Capítulo 24.

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(Narrado por Elena)

Acordei naquela manhã com a cabeça pesada. As memórias da noite anterior, a crise de ansiedade, tudo parecia um borrão confuso que se misturava aos meus sentimentos por Alexander. Ele havia ficado ao meu lado, e isso me confortava de alguma forma, mas não apagava a dor e a confusão que eu sentia. Sentia que estava perdendo o controle de mim mesma, de nós.

Levantei-me lentamente, me sentindo frágil. Cada movimento parecia um esforço maior do que o habitual. Fui ao banheiro, lavei o rosto e me encarei no espelho. Meus olhos estavam inchados, e eu parecia cansada, exausta de tentar segurar as pontas desse relacionamento.

Enquanto me vestia, com cada peça de roupa, senti como se estivesse construindo uma armadura. A escola me aguardava, com seus dramas e pressões. Mas antes de sair, eu sabia que precisava encarar uma última coisa: o que fazer em relação a Alexander. Estávamos presos num ciclo, e algo precisava mudar.

Quando cheguei à escola, já sentia os olhares. Todos sempre comentavam sobre nós dois, como se nossa vida fosse um espetáculo público. Mas naquele dia, os cochichos pareciam mais altos, mais carregados de expectativas. Encontrei Clara nos corredores, e ela me deu um abraço forte. Sabia que minha amiga tinha suas preocupações com Alexander, e nossas conversas recentes só deixavam isso mais claro.

— Está melhor? — Clara perguntou, com um olhar preocupado.

— Acho que sim, só preciso passar por mais esse dia — respondi, tentando soar mais confiante do que realmente me sentia.

Ela assentiu, sem pressionar. Sabia que eu ainda estava processando tudo. Mas, lá no fundo, eu sabia que ela estava certa sobre uma coisa: eu precisava me priorizar.

(Narrado por Alexander)

Aquela manhã parecia comum, mas eu sabia que algo estava mudando dentro de mim. Depois de tudo o que aconteceu com Elena, da crise, das palavras de Clara, algo mexia comigo de uma maneira que eu não conseguia ignorar. Havia algo profundamente errado no jeito como eu vinha conduzindo tudo. A forma como eu tratava Elena, a maneira como deixava o orgulho guiar minhas ações.

Minha mãe sempre disse que ser forte era a única forma de sobreviver, mas o que ela nunca ensinou foi que às vezes, força é saber recuar, ser vulnerável. Eu via isso em Marcos. Ele tinha uma calma que contrastava completamente com o jeito explosivo da minha mãe, e talvez fosse essa calma que eu precisava encontrar em mim mesmo.

Enquanto caminhava pelos corredores da escola, as lembranças do confronto com Clara ainda ecoavam na minha mente. Nunca gostei dela, nunca fui com a cara dela porque, para mim, ela sempre foi uma espécie de barreira entre mim e Elena. Mas, agora, percebia que talvez Clara estivesse tentando protegê-la de mim. E isso doía.

Cheguei à sala de aula, mas minha mente estava longe. As vozes ao redor pareciam distantes, e minha atenção estava presa nas memórias. Lembrava-me de cada vez que magoei Elena, das vezes em que deixei meu orgulho falar mais alto. Ela não merecia isso, e eu sabia disso.

Depois da aula, encontrei-me com Elena no corredor. Ela estava diferente, como se algo dentro dela tivesse mudado também. Seu olhar estava distante, como se ela tivesse tomado uma decisão. Sentia o peso do silêncio entre nós dois, mas não sabia como quebrá-lo.

— Precisamos conversar, Alexander — ela disse, com uma voz firme, mas calma.

Assenti, sabendo que esse momento era inevitável. Algo dentro de mim dizia que aquela conversa mudaria tudo, para melhor ou para pior.

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