três mulheres, todas as nuvens nebulosas se dissipavam de sua mente, dando lugar a um lindo arco-íris; e tudo que conseguia se lembrar, era de Lino. Mais especificamente, das cenas em que Lino lhe defendia tão bravamente, ainda que estivessem com zero condições físicas para aquilo e com suas faculdades mentais embaralhadas pela química do álcool.

A Queda de Eros | MinsungOnde histórias criam vida. Descubra agora