(Narrado por Alexander)
A luz da manhã mal atravessava as cortinas quando acordei, ainda com a cabeça pesada. O silêncio no quarto era quase sufocante, e, pela primeira vez em muito tempo, me senti inquieto. Elena. A noite anterior ainda estava fresca na minha mente, desde a crise de ansiedade até o momento em que saí da casa dela. Eu sabia que algo dentro de mim estava mudando, mas também sabia que era tarde demais para voltar atrás.
Levantei-me lentamente, o corpo ainda tenso dos acontecimentos da noite passada. Caminhei até o banheiro, olhei para o espelho, mas o reflexo que vi ali era de um homem que eu não reconhecia mais. Eu me sentia diferente, mas não sabia se essa mudança era para melhor. Enquanto a água fria corria pelo meu rosto, memórias de tudo que passei com Elena começaram a voltar.
Lembro-me do início, quando tudo era leve. Elena era um furacão de emoções, mas isso me atraía de uma forma que eu nunca havia experimentado antes. Ela era apaixonada, intensa e me fazia sentir vivo. Mas, com o tempo, essa intensidade começou a me sufocar. Eu gostava da liberdade, de me sentir no controle das coisas, e Elena... bem, ela era imprevisível, o que despertava meu lado mais controlador.
Comecei a agir de forma tóxica e manipuladora, e sabia disso. No fundo, eu sabia. As pequenas mentiras, os joguinhos de poder, a forma como eu a afastava e depois a puxava de volta, era tudo parte de um ciclo doentio que eu mesmo criei. E, para ser honesto, eu gostava de saber que tinha esse poder sobre ela. O fato de Elena estar tão ligada a mim, mesmo quando eu a machucava, alimentava meu ego. Eu sabia que estava sendo egoísta, mas não conseguia parar.
Terminar com ela da primeira vez não foi fácil. Foi um rompimento cheio de orgulho e palavras que não poderiam ser retiradas. Naquele momento, eu pensei que era o certo, que eu estava fazendo um favor a ambos ao me afastar. Mas a verdade? Eu estava apenas fugindo da minha própria incapacidade de ser o homem que ela precisava. Estava quebrado de uma forma que nem eu conseguia entender.
Mas ontem à noite, ver Elena daquele jeito, vulnerável e frágil, mexeu comigo. Eu vi a profundidade do dano que causei. As crises de ansiedade, a insegurança, tudo isso tinha uma grande parte da minha responsabilidade. Eu me odiei por isso, mas o orgulho sempre foi mais forte. Mesmo agora, depois de tudo, eu ainda lutava com essa parte de mim. A parte que queria admitir que eu era tóxico, que eu não era bom para ela.
Vesti minha roupa e saí do banheiro, tentando empurrar os pensamentos para longe, mas eles me seguiam como sombras. O cheiro do café da manhã já tomava conta do pequeno apartamento, mas eu mal tinha apetite. Sentei-me à mesa e peguei o celular. Olhei para a tela, e o nome de Elena estava lá, no topo das conversas, mas eu não sabia o que dizer. Como poderia tentar consertar algo que eu mesmo destruí? Eu tinha voltado para a vida dela, mas será que realmente estava disposto a ser alguém diferente?
Enquanto encarava a tela, flashes de nossos momentos juntos me atingiam como uma avalanche. Lembro da primeira vez que discutimos, quando eu disse coisas cruéis, apenas para vê-la ceder e me pedir desculpas, mesmo quando não era culpa dela. O olhar no rosto dela naquela noite ficou gravado na minha memória, como se eu tivesse quebrado algo que nunca poderia ser reparado. E talvez tenha quebrado.
Eu não soube lidar com o amor de Elena. Ela me deu tudo, e eu a recompensei com desconfiança, ciúmes e manipulação. Sempre quis ser o homem forte, o que tinha o controle da situação, mas o que eu não percebia era que, ao tentar controlá-la, eu estava destruindo a única coisa que me fazia sentir algo verdadeiro. O pior é que eu sabia que, em algum momento, Elena percebeu o que eu estava fazendo, mas ela nunca me confrontou de verdade. Ela me amava demais para me perder, mesmo que isso significasse se perder no processo.
A crise dela ontem foi um reflexo de tudo o que eu fiz. Fui tóxico, arrogante, incapaz de me abrir emocionalmente, e a deixei sozinha em seus momentos de maior fragilidade. E agora, mesmo depois de ter estado lá para ela durante a crise, eu sabia que aquilo era apenas uma pequena parte do que precisava fazer para consertar tudo. Mas será que eu tinha forças para isso? Será que eu queria, de fato, ser alguém melhor para ela?
Peguei meu casaco e saí de casa. O ar fresco da manhã me deu uma breve sensação de alívio, mas não o suficiente para dissipar a confusão dentro de mim. Caminhei pelas ruas sem rumo, enquanto minha mente voltava ao passado, revisitando todos os momentos em que eu poderia ter agido de forma diferente, mas não o fiz.
Por que eu sempre destruía o que amava? Essa pergunta me atormentava. Era como se eu estivesse preso em um ciclo de autossabotagem, incapaz de aceitar o amor que me era dado. Era mais fácil afastar as pessoas, manter uma distância emocional segura. Mas com Elena... eu não queria isso. Eu queria mudar, mas o medo de falhar, o medo de não ser suficiente, me paralisava.
Agora, vendo o quão frágil ela estava, percebi que não era apenas o orgulho que nos afastava. Era o medo. O medo de me abrir de verdade, de me mostrar vulnerável, de permitir que alguém visse as partes quebradas de mim que eu tentava esconder a todo custo. Elena merecia mais, e eu sabia disso. Mas será que eu poderia ser mais para ela?
Enquanto andava, me vi em frente à escola onde tudo começou. O lugar onde eu a vi pela primeira vez, onde nossos olhares se cruzaram, onde tudo era novo e excitante. Era estranho pensar que, apesar de tudo, eu ainda me lembrava dos momentos bons. Mas os ruins... esses eram difíceis de ignorar.
Parei por um momento, observando os alunos que chegavam, e me perguntei: "Será que ainda há tempo para consertar as cicatrizes que deixei em Elena?" Eu sabia que ela me amava, mas será que eu poderia ser o homem que ela precisava, ou seria melhor deixá-la ir, para que ela encontrasse alguém que não a machucasse da forma que eu machuquei?
Essas perguntas ecoavam na minha mente, mas ainda não tinha respostas. Talvez nunca tivesse.
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Cicatrizes Invisíveis.
FanficAlgumas feridas não são visíveis, mas são as que mais doem. Elena pensava que tinha tudo sob controle, até que o amor a levou por caminhos sombrios e traiçoeiros. Quando Alexander entrou em sua vida, ela não sabia que as marcas que ele deixaria não...