Capítulo 46

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      ELIJAH THORNHILL

     NOVE ANOS ATRÁS

— O que acha de um cineminha hoje à noite? — Harry perguntou, encostado no seu carro com um cigarro aceso entre os dedos.

— Que filme tá passando? — Me interessei na ideia, tomando o cigarro dele para dar um trago.

— Não tenho ideia. Só preciso sair um pouco.

— Problemas com o seu pai de novo?

Seus ombros ficaram tensos assim que eu falei a palavra "pai", e ele me lançou um olhar desgostoso.

— Podemos não falar sobre isso hoje? Eu só quero relaxar um pouco. — Ele tomou o cigarro de volta e tragou.

— Tudo bem. — Suspirei. Me incomodava o fato de ele não se abrir comigo sobre seus problemas familiares. Harry conhecia tudo sobre mim, e as vezes, eu sentia como se ele estivesse se escondendo o tempo todo. — Eu topo o cinema. Só nos dois?

— Chama aquela sua namoradinha. — Ele provocou, me dando uma cotovelada de lado.

Revirei os olhos e bufei.

— A Patrícia não é minha namorada e você sabe muito bem disso. — Bufei.

A pirralha era melhor amiga da minha irmã, mas totalmente obcecada comigo.

— Eu estou falando sério. Você deveria levar ela e as suas irmãs também, vai ser uma noite legal e divertida.

— Até parece que eu ia levar minhas irmãs pra um ambiente fechado e escuro com você. — Resmunguei, e ele apenas riu. Eu sabia que Harry não faria nada com as minhas irmãs de quinze anos, mas elas acabariam apaixonadinhas por ele assim que o visse e eu teria que ficar ouvindo-as falar sobre esse ridículo vinte e quatro horas por dia.

— Não confia em mim, cara? — Provocou ainda mais, ganhando um olhar mortal meu em resposta. — Ok, ok, parei. Mas estou falando sério. Deveria chamar elas, só para ser uma noite descontraída mesmo. — Ele insistiu.

— Por que está insistindo tanto nisso? — Desconfiei. Se antes eu achava que ele não faria nada, agora eu já não tinha certeza. — A Olivia e a Taylor não são para o seu bico não, cara!

O empurrei para o lado, e ele se desequilibrou e quase caiu ao lado do carro. E mesmo assim, o filho da puta ainda estava rindo. Eu não sabia se adorava ou odiava esse maluco!

— Não está mais aqui quem falou. — Continuou rindo.

— Bom mesmo, agora me passa o cigarro. — Ele esticou o braço e eu peguei o papel. Dei um último trago, soltando a fumaça pela boca, e entreguei de volts para ele, pegando o celular no meu bolso. — Vou chamar a Ashley e a Candice... a sessão é de que horas?

***

Fizemos a péssima ideia de escolher um filme de terror. Candice, a garota que eu estava ficando, passou mal e pediu para o pai ir buscá-la no meio da sessão, logo, eu tive que terminar de assistir ao filme enquanto Harry e Ashley se pegavam ao meu lado. A sessão era tarde e a sala estava quase vazia, logo, as mãos bobas estavam rolando soltas, me deixando quase desconcertado. Quase.

Eles nunca haviam se visto na vida e provavelmente nunca voltariam a se ver depois de hoje. Eu nunca vi Harry com nenhuma namorada, mas já vi ele pegar garotas pra caralho. Chegava a ser irritante as vezes. O cara não tinha critério nenhum, loira, morena, negra, asiática, todas caiam em seu charme. Sua única exigência é que elas sejam maiores de idade, o que sequer é uma exigência em si, apenas senso comum.

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