(Narrado por Elena)
O som do despertador me arrancou de um sono inquieto. A noite passada ainda pesava sobre meus ombros como um fardo que eu não conseguia carregar. Tinha sido difícil. As memórias voltavam em ondas, me afogando em pensamentos e lembranças que eu queria, desesperadamente, esquecer.
Levantei-me devagar, tentando acalmar a respiração. Meu peito ainda doía, e a sensação de sufoco da crise de ansiedade parecia estar à espreita, pronta para me derrubar de novo. Alexander tinha estado lá, tentando me ajudar, mas, ao mesmo tempo, eu sabia que ele era uma das razões para eu estar assim. O caos que ele trazia para a minha vida era um ciclo vicioso, e eu me sentia presa.
Fui para o banheiro e encarei o espelho. Meus olhos estavam inchados, o rosto pálido. Eu já não me reconhecia. Tinha mudado tanto nos últimos meses, e grande parte dessa mudança vinha das feridas que Alexander me causou. As cicatrizes invisíveis que ele deixou na minha alma. Passei água fria no rosto, tentando me reanimar, mas por dentro, ainda estava quebrada.
Enquanto me vestia, pensei no que faria no resto do dia. "Preciso me distrair", pensei. Mas por mais que tentasse, as coisas entre mim e Alexander ocupavam todos os meus pensamentos. O peso do que aconteceu na festa, a recaída que tivemos... tudo isso era um lembrete de que, por mais que tentássemos seguir em frente, estávamos presos um ao outro de uma forma destrutiva.
Coloquei uma roupa simples e saí do quarto. O apartamento estava silencioso, e a luz da manhã atravessava as janelas, dando uma sensação de calma que contrastava com o turbilhão que se passava dentro de mim. Desci as escadas com passos leves, como se tivesse medo de quebrar o silêncio, e fui até a cozinha.
Peguei uma xícara de café e me sentei à mesa. Enquanto olhava para o líquido quente, os flashes da noite anterior voltaram, especialmente o momento em que Alexander tentou me ajudar. Ele parecia genuinamente preocupado, mas isso não apagava tudo o que ele tinha feito. Eu sabia que ele carregava os próprios demônios, mas até quando eu suportaria os meus por causa dele?
O som da campainha me tirou dos meus pensamentos. Fui até a porta e, quando a abri, vi Clara, minha melhor amiga, parada ali com uma expressão preocupada.
— Ei... — ela começou, com uma suavidade na voz. — Como você está?
— Estou bem, — menti, dando um sorriso fraco. Clara me conhecia bem o suficiente para saber que eu não estava nada bem.
Ela entrou e me deu um abraço apertado, um daqueles abraços que dizem tudo sem precisar de palavras. Nos sentamos no sofá, e Clara começou a falar, como sempre fazia quando sabia que eu precisava de distração.
— Fiquei sabendo da festa... ouvi uns comentários por aí. E você? Está tudo bem entre vocês dois?
Suspirei, sabendo que não adiantava mentir. Clara era minha confidente, a única pessoa que sabia exatamente o que estava acontecendo entre mim e Alexander. Contei-lhe sobre a recaída, a crise de ansiedade, e como Alexander tinha tentado me ajudar, mesmo sendo uma das causas da minha dor.
— Elena, você sabe que precisa se proteger, certo? — Clara disse, com a voz firme. — Eu sei o quanto você se importa com ele, mas olha o que isso está fazendo com você. Você não pode continuar assim.
— Eu sei... — sussurrei, sentindo as lágrimas se acumularem novamente. — Mas é difícil. Parte de mim ainda acredita que ele pode mudar, que as coisas podem voltar a ser como eram.
— Mas será que podem? — Clara perguntou, sua voz cheia de preocupação. — Porque, honestamente, você não parece a mesma pessoa que era no começo dessa relação. E isso não é algo bom.
Fiquei em silêncio, deixando as palavras dela ecoarem na minha mente. Eu sabia que ela estava certa. Não era mais a mesma. Alexander tinha me mudado, e não de uma forma saudável. Mas o que eu não sabia era como sair dessa espiral. Como me libertar dele quando, no fundo, eu ainda sentia algo tão forte?
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(Narrado por Alexander)
Depois de sair da casa de Elena na noite passada, eu voltei para o meu apartamento e fiquei acordado por horas. Não conseguia parar de pensar no que tinha visto. A crise dela, o medo nos olhos dela... eu sabia que parte disso era minha culpa. Talvez grande parte. Mas eu também sabia que não tinha sido intencional. Eu nunca quis machucar Elena. Pelo menos, era isso que eu dizia a mim mesmo.
Na manhã seguinte, acordei com a cabeça pesada, como se estivesse carregando o peso do mundo nos ombros. Tudo o que eu tentava enterrar dentro de mim parecia estar vindo à tona, e eu não sabia como lidar com isso. Coloquei uma camiseta qualquer e me sentei na cama, encarando o chão.
"Por que eu sempre faço isso?" — pensei. Eu tinha um talento especial para destruir tudo de bom que entrava na minha vida, e Elena era a maior vítima desse meu comportamento. Sempre fui tóxico. Sempre quis ter o controle, mas nunca soube como lidar com os sentimentos dela, com a intensidade dela. E, em algum ponto, isso começou a me irritar, a me afastar.
Lembro do primeiro término. Foi brutal. Eu disse coisas que não devia, e ela, mesmo ferida, ainda tentou me entender. Mas, na época, meu orgulho falou mais alto. Eu não queria ceder. Não queria admitir que talvez, só talvez, o problema não fosse ela, mas eu.
Agora, vendo o que estava acontecendo com ela, sentia uma mistura de culpa e frustração. Eu queria ajudar, mas não sabia como. Eu queria mudar, mas não sabia se conseguiria. O que me impedia? O orgulho, o medo de ser vulnerável, de mostrar a ela que, por trás dessa fachada de confiança, eu era tão inseguro quanto ela. Talvez mais.
Peguei o celular e olhei as mensagens. Nada de Elena. Ela ainda precisava de espaço, e eu respeitaria isso. Pelo menos, por enquanto. Mas sabia que, mais cedo ou mais tarde, precisaria encarar o que estávamos nos tornando. E eu temia que, quando isso acontecesse, seria tarde demais para consertar as cicatrizes que deixamos um no outro.
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(Narrado por Elena)
Clara foi embora depois de uma hora de conversa. Senti-me um pouco mais leve, mas a dor ainda estava lá, latejando no fundo. Decidi me distrair organizando minhas coisas. Caminhei até o meu quarto e comecei a arrumar as roupas jogadas, tentando evitar os pensamentos que continuavam a me assombrar. A crise de ansiedade da noite anterior tinha me deixado exausta, e tudo o que eu queria era um pouco de paz.
Mas sabia que, enquanto estivesse presa nesse ciclo com Alexander, a paz seria algo que eu dificilmente encontraria.
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Cicatrizes Invisíveis.
FanfictionAlgumas feridas não são visíveis, mas são as que mais doem. Elena pensava que tinha tudo sob controle, até que o amor a levou por caminhos sombrios e traiçoeiros. Quando Alexander entrou em sua vida, ela não sabia que as marcas que ele deixaria não...