Capítulo 25.

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(Narrado por Elena)

Sentada no café com Alexander à minha frente, eu sentia o peso de cada palavra que queria dizer. Sabia que o que estava prestes a propor era delicado. Durante semanas, observei o abismo entre nós crescer — sua distância emocional, o vazio que sentia quando estávamos juntos, mas nunca completamente conectados. E mais do que isso, o que mais me assustava era o impacto que isso estava tendo em mim. Eu não conseguia mais ignorar a sensação sufocante que me acompanhava todos os dias. Estava claro que precisávamos de ajuda, de um espaço neutro onde pudéssemos desabafar e entender o que estava nos afastando.

Respirei fundo e finalmente disse: 
-Alex, acho que precisamos de terapia. Eu sei que talvez não seja algo que você tenha considerado, mas estamos nos machucando demais e... eu não consigo mais lidar com isso sozinha. Precisamos entender o que está errado. Você não acha?

Alexander me olhou, claramente desconfortável com a ideia. Ele era orgulhoso, sempre fora, e admitir que precisava de ajuda não era algo natural para ele. Eu conseguia ver o conflito interno nos olhos dele, e o silêncio que se seguiu só aumentava minha ansiedade. Cada segundo parecia se estender enquanto eu esperava sua resposta.

Finalmente, ele quebrou o silêncio com um suspiro pesado. 
-Eu... nunca pensei em fazer terapia antes, Elena. Não acho que eu precise. Mas, se você acha que isso pode ajudar... então, eu estou disposto a tentar.

Aquilo me surpreendeu. Não esperava que ele aceitasse tão facilmente. Talvez, no fundo, ele também soubesse que algo precisava mudar.

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(Narrado por Alexander)

( 1 semana depois)

A ideia de me sentar numa sala com um estranho e falar sobre meus sentimentos me deixava desconfortável. Sempre fui alguém que preferia lidar com meus problemas sozinho, fechando tudo dentro de mim. Admitir que havia algo errado entre mim e Elena já era difícil o suficiente. Mas ver a dor no rosto dela, e perceber que talvez eu estivesse contribuindo para isso, fez com que eu reconsiderasse.

Quando entramos na sala da psicóloga pela primeira vez, meu coração acelerou. A terapeuta era uma mulher de meia-idade, com olhos gentis e uma postura tranquila. Ela nos convidou a sentar em cadeiras opostas, e a sala, embora simples, irradiava uma sensação de conforto.

-Então, o que traz vocês aqui hoje? — ela perguntou, sua voz suave mas firme.

Elena foi a primeira a falar. Suas palavras fluíram como uma represa que finalmente se abriu. Ela falou sobre as brigas, sobre a sensação de distância, sobre a maneira como eu a fazia sentir insegura. Eu ouvia, mas era difícil encarar tudo isso. Dói saber que alguém que você ama está sofrendo por sua causa.

Depois que Elena terminou, a psicóloga se virou para mim. 
-E você, Alexander? Como se sente em relação ao que Elena disse?

Eu hesitei. -Eu... não sei. Não é como se eu quisesse magoá-la, sabe? Eu só... não sei lidar com algumas coisas. Às vezes, é como se eu estivesse preso. E eu não sei como resolver isso.

Ela assentiu, como se já tivesse ouvido essas palavras milhares de vezes antes. -Às vezes, sentimentos como os seus podem vir de experiências passadas. Pode ser útil explorar o que você está guardando e como isso afeta seu relacionamento com Elena.

As próximas sessões foram intensas. Ambos compartilhamos nossas dores, nossos medos. Para minha surpresa, a terapia começou a revelar coisas que eu nem sabia que estavam lá — coisas da minha infância, da relação difícil com minha mãe e o comportamento passivo do meu padrasto. Eu comecei a entender que parte da minha frieza e resistência vinha desses exemplos, e o que estava acontecendo com Elena era um reflexo disso.

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