Cicatrizes Invisíveis.

Capítulo 30.

(Narrado por Elena)

Os dias que antecederam a época de provas pareciam mais pesados do que o normal. Eu tentava me concentrar nos estudos, mas minha mente sempre voltava para tudo o que estava acontecendo ao meu redor. O estresse com Alexander, a pressão das provas, e a necessidade de manter distância de Gabriel, tudo isso estava criando uma tempestade dentro de mim.

Para tentar aliviar a tensão, comecei a passar mais tempo com Clara. Ela sempre tinha uma palavra de apoio e, nos últimos dias, nossa rotina de estudo conjunto se tornou constante. Íamos para a biblioteca após as aulas, ficávamos horas revisando, trocando notas e tentando nos preparar o melhor possível para o que vinha pela frente. Durante as noites, eu sempre acabava na casa de Alexander. Ele era meu refúgio, mesmo com todas as complicações.

Nos momentos que eu estava com ele, tentávamos manter as coisas leves. Ele sabia o quanto eu estava pressionada com as provas e fazia de tudo para me distrair, mas, ao mesmo tempo, percebia que ele também estava mais agitado. O trabalho, os treinos, e até algumas obrigações familiares pareciam consumir parte de sua energia, o que só aumentava a minha preocupação.

Mas, mesmo com tudo isso, tentávamos nos encontrar nas pequenas coisas — um abraço no final do dia, uma conversa silenciosa antes de dormir, ou apenas a presença um do outro. Durante a semana, o tempo passava em uma mistura de estudo intenso e momentos de tensão e alívio, alternados entre a casa de Clara, a escola, e as noites com Alexander.

(Narrado por Alexander)

A semana estava sendo especialmente agitada para mim também. Além dos treinos, comecei a sentir mais pressão no trabalho. Meu chefe estava exigindo mais dedicação, e as horas extras estavam me deixando exausto. Eu mal tinha tempo para pensar em mim mesmo, mas sempre fazia questão de estar presente para Elena, sabendo o quanto ela estava lutando com as provas.

As sessões de terapia que começamos estavam ajudando, mas era difícil mudar padrões de comportamento que eu carregava há tanto tempo. Tinha dias em que saía da terapia com a sensação de que estava fazendo progressos, e outros em que me sentia preso, como se meus próprios demônios fossem mais fortes do que eu. A pior parte era perceber que Elena sentia isso, mesmo que eu tentasse esconder.

As noites com ela, depois de um dia longo e cansativo, eram as únicas horas em que eu conseguia relaxar um pouco. Ver Elena tão focada nos estudos e ao mesmo tempo preocupada com tudo ao redor me fazia querer ser melhor. Eu sabia que ela precisava de mim, e eu precisava ser mais presente, mais estável, para que as coisas funcionassem.

Apesar de toda a agitação da semana, um pensamento constante me acompanhava: Gabriel. Não conseguia tirar da cabeça que ele estava por perto, mesmo que Elena estivesse evitando-o. Isso ainda me consumia, embora eu tentasse deixar para trás. Clara já havia me dito que eu precisava confiar mais em Elena, mas era difícil me livrar desse ciúme que parecia crescer a cada dia.

Entre os treinos, as reuniões de trabalho, e as horas passadas com Elena, comecei a perceber o quanto nossas vidas estavam entrelaçadas, mas também o quanto ambos precisávamos encontrar um equilíbrio. Eu me perguntava até onde poderíamos ir assim, carregando todas essas inseguranças e pressões externas.

(Narrado por Elena)

Finalmente, o final da semana chegou, trazendo consigo o peso das provas e a exaustão acumulada. Eu e Clara tínhamos estudado até tarde quase todas as noites. Cada página de resumo parecia pesar mais nos meus ombros, mas a proximidade das avaliações fazia com que não houvesse outra opção senão continuar. As sessões de terapia com Alexander estavam indo bem, mas era impossível não sentir que havia ainda tanto a ser resolvido.