Capítulo 28.

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(Narrado por Elena)

O dia seguinte chegou com uma brisa leve, mas a confusão na minha mente ainda pesava. Levantei-me da cama e olhei o relógio. Sabia que veria Alexander antes das aulas começarem, e isso me deixava nervosa. Depois da conversa com Gabriel e Clara, eu sentia que estava pisando em terreno instável, e qualquer movimento em falso poderia desmoronar tudo.

Vesti minha roupa escolar e, antes de sair, olhei meu reflexo no espelho. Tentei me preparar mentalmente para o que poderia acontecer. Sabia que Alexander tinha ficado irritado com Gabriel, e isso só piorava minha ansiedade. Eu só queria evitar mais conflitos, então precisava ser cuidadosa.

Cheguei na escola um pouco mais cedo do que o habitual. Havia uma certa agitação no ar, mas hoje não teria aulas; os professores estavam ocupados com alguma atividade que envolvia planejamento. Isso significava que a escola estaria cheia, mas ao mesmo tempo vazia de propósito, já que os alunos poderiam fazer o que quisessem.

Assim que vi Alexander de longe, senti meu estômago revirar. Ele estava encostado em um dos muros, os braços cruzados, com aquela expressão séria que sempre me deixava inquieta. Respirei fundo e fui até ele.

-"Oi," disse, tentando manter a voz leve, mas sabia que ele estava tenso.

-"Oi," ele respondeu, sem sorrir. Eu sabia que algo estava por vir.

-"Precisamos conversar," ele disse logo em seguida, sem rodeios.

Assenti, esperando ele continuar. Alexander era direto, e quando algo o incomodava, ele não tinha muita paciência para esperar.

-"Eu não gostei do Gabriel," ele soltou de uma vez. -"Eu sei que ele está se metendo onde não devia. Você pode até achar que ele é só um amigo, mas eu não gosto do jeito que ele fica te cercando."

Eu engoli em seco, sentindo meu coração acelerar. Sabia que isso iria acontecer, mas ouvir ele falar daquele jeito ainda me fazia tremer.

-"Alexander, ele só queria conversar. Não foi nada demais..." tentei explicar, mas ele me interrompeu.

-"Elena, não importa. Eu não confio nele. Não quero que você tenha mais contato com ele."

Houve um silêncio pesado entre nós. Eu sabia que se insistisse em defender Gabriel, isso só pioraria as coisas. Eu já tinha visto Alexander ficar com ciúmes antes, e sabia como isso poderia escalar rapidamente.

Suspirei, tentando manter a calma. Eu só queria evitar confusão. -"Tá bom, Alex. Eu não vou mais falar com ele. Só quero que a gente fique bem."

Ele me olhou nos olhos, sua expressão suavizando um pouco. -"Eu só quero o melhor pra gente, Elena. Não quero que ninguém atrapalhe o que a gente tem."

Assenti, sentindo uma mistura de alívio e desconforto. Eu sabia que estava fazendo o que ele queria, mas, no fundo, isso me deixava com uma sensação de vazio. Cortar laços com Gabriel parecia a escolha mais fácil no momento, mas uma parte de mim se perguntava se estava cedendo demais, mais uma vez.

Alexander se aproximou e me envolveu em um abraço apertado, e eu me permiti relaxar por um momento. Queria acreditar que as coisas ficariam bem se eu seguisse o caminho mais fácil, mas não podia ignorar a inquietação que crescia dentro de mim.

Passamos o resto do dia juntos, já que as atividades da escola estavam paradas. Conversamos, rimos de coisas bobas, mas sempre havia um certo desconforto pairando no ar. Eu sabia que, a qualquer momento, essa paz frágil poderia desmoronar, mas por enquanto, eu estava disposta a fazer o que fosse necessário para manter tudo em ordem.

No fundo, porém, eu sabia que essa situação estava longe de ser resolvida.

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(Narrado por Alexander)

O dia com Elena tinha sido uma mistura de alívio e tensão. Por um lado, eu me sentia mais tranquilo sabendo que ela concordou em se afastar de Gabriel, mas, por outro, não conseguia ignorar o desconforto que essa situação tinha trazido à tona. Eu sabia que, em algum momento, isso iria estourar. Era apenas questão de tempo.

Quando finalmente nos despedimos e fui para casa, minha cabeça ainda estava cheia de pensamentos. Não conseguia deixar de pensar no que Gabriel poderia estar tentando com Elena. Ele estava se aproximando, tentando entrar em um espaço que era meu, e isso me enfurecia.

Dirigi sem rumo por um tempo, pensando em tudo o que tinha acontecido nas últimas semanas. Eu sabia que estava agindo de forma possessiva, mas era assim que eu funcionava. Quando algo ou alguém era importante para mim, eu não deixava ninguém se intrometer. E com Elena, isso era mais intenso do que qualquer outra coisa.

Quando decidi parar para abastecer o carro, não esperava encontrar Gabriel ali. Ele estava encostado na bomba de gasolina, distraído, mexendo no celular. No momento em que o vi, senti o sangue ferver. Não sabia o que ele estava fazendo ali, mas só a presença dele me irritava.

Desci do carro e caminhei em direção a ele, sem pensar duas vezes. Gabriel levantou o olhar quando ouviu meus passos, e seu semblante passou de descontraído para sério em um instante.

-"Alexander," ele disse, tentando manter a calma, mas havia algo em seu tom que me irritou ainda mais.

-"Eu não quero ver você perto da Elena," falei de forma direta, sem rodeios. Me aproximei mais, deixando claro que não estava ali para uma conversa amigável.

Gabriel arqueou as sobrancelhas, surpreso, mas não recuou. -"Não sabia que você mandava nela," ele respondeu, sua voz carregada de sarcasmo.

A raiva cresceu em mim rapidamente. -"Eu não preciso mandar nela. Mas estou te avisando, fica longe. Ela não quer saber de você."

Ele deu um passo à frente, sem demonstrar medo. -"Elena é minha amiga, Alexander. Você não pode simplesmente cortar as pessoas da vida dela porque está com ciúmes. Ela merece mais do que isso."

Aquelas palavras me atingiram como um soco, e por um momento, pensei em realmente partir para a agressão física. Ele não sabia nada sobre o que eu e Elena tínhamos. Ele não sabia o que era melhor para ela, mas ainda assim, achava que podia se meter.

-"Você não sabe de nada, Gabriel," falei com os dentes cerrados. -"Elena e eu estamos bem, e não preciso de um metido como você se intrometendo na nossa vida."

Gabriel cruzou os braços, olhando diretamente nos meus olhos. -"Se vocês estivessem tão bem, ela não teria conversado comigo sobre como está se sentindo. Ela está sufocada, Alexander, e você nem percebe isso."

Essas palavras atingiram um nervo sensível. Eu sabia que havia problemas, mas ouvir isso vindo dele, como se ele fosse uma espécie de salvador, me fez perder o controle.

-"Fica longe dela," rosnei, meu corpo todo tenso. -"Eu vou dizer só uma vez."

Gabriel não recuou, mas também não continuou a provocação. Ele me olhou por alguns segundos, como se estivesse tentando decidir o que fazer, e então deu de ombros. -"Se é isso que você quer. Mas um dia, Alexander, você vai perceber que o problema não sou eu."

Sem dizer mais nada, ele se afastou, entrou no carro e foi embora, me deixando ali sozinho com meus pensamentos turbulentos.

Olhei para o horizonte, sentindo o peso daquelas palavras ecoando na minha mente. Gabriel estava errado. Ele não entendia o que eu e Elena tínhamos. Mas, por algum motivo, a inquietação dentro de mim não desaparecia.

Voltei para o carro e segui em direção a casa, com a cabeça cheia de raiva e frustração. Sabia que precisava manter Elena longe de pessoas como ele, mas, no fundo, uma parte de mim começava a questionar se realmente estava fazendo o que era certo.

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