Cicatrizes Invisíveis.

Capítulo 32.

(Narrado por Elena)

Acordei naquela manhã com uma sensação de peso no peito. Mesmo depois do jantar surpresa que fiz para Alexander, eu ainda não conseguia tirar Gabriel da cabeça. Ele sempre parecia aparecer nos piores momentos, e a última coisa que eu queria era criar mais problemas. Mas, ao mesmo tempo, sabia que precisava continuar com minha vida, focar nos estudos, nas minhas provas, e, claro, no meu relacionamento com Alexander.

Levantei-me da cama devagar, sentindo meus pés tocarem o chão frio. O quarto estava silencioso, exceto pelo leve barulho dos carros passando lá fora. Fui até o banheiro, tomei uma ducha rápida, e, ao sair, me olhei no espelho por alguns segundos. Eu parecia cansada, talvez pela ansiedade constante. Afastei o pensamento e comecei a me arrumar. Escolhi uma roupa simples, jeans e uma camiseta confortável, mas com um toque de estilo para não parecer descuidada.

Ao descer as escadas, minha mãe já estava de saída. Ela sempre deixava o café da manhã pronto para mim. Peguei as torradas e algumas frutas que ela havia deixado sobre a mesa, mas mal sentia o gosto. Minha mente estava longe, antecipando o dia que estava por vir.

Assim que cheguei à escola, fui direto para a sala de aula. Eu estava tentando evitar qualquer contato desnecessário, especialmente com Gabriel. Sabia que, se o encontrasse, ele tentaria falar comigo de novo, e eu simplesmente não estava pronta para lidar com isso. Ao entrar na sala, vi Clara sentada na última fileira, acenei para ela e me sentei ao lado. Começamos a conversar sobre as provas e como as coisas estavam corridas.

No intervalo, fui até o pátio e, como eu temia, Gabriel estava me esperando. Ele veio em minha direção com aquele olhar insistente de sempre, tentando se aproximar.

— Elena, podemos falar? — ele disse, colocando a mão no meu braço de leve, tentando me parar enquanto eu passava.

Eu tentei me afastar, mas ele continuou a insistir.

— Gabriel, já falamos sobre isso. Eu não quero ter essa conversa agora. — Eu disse, me sentindo desconfortável com a proximidade dele.

Ele continuou insistindo, seu tom de voz ficando mais urgente.

— Você precisa me ouvir, eu só quero esclarecer as coisas. Não acho justo o que você está fazendo.

Meu corpo ficou tenso, e senti meu coração acelerar. Não gostava de ser pressionada daquela maneira, especialmente quando já tinha deixado claro que não queria mais conversar sobre o assunto. Antes que eu pudesse responder, vi Alexander ao longe, observando a cena. Seus olhos rapidamente se fixaram em Gabriel, e eu sabia que aquilo não acabaria bem.

Alexander veio em minha direção com passos rápidos, seu rosto já demonstrando irritação. Sem hesitar, ele se aproximou de Gabriel, ficando entre nós dois.

— O que você acha que está fazendo, Gabriel? — Alexander perguntou com a voz baixa, mas cheia de raiva.

Gabriel ergueu as mãos em um gesto defensivo.

— Só estou tentando conversar com a Elena. Não é nada demais.

— Parece que ela não quer falar com você. Então, acho que é melhor você deixar ela em paz. — Alexander respondeu, cruzando os braços, ainda firme na sua posição.

Senti o clima entre eles esquentar, e antes que as coisas piorassem, Clara apareceu do nada, como sempre, pronta para colocar ordem.

— Chega disso, Gabriel! — Clara disse, puxando Gabriel pelo braço,⁸ afastando-o de Alexander. — Não adianta ficar insistindo. Ela já disse o que precisava. Pa⁸ra de causar confusão!

Gabriel olhou para Clara com irritação, mas pareceu perceber que não adiantaria continuar. Ele se afastou, balançando a cabeça, visivelmente frustrado.

Eu soltei um suspiro de alívio quando ele se afastou. Alexander olhou para mim e passou a mão pelo meu ombro, tentando me acalmar.

— Você está bem? — ele perguntou, a raiva em seu rosto suavizando um pouco.

Eu apenas assenti, tentando disfarçar o desconforto que aquela situação havia causado. Clara olhou para mim, preocupada, e eu sabia que ela estava do meu lado, como sempre.

O resto do dia passou de maneira mais tranquila, mas eu não conseguia esquecer o que havia acontecido no intervalo.

(Narrado por Alexander)

Eu nunca fui de perder a paciência tão facilmente, mas ver Gabriel tentando se aproximar de Elena, mesmo depois de tudo que ela havia dito, me deixou à beira de um ataque. Aquela cena no pátio me fez sentir que eu estava perdendo o controle da situação, algo que odeio. Ver Gabriel tocando no braço dela e insistindo em uma conversa que ela claramente não queria ter me encheu de raiva.

Enquanto Clara levava Gabriel embora, tentei me acalmar. Respirei fundo e olhei para Elena. Ela parecia cansada, como se essa situação estivesse drenando toda a energia dela, e eu sabia que era verdade. Ela já havia passado por tanta coisa, e agora ainda tinha que lidar com o Gabriel aparecendo do nada.

— Vou levar você para casa depois da aula — disse para Elena, minha voz mais suave dessa vez.

Ela apenas assentiu, sem dizer nada, mas eu sabia que ela estava aliviada por eu estar ao lado dela. E eu faria o que fosse necessário para protegê-la. Sempre fui assim, mesmo que às vezes fosse teimoso e orgulhoso demais para admitir.

Ao longo do dia, minha cabeça não parava de girar. Passei o restante das aulas com a mente a mil. A cena do pátio ficava se repetindo na minha cabeça, e cada vez que eu pensava nisso, sentia a raiva subindo de novo. Eu sabia que Gabriel estava querendo mais do que apenas uma conversa com Elena, e isso me irritava ainda mais. Não era só ciúmes. Era a sensação de que ele não respeitava o nosso relacionamento.

Assim que a aula terminou, peguei minhas coisas e fui direto para o treino de futebol. Precisava de algo para me distrair, e correr no campo sempre me ajudava a canalizar a raiva. Enquanto treinava, não conseguia parar de pensar em Elena.