Acordo devagar, como se emergisse de um oceano escuro e sem fim. Minha cabeça lateja, pesada, e sinto um gosto amargo na boca que não consigo identificar. Meus olhos demoram a se acostumar à claridade difusa do ambiente, e o que enxergo primeiro são as lâmpadas fluorescentes no teto, borradas, como se estivessem a mil quilômetros de distância. Piscar é quase um esforço.
Quando finalmente consigo focar, percebo que estou em um quarto branco, com paredes lisas e um cheiro forte de álcool e algo medicinal, como se o próprio ar estivesse impregnado com o ambiente clínico do hospital. Ao lado, uma pequena mesa de metal traz algumas seringas vazias, um pacote de gaze amassado e uma jarra de água pela metade. O soro pende de um suporte ao lado da cama, uma bolsa transparente conectada a um tubo que se enrola até meu braço. A agulha, fincada na veia, parece a única coisa me mantendo preso aqui.
Meu estômago dá voltas e uma leve náusea sobe, se espalhando pela minha garganta, e tenho de respirar fundo para não ceder de vez ao enjoo. Tento me mexer, mas a fraqueza é quase paralisante, e meu corpo todo pesa como se eu tivesse sido surrado por uma gangue.
— Filho! — A voz dela é suave, mas ansiosa, carregada de um alívio que quase escapa pelo quarto.
Viro a cabeça com dificuldade e vejo minha mãe sentada ao lado da cama, os olhos marejados e o rosto iluminado por um sorriso que luta para conter.
— Mãe... — Minha voz sai rouca, quase como um sussurro. — O quê...? — Tento raciocinar e minha cabeça dói, me fazendo levar a mão até a testa e pressionar fortemente os meus olhos fechados, enquanto solto um gemido.
— Não se force demais, filho! Está tudo bem agora, mamãe está aqui com você.
Ela segura minha mão, apertando-a com firmeza, como se ela quem precisasse se certificar de que estou realmente aqui. Os dedos dela tremem um pouco, e vejo as marcas de noites mal dormidas em seu rosto. Mas ela não parece se importar, não agora, quando seus olhos me observam, brilhando.
Confusão e fragmentos de memória começam a surgir em flashs na minha mente, mas é tudo ainda é uma névoa densa demais. Tento me lembrar do que aconteceu, mas o único lampejo que tenho é... Lino!
Meu peito aperta. Ele estava comigo. Lembro de vê-lo, a última imagem antes de tudo escurecer, mas não sei o que aconteceu depois. Tudo o que me lembro são dos seus olhos fechados, da sua pele rígida e fria e do seu coração parado.
As lágrimas me veem e eu não sou capaz de contê-las. Meu corpo dói e o meu coração também. Sinto como se a minha alma estivesse despedaçada, incompleta.
Lino havia levado parte de mim com ele.
— Oh, meu amor... Eu sinto tanto! — Minha mãe me puxou para um abraço, e enquanto ela afagava o meu cabelo com a delicadeza de suas mãos, eu molhava sua blusa com a minha dor.
Agarrei-me a ela como um completo dependente. Como se eu tivesse voltado a ter dez anos de idade e chorando como um tolo, precisasse do seu acalento materno mais do que tudo no mundo.
Mas nem mesmo isso seria capaz de aliviar o buraco enorme dentro de mim.
Algum tempo se passou e eu não faço a mínima ideia de quanto. Tudo que sei é que ela não me soltou nem por um segundo sequer. Aos poucos minhas lágrimas foram dando uma trégua, enquanto a dor só parecia aumentar.
A cada hora, a cada minuto, a cada segundo e até mesmo a cada milésimo, pensar em como tudo seria daqui em diante, era como se eu comesse uma belladonna novamente.
Ah, belladonna... A sua beleza encantou e matou o meu amor. E ninguém tem mais culpa nisso, do que eu mesmo.
— Querida! — A voz assustada do meu pai soou quando a porta do quarto fora sutilmente aberta.
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A Queda de Eros | Minsung
FanficEros, o cupido, cuja existência era proveniente do poder inestimável do amor, já não acreditava mais que tal força existisse dentro de si, uma vez que suas flechas já não surtiam mais o efeito que deveriam. Quando as madeixas douradas e cintilantes...